Com o retorno da comitiva de ministros, secretários e com a confirmação de presença da primeira-dama, Janja da Silva, nesta quinta-feira, representantes dos sindicatos ligados aos agricultores familiares pretendem aproveitar a oportunidade para elevar a cobrança por medidas de socorro à cadeia produtiva do leite.
De janeiro a agosto, as importações de leite em pó da Argentina e do Uruguai aumentaram 154%. Como resultado, o valor pago para o produtor gaúcho despenca. “O cenário é negativo. Hoje, os preços não viabilizam nem o agricultor e nem as agroindústrias”, afirma o presidente Executivo da Dália Alimentos, Carlos Freitas.
A presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Teutônia e Westfália, Liane Backmann, reforça o quadro preocupante. “Sabemos que a equipe ministerial vem para tratar os danos da enchente. Ainda assim, vamos tentar uma audiência para explicar as dificuldades do setor leiteiro”, diz.
Estava marcado para hoje uma manifestação na fronteira do RS com o Uruguai. Os sindicatos e famílias campesinas pretendem fechar a ponte de Jaguarão em sinal de protesto contra a entrada excessiva do produto do Mercosul. “Remarcamos nossa mobilização pois queremos aproveitar esse encontro e mostrar o que está acontecendo no Vale do Taquari e também em outras partes do estado”, diz Liane.
De acordo com ela, a ideia é fazer o protesto na primeira quinzena de outubro. Com relação às medidas de amparo, acredita que houve avanços. Entre as quais, a revisão nas taxas para 29 produtos lácteos e a compra pela Companhia Nacional de Abastecimento de R$ 200 milhões para o Programa de Aquisição de Alimentos. A metade do valor foi autorizado para aplicação na Região Sul por meio de publicação do Diário Oficial da União.
Pagamento insuficiente
De acordo com a dirigente sindical, agricultores do Vale recebem entre R$ 2 até R$ 2,15 pelo litro do leite in natura. No entanto, o custo operacional é de no mínimo R$ 2,25. “Não há margem para ganho do produtor. Ele que trabalha todos os dias, sem direito a férias, sem fim de semana. Essa situação desestimula as famílias e ameaça toda a cadeia produtiva gaúcha.”
Uma das consequências é a desistência da atividade. Conforme dados da Emater/Ascar-RS, desde 2015 houve uma redução de 60,7% no número de propriedades dedicadas a atividade. “Sabemos que muitos pararam por falta de sucessão, também pelas exigências das normativas de qualidade. Ainda assim, a baixa remuneração é o principal.”
Conforme a Federação dos Sindicatos dos Trabalhadores na Agricultura (Fetag), para haver equilíbrio na cadeia produtiva gaúcha, é necessário que 60% da produção seja destinada para São Paulo, maior mercado consumidor do país.