Inviável. Essa é a resposta de representantes das empresas do Vale do Taquari frente às condições para acessar o crédito do Banco Nacional de Desenvolvimento Social e Econômico (BNDES) para negócios com faturamento de até R$ 300 milhões.
Em reunião nessa sexta-feira, a equipe do Fundo Garantidor de Investimentos (FGI) analisou as condições para liberação de R$ 1 bilhão para empreendimentos das mais de 90 cidades gaúchas com situação de calamidade homologada em setembro.
Os detalhes do encontro serão oficializados na próxima semana, quando o governo federal pretende apresentar a portaria e a regulamentação do crédito. Dois pontos estavam em aberto antes da audiência: o limite de recurso por CNPJ e a tarifa de juros.
Este último tema, conforme informações extraoficiais, seria de 1,75% ao mês. O que representa 21% ao ano. “É um percentual elevado. Algumas indústrias perderam R$ 50 milhões”, argumenta o presidente da Câmara da Indústria e Comércio da região (CIC-VT), Ivandro Rosa.
Em cima destes números, compara com o setor do agro. Nos negócios do BNDES com produtores rurais, o juros ao ano é de 6,5%. “Estamos falando de pelo menos 18 empresas da região que empregam mais de 8 mil pessoas.”
Por parte da interlocução federal no Vale do Taquari, há um movimento liderado pelo ministro-chefe da Secretaria de Comunicação da Presidência, Paulo Pimenta, para que esse percentual seja reduzido.
O governo federal prevê um aporte de R$ 100 milhões de subvenção junto ao BNDES como garantia às operações. Entre as definições, está a abertura para 47 instituições financeiras firmarem os contratos. Serão R$ 10 milhões por banco credenciado. Cada empresa que optar pelo crédito, poderá firmar contrato com mais de uma financiadora, na maioria, o critério é ter conta-corrente.
Preservar empregos e manter produção
Também de Encantado, a Lorenzon Plásticos ainda contabiliza os prejuízos após a enchente de setembro. Os dois prédios da empresa localizados na Rua Coronel Sobral, foram invadidos pela água e todos os ambientes da empresa ficaram danificados. A produção foi retomada parcialmente no início de outubro e agora está perto da normalidade.
Conforme o diretor César Lorenzon, a prioridade foi acelerar o reinício da produção, por isso algumas estruturas que sofreram avarias ainda não foram reerguidas. Apesar dos prejuízos, a empresa manteve o emprego dos 100 funcionários. “Confiamos na capacidade de superar as dificuldades, mas esperamos que as promessas de auxílio financeiro por parte dos órgãos públicos se concretizem, pois essa tragédia nos trouxe despesas fora do imaginado”, afirma.
Outra empresa na expectativa para ampliar o capital de giro neste momento de instabilidade é a Vinagres Prinz, de Lajeado. A empresa retomou os trabalhos faz 15 dias, com cerca de 80% das linhas em funcionamento. “Estamos mantendo todos os pagamentos com as economias. Precisamos postergar planos de ampliação”, diz uma das diretoras, Janaína Martinez.
Responsável pela parte de finanças, a diretora Jônia Keller, ressalta a importância de créditos diferenciados neste momento. “Não temos ideia do que tivemos de prejuízos. Perdemos computadores, máquinas, todos os documentos da empresa. O mais importante neste momento para estancarmos a sangria da empresa, seria o acesso a um crédito extra. Algo com mais prazo para pagarmos.”
Desemprego e suspensão de contratos
Pelos dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), as 20 cidades gaúchas em calamidade pelo decreto 57.197 do governo do Estado, lideram o número de vagas de trabalho formais encerradas em setembro.
Em todas, foram menos 1,8 mil postos com carteira assinada. Venâncio Aires tem o maior impacto, com 768. No entanto, a explicação é a sazonalidade da indústria de fumo.
Entre as cidades do Vale do Taquari, o destaque negativo é Encantado, com 186 vagas encerradas (confira quadro abaixo). “Esse número é o equivalente a duas empresas, a Carrer e a Quinta do Vale. Isso foi efeito direto da catástrofe”, afirma o presidente da Associação Comercial e Industrial da cidade (Aci-E), Álex Herold.
Caso os créditos demorem mais tempo, a tendência é de desligamentos, diz o sócio da Fontana S.A, Ângelo Fontana. “Conseguimos segurar dois meses. Agora estamos chegando em um período crítico.”
De acordo com ele, uma das medidas importantes neste momento é a suspensão dos contratos de trabalho. O governo federal sinalizou a possibilidade. Para tanto, empregadores e sindicatos precisam tratar das convenções coletivas.
Com recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) será possível suspender os contratos, sem perda de vínculo, por até cinco meses.
Já sobre as determinações do funcionamento dos financiamentos, estas devem estar prontas entre a segunda e a terceira semana de novembro. A meta é conseguir firmar os contratos entre o fim do mês e o início de dezembro para garantir acesso ao recurso antes do 5º dia útil.
Impacto da enchente no trabalho
Pelos dados do Caged, confira o número de postos de trabalho fechados nas cidades em calamidade no Vale.
Encantado: -186
Muçum: -106
Lajeado: -95
Roca Sales: -90
Arroio do Meio: -67
Estrela: -48
Bom Retiro do Sul: -27
Cruzeiro do Sul: -19
Taquari: -15
Total: 653 postos de trabalho fechados em setembro