Guerra Santa ou terrorismo?

Opinião

Marcos Frank

Marcos Frank

Médico neurocirurgião

Colunista

Guerra Santa ou terrorismo?

“Guerra: um meio de conseguir com os dentes o que não se obteve com a língua.” Ambrose Bierce (1842-1914)

Após a morte de Maomé, o mundo islâmico se manteve relativamente unido através dos califados, uma forma monárquica de governo onde a autoridade de Maomé era substituída pela do Califa. Não havia separação entre religião e governo. As leis do império eram baseadas no Alcorão, o exemplo dado por Maomé e as decisões do próprio califa.

O califado Ominiada foi o segundo desses califados e teve sede em Damasco na Síria. Grandes guerreiros eles conquistaram o norte da África, a península Ibérica, a Ásia central e o Cáucaso. Embora tolerantes com minorias religiosas em seus domínios, os ominiadas eram expansionistas e abriram duas frentes com os cristãos: uma na Europa, onde conquistaram parte de Portugal e Espanha e outra com os cristãos bizantinos em Constantinopla.

Depois deles vieram os califados abássidas, que mudaram a capital de Damasco para Bagdá, uma opção para ficar próximo aos persas que os ajudaram a derrotar os ominíadas. Durante este período, o mundo islâmico se tornou um centro intelectual para ciência, filosofia, medicina e a educação enquanto o mundo cristão vivia as trevas da Idade Média.
Na sequência vieram os Fatimidas que se consideravam descendentes da filha de Maomé e logo depois os turcos seljúcidas que conquistaram Jerusalém dos fatimidas e muitas guerras depois, Constantinopla dos bizantinos.

Foi devido as conquistas desses turcos sunitas mais o pedido de ajuda do imperador Aleixo que o Ocidente se inflamou e resolveu pegar em armas e marchar para o Oriente médio e iniciar o que chamamos hoje de Cruzadas, a guerra santa dos cristãos. Entre os anos de 1095 até 1272 várias expedições cristãs foram enviadas a Jerusalém e adjacências até que foram derrotadas e expulsas.

Como reação a essas Cruzadas nasceu principalmente pelas mãos de Saladino, a noção de guerra santa islâmica, a jihad. No ocidente por outro lado, a religião foi perdendo força política e finalmente foi separada do estado após e por inspiração da revolução francesa.

Essa separação nunca foi bem aceita no mundo muçulmano e recentemente Paquistão e Egito produziram movimentos que transformariam o conceito de jihad no mundo moderno. As irmandades muçulmanas retomaram o ideal islâmico de unir religião e estado. Elas culpam o costume ocidental de separar a vida religiosa e a política pelo declínio da sociedade muçulmana e acreditam que isso só possa ser revertido com uma volta às tradições islâmicas.

O Hamas é uma ramificação do braço palestino da Irmandade Muçulmana, maior e mais antiga organização islâmica do Egito, com o duplo propósito de implementar uma luta armada contra Israel, liderada por sua ala militar e de oferecer programas de bem-estar social aos palestinos. O grupo venceu as eleições legislativas em 2006, derrotando o movimento rival Fatah, do presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP), Mahmoud Abbas.

O Fatah não aceitou o resultado, e, no ano seguinte, o Hamas tomou violentamente o controle de Gaza da ANP, que, por sua vez, segue governando a Cisjordânia. Desde então, militantes em Gaza travaram confrontos com Israel, que junto com o Egito mantém desde 2007 um bloqueio ao território para isolar o Hamas e pressioná-lo a interromper os ataques.

O Hamas seguiu com seus planos de destruição de Israel implementando o que se chama de guerra assimétrica: De um lado temos um exército fortemente armado e bem preparado, do outro lado não. Como o lado mais fraco seria aniquilado se atacasse frontalmente o inimigo mais forte, ele precisa necessariamente usar outras estratégias. O oriente médio é hoje palco desse tipo de guerra.

Acompanhe
nossas
redes sociais