A Mãe Natureza deveria estar no seu conselho

Opinião

Fernando Röhsig

Fernando Röhsig

Consultor empresarial

A Mãe Natureza deveria estar no seu conselho

Em setembro, durante evento do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa realizado na Inglaterra, pesquisadores do Departamento de Transformações Climáticas da Universidade de Cambridge voltaram a bater na tecla das mudanças climáticas, apresentando pesquisas científicas que apontam o aumento de 1,5°C na temperatura média do planeta até 2.040. Essa tendência já é percebida em diversos eventos meteorológicos, mas precisa ser revertida se quisermos evitar prejuízos econômicos e manter a viabilidade da vida humana.

Estas pesquisas estudaram o comportamento das temperaturas médias ao longo dos últimos 800 mil anos no planeta ao retirar amostras de gelo a 3,5 mil metros de profundidade, obtendo assim os registros das temperaturas ao longo desse tempo. Verificou-se que, a cada 11 mil anos, a temperatura repetia ciclos de aquecimento e depois resfriamento. O problema é que, após a Revolução Industrial (1.760), começou um ciclo de aumento das temperaturas.

O uso dos motores a vapor e combustão, que precisam da energia produzida a partir da queima de recursos fósseis como carvão, lenha, petróleo e gás para seu funcionamento, devolvem gás carbônico à atmosfera, causando o efeito estufa. E é este efeito estufa que impedirá um novo ciclo de resfriamento por impedir que o calor produzido na terra se dissipe adequadamente. Além disso, a população e a taxa de longevidade no mundo continuam aumentando, o que significa que o consumo de energia continuará subindo. Na matriz energética do planeta, 66% é obtida de matéria fóssil extraída da natureza – no Brasil, é 55%.

Para fazer recuar estes indicadores, precisamos trocar as fontes de energia da matriz energética atual para o uso de recursos naturais como água, sol e vento. São mecanismos que a natureza fornece, se renovam e podem ser utilizados sem causar grandes danos ao planeta. O problema é que fazer essa transição na matriz energética poderá levar mais de um século: imagine todas as empresas do mundo que hoje usam carvão ou petróleo, por exemplo, adaptarem sua produção. Diante da dificuldade e do tempo necessário para fazer esta troca, nos resta a opção, por enquanto, de preparar governos, empresas e comunidades para os riscos cada vez maiores de enfrentar eventos climáticos trágicos como enchentes, secas e ciclones.

Ao longo do tempo, a governança corporativa evoluiu para ampliar a relevância de determinados atores. Foi assim com os Acionistas (shareholders), depois com as partes interessadas (stakeholders) e agora, com a sigla ESG (Environment, Social and Governance), fazendo com que todas as partes interessadas pudessem ser minimamente consideradas nas decisões empresariais.

Agora, uma cadeira para a “Mãe Natureza” no Conselho faz muito sentido. Ela é a parte interessada mais importante em todas as decisões que precisamos tomar. Ela é lembrada na matriz de risco, nas ameaças e oportunidades, mas será que está realmente sendo ouvida e tendo seus sinais observados?

A responsabilidade por não respeitar a Mãe Natureza é de cada um de nós. O preço de não fazer nada já está sendo cobrado. E o valor final poderá ser o fim. O nosso fim.

Acompanhe
nossas
redes sociais