A coordenação dos esforços dos Bombeiros, da Força Nacional e do Exército para atender os municípios atingidos pela maior catástrofe natural da história do RS ocorre na Univates. São mais de 200 servidores das forças de segurança acampados em prédios do Complexo Esportivo.
Junto com isso, a universidade e o governo do Estado finalizam o convênio para reinício das aulas para alunos do Colégio Presidente Castelo Branco, maior instituição da rede pública na região. A perspectiva é que os quase 900 estudantes usem as salas de aula a partir da próxima segunda-feira, 25.
Desde a instalação das bases operacionais, servidores da segurança planejam as ações dentro da Univates. Entre as estratégias estão as buscas por vítimas. A coordenação passa por três oficiais dos Bombeiros, responsáveis pela Logística, Planejamento e Operações.
O capitão Juvenal Schneider, responde pela organização dos equipamentos, materiais e recursos necessários para saídas. Também capitão, Emerson Ribeiro compila informações da inteligência, apura dados sobre relevos e pontos de interesse. Por fim, a capitã Catia Silveira estabelece as diretrizes das ações no campo.
“Atuamos de forma integrada. Tudo é debatido, pensado e definido com os três oficiais. Sempre elaboramos essa estratégia no fim da noite anterior. Assim a primeira equipe já tem orientação de quais os movimentos precisa cumprir”, diz Ribeiro.
O centro de comando lidera mais de 130 bombeiros no Vale do Taquari. “Hoje nossa principal dificuldade é a área de cobertura. Desde o primeiro ponto de inundação até a ligação do Taquari com o Rio Jacuí são 145 quilômetros”, destaca Schneider.
Há servidores vindos de diversos estados, a maioria de Santa Catarina, Paraná e Mato Grosso do Sul. Muitos deles com experiências em outras tragédias, como no Vale do Itajaí e em Brumadinho, Minas Gerais.
Seis dias sem encontrar vítimas
O rastro deixado pela enchente devastou áreas residenciais e fez com que locais de procura se tornassem depósitos de entulho. “Muito difícil fazer buscas nestas condições. Precisamos de máquinas, como retroescavadeiras, de botes e também equipes a pé”, conta a capitã Catia.
Também não há uma uniformidade nos pontos em que vítimas foram encontradas. “Algumas estavam a dez metros de onde foram vistas. Também encontramos uma vítima de Cruzeiro do Sul há mais de 60 quilômetros do ponto onde desapareceu.”
Para cobrir áreas maiores, as equipes contam com cães farejadores. Nos primeiros dias desta semana, o principal ponto de atenção fica em área do Rio Taquari na cidade de Colinas. Por meio de um sistema de GPS, é acompanhado em tempo real os movimentos das equipes fora da base. Os bombeiros também podem acrescentar informações. Todas são repassadas para o sistema digital de acompanhamento.
Com um mapa interconectado na plataforma Google Earth, são acrescentados detalhes de pontos visitados. Nestes alertas constam anotações sobre cada ponto, de onde foram encontrados corpos, ou mesmo de locais onde há sobrevoos de urubus.
“Estamos há seis dias sem encontrar nenhuma vítima. Nesta altura, é quase impossível achar alguém com vida. O trabalho tem sido exaustivo. Estamos concentrando muito esforço para dar fim à angústia dos familiares”, realça o capitão Schneider. Conforme a Defesa Civil, são pelo menos nove pessoas ainda desaparecidas.
Função comunitária
“Neste momento, o papel da Univates é de buscar formas de ajudar a comunidade regional”, diz a gerente da área de Relações Institucionais, Cintia Agostini. Em cima disso, também existe a conversa para uso do campus em Encantado por alunos da rede municipal.
Sobre as forças de segurança, todo o uso de recursos básicos, como água e luz, é por conta da universidade. Com relação às aulas, o acordo prevê uma divisão dos custos. “Ainda existe alguns acertos para serem feitos. O Estado sinalizou que enviará alguns mobiliários, também produtos de limpeza e que a mão de obra para esses serviços também será por parte do poder público.”
Em cima disso, o Estado se compromete com o transporte e a alimentação dos alunos. “Aguardamos algumas confirmações. Vamos dividir as despesas e garantir a infraestrutura para salas de aula, dos professores, direção e administrativo.”
Entre os pontos que precisam ser esclarecidos está o uso das dependências de laboratórios e para as aulas de Educação Física e de Artes. “Nosso intuito é ajudar com a retomada das aulas. Ao longo dos próximos dias acredito que tudo será definido”, diz Cintia.
Pela organização dos turnos, a manhã é o período de mais demanda. Serão necessárias pelo menos 24 salas de aula para 548 estudantes. O convênio debatido prevê o uso temporário das dependências da Univates até o fim do ano letivo deste ano. Período previsto para a reforma no primeiro andar do Castelinho, onde a água alcançou 6 metros.
Presença temporária não encerra ociosidade
Instituições de Ensino Superior do país convivem com taxas relevantes de desistências e ociosidade. Conforme o Censo da Educação, a taxa de matrículas trancadas dos acadêmicos pulou de 15% em 2017 para 56% em 2021 pelo país. A própria Univates modifica estratégias para que o uso das dependências sejam melhor aproveitadas.
Por mais que o movimento interno tenha aumentado após a tragédia, ele não significa o fim da ociosidade, explica Cintia. “É uma presença temporária e que não traz resultado para equilíbrio financeiro”, frisa.
Neste sentido, há dois convênios em vigor com estruturas de participação tanto na metodologia pedagógica quanto no uso do complexo educacional. A parceria com o Colégio Gustavo Adolfo e a locação por um ano para as aulas do Sesi enquanto ocorrem as obras na sede da entidade.