Cinco anos depois, sumiço de bancário segue sem solução

CASO POTRICH

Cinco anos depois, sumiço de bancário segue sem solução

Jacir Potrich desapareceu em 13 de novembro de 2018, após retornar de uma pescaria. Corpo nunca foi encontrado e, sem provas, antigo processo que indiciava vizinho foi encerrado pela Justiça. Familiares e amigos recordam convívio e aguardam por desdobramentos

Cinco anos depois, sumiço de bancário segue sem solução
Condomínio onde Potrich residia e foi visto pela última vez, em 2018. Potrich nasceu e cresceu em Anta Gorda. Após morar no interior, passou a residir na cidade, onde atuava como bancário
Anta Gorda

Começo da noite de 13 de novembro de 2018. O bancário Jacir Potrich é visto pela última vez em Anta Gorda, cidade de pouco mais de 6 mil habitantes. Ele retornava de uma pescaria e seguia em direção ao quiosque do condomínio onde residia. Desde então, está desaparecido. Trata-se de um dos casos policiais mais emblemáticos da região, que completa cinco anos nesta segunda-feira.

O “caso Potrich”, como ficou conhecido, dominou as rodas de conversa e também as páginas policiais nos meses seguintes. Polícia Civil, Brigada Militar e Bombeiros, bem como familiares e amigos fizeram incontáveis buscas na tentativa de encontrá-lo. Em vão. Inquéritos foram abertos e um homem, vizinho de Potrich, foi denunciado pelo Ministério Público.

No entanto, em maio de 2020, em meio aos primeiros meses da pandemia de covid-19, o único suspeito apontado pela investigação – que chegou até a ser preso preventivamente em duas oportunidades – foi absolvido pela Justiça após o arquivamento do processo. Ou seja, é um caso ainda sem solução. E, para a família, uma dor que permanece. Uma ferida não cicatrizada.

Cerca de sete meses após desaparecimento, caminhada pelas ruas de Anta Gorda comoveu a comunidade. (Foto:Divulgação)

Cinco anos depois, o mistério em torno do desaparecimento de Potrich deixou de ser assunto na cidade. Poucas pessoas optam por se manifestar. Familiares e amigos, no entanto, guardam na memória a trajetória do bancário, uma personalidade conhecida em Anta Gorda. À época do caso, era gerente da agência local do Sicredi Região dos Vales.

“Era um homem humilde”

Valmir Mucelin trabalha há cerca de dez anos no Cemitério Municipal de Anta Gorda. Primo da esposa de Potrich, Adriane, também tinha boa relação com o bancário. Os dois frequentemente conversavam quando se cruzavam pelas ruas da pequena cidade.

“Ele era muito amigo. Brincava, dava risada. Nos cumprimentávamos de longe, pois estava por todos os lugares”, recorda Mucelin, que não sabe dizer o que pode ter ocorrido com Potrich. “Ele Era um homem humilde, justo e sério. Fazia sempre as coisas certas”.

Gosto pelo interior

Irmão mais velho, Neri recorda o gosto de Jacir Potrich pela vida no campo. (Foto: HENRIQUE PEDERSINI)

Potrich cresceu junto da família na localidade de São José Arossi, interior de Anta Gorda. Saiu para residir na área central da cidade, mas sempre manteve forte ligação com o interior. “Gostava muito de ovelha e galinha. Tinha um pedaço de terra”, recorda o irmão mais velho, Neri Potrich.

Conforme ele, o bancário mantinha o costume de visitá-lo todo fim de semana. As vezes, aparecia também em dias de semana. “Nós nos dávamos muito bem, pois eu praticamente criei o Jacir, desde pequeno. Vinha com as caixas de abelha dele”, recorda.

Questionado sobre o desaparecimento do irmão, Neri comenta que, hoje em dia, poucas pessoas perguntam ou comentam sobre o caso. “Acho que esqueceram, ou estão com medo. Não tenho mais esperança de achar (o corpo). Pode até se ter uma resposta do que ocorreu, mas é difícil. A coisa foi muito bem feita”.

Sem provas

Após a extinção do processo, Polícia Civil e Ministério Público seguiram colhendo informações sobre o desaparecimento de Potrich. Porém, esbarram na falta de provas que possam levar a um novo indiciamento. Diversas possibilidades já foram investigadas neste período, sem avanços.

O vizinho de Potrich, que foi acusado por Polícia e MP de ter executado-o, chegou a ser preso duas vezes num intervalo de três meses. Na primeira, estava em Capão da Canoa e ficou quase uma semana detido, até a defesa conseguir o habeas corpus. Na segunda, ficou apenas um dia. Hoje, ele reside em Arvorezinha.

Procurada, a 24ª Delegacia de Polícia Regional do Interior, com sede em Soledade, informa que a decisão judicial foi pelo arquivamento do processo. Dessa forma, a reabertura para investigação depende da liberação pela Justiça e, para isso, será necessária uma prova nova.

