A atividade circense já teve seu auge. As trupes eram festejadas ao chegar às cidades. Para quem gosta do tema, Lara Rocho escreveu sobre a trajetória da família de Albano Pereira, artista e proprietário de circo que atuou em Porto Alegre e em Rio Grande no final do século XIX. O livro se chama “Senhoras e senhores, com vocês: Albano Pereira, seus circos estáveis e… O magnífico Circo Praça” (Libretos/2020).
Fui em um, em Estrela, quando criança. Estava instalado na Rua Coronel Brito, pouco abaixo de onde, hoje, fica a Brigada Militar. Vi a Monga, mulher que se transformava em um revoltado símio, levando os expectadores de um escuro e apertado compartimento a saírem em disparada (busquem na internet). Fiquei de olhos fechados em todas as voltas da roda gigante. E o chapéu mexicano? Desisti ao ouvir uma professora comentar que uma criança espalhara vômito por todo o lugar.
Passado o tempo, formas de entretenimento mais novas foram tomando espaço, cinema e televisão especialmente. A palavra circo foi sendo cada vez mais empregada com sentidos pejorativos, da coisa mal feita, mal resolvida e confusa. Bastante utilizada para dar conta de explicar as atividades de alguns políticos e suas consequências ou justamente a falta dessas. É quase uma estrutura social, na qual o povo já não sabe exatamente se é a plateia ou se representa o palhaço – aqui também nome com sentido negativo, distante do antigo artista.
Durante as complicadas semanas para muitos flagelados no Vale do Taquari, vários nomes conhecidos da política local, regional, estadual e federal circularam pelos espaços atingidos. Vistoriar, ouvir, tudo isso pode fazer parte do seu trabalho, mas o que muitos deles apresentaram nas redes sociais, fazendo poses forçadas, musicando vídeos, antes pareceu um show – com objetivos políticos muito evidentes.
“É o que as pessoas querem”, alguns me disseram. Fiquei um tanto impressionado que “panis et circenses” ainda vigora tacitamente. Parece que esse tipo de “circo” que, de acordo com o pensador Guy Debord (1931-1994), poderíamos pensar em termos de espetacularização da política e da vida, ganhou impulso pelas plataformas virtuais.
Vejo um monte daquelas crianças em um grande chapéu mexicano. Saudades mesmo só da Monga, que botava todo mundo para correr.