O trauma da nossa geração

Opinião

Mateus Souza

Mateus Souza

Jornalista e colunista do caderno Lajeado - Um novo olhar sobre os bairros

O trauma da nossa geração

Lajeado

A enchente de 1941 está no imaginário da população. Quem não conhece alguém que vivenciou aquele período? Ouvimos de pais, tios, avós e de outras pessoas histórias relacionadas àquela que é a maior cheia da história do Rio Taquari. Uma situação que nunca iria se repetir, pensamos. Pois, 82 anos depois, vivenciamos a maior tragédia natural da história da nossa região. As águas alcançaram locais que nunca havíamos presenciado antes. Casas foram devastadas. Vidas foram perdidas. Uma catástrofe. As páginas mais tristes dos 132 anos de Lajeado foram escritas em setembro de 2023. Um trauma que vamos carregar por muitos anos.

Precisamos de um plano

Ao mesmo tempo em que lamentamos as perdas humanas e materiais, precisamos também reagir. Não podemos mais contar com suposições. Chega de negligência. Já passou da hora de Lajeado e região contarem com um plano de prevenção abrangente contra enchentes. Não sabemos quando episódios como este podem ocorrer novamente. Portanto, vamos seguir vigilantes. Cobrar de autoridades para que medidas e ações concretas sejam colocadas em prática. E, claro, nunca deixar cair no esquecimento.

A culpa?

Colegas do A Hora foram precisos em suas colunas veiculadas nas últimas semanas na edição impressa sobre a responsabilização da tragédia. Não é momento de caça às bruxas, mas, infelizmente, estamos sujeitos a novos eventos climáticos como esse. É possível, por meio de todo o aparato tecnológico existente, prever uma inundação deste porte. Para isso, basta investir e treinar. E se não houver investimentos maciços em prevenção, monitoramento e capacitação, já sabemos de quem será a culpa em uma eventual nova cheia. Não é?


Corrente do bem

Catástrofes costumam deixar lições. E ajudam a mostrar o melhor (e o pior) do ser humano. Neste tópico, no entanto, quero exaltar o que de mais positivo tivemos nas últimas semanas: a solidariedade. Uma mobilização sem precedentes em prol da nossa região. Em Lajeado, o Parque do Imigrante foi o ponto de encontro de milhares de pessoas, de todos os cantos da região e do RS. Todas com o mesmo objetivo de fazer o bem, de ajudar aqueles que mais necessitavam. Foram momentos marcantes. A população pegou juntou e isso faz toda a diferença.

Crédito: Mateus Souza


Papel da imprensa

“O trabalho de vocês ajudou a salvar vidas”. Eu e outros colegas ouvimos frases semelhantes com alguma frequência nos dias que sucederam a enchente. E isso, de certa forma, nos conforta. A imprensa regional (e aqui não falo somente do A Hora) prestou uma contribuição inestimável neste momento tão difícil. Com cidades sem energia elétrica e sinal de telefone e internet, o rádio era a única forma de comunicação disponível. Um serviço indispensável.

Crédito: Mateus Souza


DAS RUAS

– A enchente chegou em locais onde antes nunca havia alcançado em Lajeado. Ver a Benjamin Constant ser bloqueada em alguns pontos assustou muita gente. Afinal, trata-se da avenida mais importante da cidade. Nos bairros, no entanto, o cenário era ainda mais desolador. O Conservas ficou quase todo submerso.

– Agiu rápido o Executivo de Lajeado em garantir o aluguel social às famílias desabrigadas pela cheia. E a câmara de vereadores entendeu o recado. Aprovou o projeto de lei no mesmo dia em que deu entrada no Legislativo, e sem maiores delongas. Em horas como essa, todos precisam estar unidos em prol dos mais necessitados. Os termos “situação” e “oposição” ficam para depois.

– É de se destacar também o papel da Univates. Mais uma vez, mostra a importância de contarmos com uma universidade regional aqui no Vale. A atuação em diversas frentes, como a disponibilização de espaço para o QG do Exército e locação de salas de aula para o Colégio Castelinho são apenas uns entre tantos exemplos positivos.

– Nas comunidades, a solidariedade também foi uma marca presente. Associações de moradores de bairros que não foram atingidos se organizaram para ajudar as localidades mais impactadas. O ginásio da Cohab, por exemplo, serviu como ponto de arrecadação de doações. E o ginásio do Montanha abrigou dezenas de famílias desabrigadas pela enchente.

– O cronograma original do projeto “Lajeado – Um novo olhar sobre os bairros” será retomado em outubro, com o caderno temático sobre o bairro Universitário. Vamos reorganizar o calendário para contemplar todas as localidades até agosto de 2024.

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