A delegada responsável, Fabiane Bittencourt, está na função há quase cinco anos e comandou a maior parte da investigação. Já a promotoria de Encantado – que atende Anta Gorda – à época estava sob o comando de André Prediger, hoje promotor de Justiça em Taquari.

Desaparecimento, denúncias, prisões e arquivamento

  • 13 de novembro de 2018 – Jacir Potrich desaparece após retornar de uma pescaria. Ele limpava peixes no quiosque do condomínio onde residia. Iniciam buscas nas imediações. Família oferece recompensa de R$ 50 mil a quem encontrá-lo.
  • 23 de janeiro de 2019 – Em coletiva de imprensa, Polícia Civil aponta vizinho e antigo amigo como suspeito da morte e ocultação do cadáver de Potrich. Motivo seria uma desavença financeira com o bancário. Ele é preso em Capão da Canoa, durante período de férias.
  • 31 de janeiro de 2019 – Defesa entra com pedido de habeas corpus e suspeito do desaparecimento de Potrich é solto. No mesmo dia, delegado responsável pelas investigações, Guilherme Pacífico deixa o caso.
  • 1º de fevereiro de 2019 – Imagens da câmera de segurança do condomínio são divulgadas pelo Ministério Público. Nelas, o réu aparece com Potrich no quiosque por pouco mais de um minuto. Depois, em outra cena, ele usa uma vassoura para deslocar o equipamento ao que, para o MP, seria uma forma de facilitar a ocultação do corpo.
  • 11 de abril de 2019 – MP denuncia o vizinho por homicídio qualificado e ocultação de cadáver, além de pedir sua prisão preventiva. A Justiça acolhe a denúncia, mas mantém réu em liberdade. Promotor defende tese de que Potrich foi morto por asfixia em um minuto.
  • 25 de abril de 2019 – O réu é preso pela segunda vez, por supostamente ameaçar e perseguir familiares de Potrich. No dia seguinte, após a defesa conseguir habeas corpus, é solto novamente.
  • 9 de junho de 2019 – Missa com velório simbólico e caminhada marcaram os sete meses do desaparecimento de Jacir Potrich. Trajeto feito por família e amigos ocorreu até o portão do condomínio.
  • 30 de agosto de 2019 – Por falta de provas, Justiça tranca ação contra suspeito no caso Potrich. Ministério Público entra com recurso.
  • 11 de maio de 2020 – Após indeferir recurso do MP-RS, Superior Tribunal de Justiça encerra processo contra vizinho de Potrich. Promotor afirma que “um caso como este ficará sempre em aberto”.

Entrevista – Adriane Balestreri Potrich • esposa de jacir

“O caso não será esquecido”

Adriane Balestreri Potrich deixou Anta Gorda e o Vale do Taquari há cerca de um ano. Atualmente, reside em Capão da Canoa, mas ainda tem empreendimentos na cidade onde nasceu e viveu até 2022. Sobre os cinco anos sem resposta do que ocorreu com o marido Jacir Potrich, enfatiza o legado dele na comunidade e a esperança por respostas.

A Hora: São cinco anos do desaparecimento. Como tem sido esse período?

Adriane: Tem dias de luta e dias de glória. Nossos últimos tempos foram bastante decisivos para mim e a família. Tive que tomar a decisão de sair de Anta Gorda. Tomei essa decisão pois não conseguia mais viver lá, são muitas lembranças. Eu precisava sair desse ambiente para melhorar a saúde e ser suporte ao meu filho. Por isso resido em Capão da Canoa há quase um ano.

AH: Como é ver o legado deixado pelo seu marido quando você visita Anta Gorda?

Adriane: Eu chego em Anta Gorda e me dá uma aflição. Passo pelos locais que a gente convivia. Quando entro no Sicredi, a emoção fica ainda mais forte, pela relação que se tinha. Procuro me manter calma, mas isso mexe comigo e fico quebrada por dentro

AH: O fato de não ter uma investigação encaminhada ainda incomoda vocês?

Adriane: Para nós as coisas estão bem claras. A sensação é de impotência pela Justiça não ter sido feita. As vezes me revolto, porque não é possível que toda investigação não dê em nada. Fico triste em saber que pessoas se vendem e compactuam com uma mentira. Mas não está nas minhas mãos, está com Deus. A Justiça será feita lá.

AH: Vocês foram procurados pela polícia para dar andamento a investigação?

Adriane: Nós que procuramos. A cada três meses faço contato com a Polícia, pois o caso não está encerrado. O que o tribunal em Brasília fez foi tirar a queixa-crime do suspeito. Há ainda 15 anos antes de ser encerrado. Tem uma ponta solta nessa história. O caso não será esquecido. A polícia que tem a obrigação de fazer alguma coisa.

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