Preciso ser sincera. Um dos entrevistados na reportagem de hoje é meu amigo. Em minha defesa, explico: ele não foi entrevistado por ser meu amigo, o que me faria devolver meu recém conquistado diploma, mas por ser um excelente professor e já ter tirado nota mil no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). A nota máxima de Gabriel pode surpreender você, leitor, mas para mim é óbvia. O Gabi sempre teve um lado muito nerd.
Fomos colegas na EMEF Leo Joas, em Estrela, escola que era quase uma extensão de casa. Hoje o Gabriel termina os estudos em Porto Alegre e trabalha por lá. A última vez que o vi, depois de anos, foi no meio do caos da enchente. Uma mistura de “sinto muito” com “como é bom te ver”, que essa reportagem substituiu por 40 minutos no telefone falando sobre o que gostamos: entrevistas, escritas, aulas.
A conversa com o Gabriel me fez bem. E acredito que a mensagem que ficou pode ajudar os jovens que agora se despedem da escola. Deixar para trás a rotina com tudo estrategicamente pré-definido por um adulto é tentador, mas não é fácil. Nesse processo, você deixa também o recreio com os amigos e ainda precisa provar para si mesmo que vai ter sucesso na profissão que escolheu, se é que já conseguiu escolher alguma coisa.
Mas essa fase passa. Depois de alguns anos, pode ser que você reencontre um amigo justamente por cada um ter seguido o caminho que ousou trilhar. A adolescência é uma fase cheia de dúvidas e cada escolha parece ser definitiva. Spoiler: não é. Além do mais, há sempre uma essência pessoal que pode ser combinada com a prática profissional. Adultos chamam de propósito.
Por certo, nada vem fácil – e, uma vez que estamos no Brasil, para alguns tudo é mais difícil que para outros. O caminho é sinuoso, mas é preciso reconhecer quando algo dá certo. Sem isso a vida vira um eterno pagar-boletos-reclamar-das-escolhas-e-sofrer-de-ansiedade. As coisas acontecem, de um jeito ou de outro, do jeito que podem acontecer.
Hoje, uma parte do trabalho me faz recordar das outras partes que me trouxeram até aqui, como um quebra-cabeça que se encaixa, prestes a desencaixar para formar outra imagem, em um contínuo monta e desmonta. E parece que foi ontem que eu fiz o Enem.
Boa leitura!