No dia 25 deste mês, o Universitário completou 40 anos de criação. Com seu crescimento ligado a expansão da Univates, o bairro hoje desponta hoje como uma das áreas mais valorizadas da cidade. No entanto, questões relacionadas a infraestrutura ainda sem resolução colocam em xeque este momento e criam desafios para o futuro.
Obras de impacto são discutidas para solucionar gargalos da mobilidade urbana, não apenas de Lajeado, mas também regional. Uma delas é a construção de uma nova ponte sobre o rio Forqueta, ao lado da Ponte de Ferro. A estrutura seria uma alternativa ao fluxo pesado de veículos da ERS-130, na ligação com Arroio do Meio e municípios da parte alta do Vale.
Outra demanda antiga que está nos planos do Executivo é o alargamento da avenida Senador Alberto Pasqualini, importante conexão do Universitário com o Centro e também a primeira ligação por terra de Lajeado com Arroio do Meio. Hoje, o trecho que cruza o bairro é estreito e frequentemente apresenta problemas estruturais, com o surgimento de buracos na pista.
São intervenções planejadas para os próximos anos e que mexem com o cotidiano do bairro. E que, para especialistas, também exigirão adaptações do município no entorno, com investimentos em desapropriação de áreas e terrenos, abertura de novas ruas, construção de passeios públicos e melhorias em sinalização.
Limitações
Professor do curso de Arquitetura e Urbanismo da Univates e integrante do Comitê dos Bairros, Augusto Alves observa que não há sentido em fazer uma nova ponte sem projetar obras para melhorar o fluxo de veículos no entorno. Lembra que a Ponte de Ferro, hoje uma passagem alternativa para Arroio do Meio, funciona em mão única.
“Hoje você não consegue ter um fluxo significativo em horário de pico. E tendo uma nova ponte se cria um gargalo ainda maior, com mais veículos trafegando. Então é estratégico e fundamental que se faça, pelo menos o alargamento da Pasqualini, que é uma obra de bastante custo e impacto”, avalia.
Alves cita as desapropriações, com demolição de calçadas e recuos, além dos aterramentos feitos em virtude da construção de uma ponte, considerada onerosa. Porém, admite se tratar de uma obra com efeito positivo para a região.
“Ela é muito necessária, pois nós temos poucas conexões. Uma região tão populosa e importante não pode ter tão poucas ligações entre as cidades, entre esses grandes rios. Ficamos muito limitados e isso nos torna bastante vulneráveis caso aconteça, por exemplo, uma interrupção”.
Alternativas
Também professora do curso, Fernanda Antonio acredita que ambos os projetos devem ser objetos de um estudo aprofundado que englobe um olhar sistêmico sobre o tráfego de veículos de Lajeado e Arroio do Meio. Cita que existem empresas e laboratórios especializados que podem prestar consultoria e, inclusive, fazer simulações a partir da infraestrutura viária.
“Alternativas como um investimento em transporte coletivo eficiente e de qualidade, e infraestrutura para incentivar a mobilidade ativa também deveriam ser estudadas, afinal, se o transporte individual seguir como principal meio de deslocamento para a população é provável que mesmo as ampliações previstas logo não sejam suficientes para atender a demanda da região”, frisa.
Fernanda entende que devem ser pensados diferentes cenários e uma diversificação dos modais de transporte para a população. “De qualquer forma, considerando o alargamento da Pasqualini no Universitário, entendo que pedestres e ciclistas devem ser priorizados. Essa ampliação deve incluir espaço para passeios públicos com largura adequada e suficiente para arborização”.
Ajuste de traçado
Especialista em pontes, a engenheira civil e professora Rebeca Schmitz pontua que, hoje, não seriam necessárias grandes obras viárias caso a ponte seja construída ao lado da antiga estrutura de ferro. Porém, chama atenção para outros projetos que devem ser pensados e executados de forma conjunta à obra da travessia.
“Talvez necessite de um ajuste de traçado de via, para não gerar uma curva perigosa no acesso à ponte. Essa adequação é importante para não causar insegurança viária. E, quando falamos de ponte, falamos também de sinalização, drenagem, uma passagem para pedestres e, claro, todo o impacto ambiental. É um processo mais complexo do que muitas obras que temos por aí”, salienta.
Além disso, Rebeca sugere que a Pasqualini, antes de ser alargada, seja submetida a um estudo de tráfego para que se chegue ao melhor projeto possível de alargamento. “É uma das principais vias de Lajeado, que interliga diversos bairros até o Centro e possui trechos com quantidades diferentes de faixas”.
Projeto em segundo plano
Apresentado ao Estado em agosto deste ano, o projeto para construção da nova ponte sobre o Rio Forqueta saiu da lista de prioridades do governo gaúcho. Os municípios de Lajeado e Arroio do Meio pleiteavam o custeio compartilhado da obra entre os três entes. Agora, precisarão repensar a estratégia.
A infraestrutura, orçada em R$ 11,8 milhões, tem sua localização delimitada entre as divisas da Barra da Forqueta e do Universitário, conectando os dois bairros pela rua Marechal Floriano e avenida Alberto Pasqualini.
“O Estado está colocando dinheiro agora nas obras mais emergenciais em decorrência da enchente do Rio Taquari. Todos os esforços estão concentrados nisso. Por isso, não houve avanço no nosso projeto, mas vamos seguir lutando”, garante o vereador e engenheiro do município, Isidoro Fornari (PP).
Nova lei
– Com o aval do prefeito, o projeto de lei que abre possibilidade para alargamento de ruas e avenidas na cidade foi protocolado na câmara.
– Elaborada em conjunto com o Sindicato das Indústrias da Construção Civil (Sinduscom-VT), a proposta foi inspirada em legislações de outras cidades.
– Na prática, o projeto incentiva o proprietário de imóvel a destinar a faixa necessária à obra na via e, em troca, o autoriza a exercer, no seu lote ou em outro local, o direito de construir.
– Também pode usufruir de benefícios, como a isenção da incidência de contribuição de melhoria pelo alargamento, bem como do Imposto Predial Territorial Urbano (IPTU) da área remanescente por cinco anos.
– Uma das prioridades, caso a lei seja aprovada, será justamente o alargamento da avenida Senador Alberto Pasqualini, ainda que a definição das ruas ocorra por decreto municipal.