Só a cultura pode nos salvar

Opinião

Marcos Frank

Marcos Frank

Médico neurocirurgião

Colunista

Só a cultura pode nos salvar

Só o amor atua como fator civilizador, no sentido de ocasionar a mudança do egoísmo para o altruísmo.”
Sigmund Freud

Enquanto crescia o fantasma nazista pela Europa, o judeu Sigmund Freud trabalhava com afinco em “Análise terminável e interminável”. Cada vez menos entusiasmado com a psicanálise devido à resistência das pulsões inatas, da pulsão de morte e das deformações da personalidade ao tratamento psicanalítico, ele parecia esmorecer. Nem mesmo tentou disfarçar sua satisfação com a morte de Adler a quem odiara por longos vinte e cinco anos.

Os fatos andavam rápidos naquela louca Europa e em 12 de março de 1938 a Áustria era tomada pelas tropas nazistas e Freud foi imediatamente declarado inimigo do regime, tanto por sua origem judaica como por sua profissão de psicanalista. Muitas de suas obras foram queimadas e, inclusive, dois de seus filhos foram presos pela polícia nazista para serem interrogados. Aos 80 anos de idade e com câncer, o grande psicólogo teve que exilar-se em Londres para salvar a sua vida.

É a esse Freud que levaremos nossas questões.
Sendo um judeu criado na Áustria, como se sentiu com ascensão do nazismo?
“Minha cultura e minhas conquistas são alemãs. Intelectualmente considerei-me alemão até perceber que os preconceitos antissemitas iam aumentando na Alemanha e na Áustria. A partir daí, deixei de me considerar alemão. Prefiro definir-me como judeu.”
Por qual motivo os alemães aceitaram participar dessa loucura que foi o nazismo?
“Quem toma parte do delírio obviamente nunca o reconhece como tal.” (…) “Todos os impulsos mentais de um indivíduo podem ser enormemente aumentados por uma influência do grupo, tal como está.”
Por que razão as guerras são tão constantes?
“Em circunstâncias favoráveis, quando foram suprimidas as forças psíquicas contrárias que usualmente inibem tal agressão, ela também se expressa de modo espontâneo e revela o homem como uma besta selvagem à qual é alheia a consideração pela própria espécie.”
Mesmo em países pacíficos, por que razão os exércitos são tão necessários?
“Se a única razão pela qual não devemos matar nosso próximo é porque Deus proibiu e nos punirá severamente nesta vida e na vida futura, então quando descobrirmos que não existe Deus e que não precisamos temer seu castigo, certamente mataremos o próximo sem hesitação e certamente só poderemos ser impedidos de fazê-lo pela força terrena.” (…) “A tendência para a agressão é, uma disposição inata independente, instintiva no homem.”
Qual a causa de nosso sofrimento como humanos?
“São três as causas: O poder devastador e implacável das forças da natureza; a ameaça de deterioração e decadência que vem de nosso próprio corpo; e o sofrimento advindo das relações entre os humanos.”
O que fazer para ser feliz?

“Não há conselho que sirva para todos; cada um precisa experimentar por si próprio a maneira particular pela qual pode se tornar feliz. Os mais variados fatores farão valer seus direitos para lhe indicar o caminho de sua escolha. Trata-se de saber o quanto de satisfação real ele tem a esperar do mundo exterior, e até onde é levado a se tornar independente dele; por fim, também, de quanta força ele julga dispor para modificá-lo conforme seus desejos. (…) Existem duas maneiras de ser feliz nesta vida, uma é fazer-se de idiota e a outra sê-lo.”

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