“Eu vi a oportunidade de ajudar, então não tive medo”

ABRE ASPAS

“Eu vi a oportunidade de ajudar, então não tive medo”

Euzebio Fumagali, 63, é aposentado e sempre morou no bairro Lajeadinho, em Encantado. Durante a enchente, foi responsável pelo resgate de cinco famílias da localidade. Nos mais de 60 anos em que convive na comunidade, ele ressalta que nada foi mais impressionante que a força da natureza durante aquela noite

“Eu vi a oportunidade de ajudar, então não tive medo”
Encantado

Estava em casa quando a água começou a subir?
Sim, quando percebi que a situação iria ficar bem séria, comecei a ajudar meus irmãos a mover o que tínhamos no porão e colocar no segundo andar. Só que a água não parava de subir e acabou por pegar todos os bens materiais. Na minha casa a água não alcança, então podia ter essa tranquilidade durante aquele momento.

E como fez para resgatar aquelas famílias?
A esposa de um vizinho me ligou e pediu para ir buscar o marido que morava perto do rio. Fui até lá de barco, ele não queria sair, mas a mulher e a filha insistiram bastante até que ele cedeu e voltou conosco. No percurso resgatei também um primo meu. Ele estava em um trator e me auxiliou com a iluminação para que eu conseguisse chegar até ele. Resgatei uma terneira durante o caminho também. Dali em diante começaram a me ligar para buscar mais pessoas que estavam ilhadas. No total, resgatei 10 pessoas.

O que foi mais marcante dessa enchente?
A altura que a água alcançou. Nunca presenciei algo semelhante. O volume e a velocidade com que chegaram não se compara a qualquer outra enchente que já tivemos. Me criei aqui, com cheias quase todo ano, mas foi muito fora do normal o que ocorreu no início do mês. Muita gente vai pensar em se mudar, residir em um local mais alto que não arrisque sofrer com um desastre desse nível. Só o tempo pode dizer se algo semelhante pode voltar a acontecer, mas dá para entender o medo das pessoas.

Por que se arriscou dessa forma com os resgates?
O conhecimento de saber que eu poderia ajudar alguém. Eu vi a oportunidade de auxiliar e me pediram para agir, então não tive medo, conhecia bem o lugar e como poderia proceder. Eu não corria risco, porque na minha casa a água não alcança, mas decidi que devia tentar fazer o máximo que podia por aquelas pessoas.

Passa a ver a vida de uma forma diferente depois de tudo isso que aconteceu?
É bem diferente. Retornar agora e ver tudo destruído, cidades que perderam tudo. Aqui em Encantado vemos quase tudo parado na esperança de conseguir retomar a normalidade. Roca Sales parece que terminou com o município e Muçum eu não cheguei a ir. Mas sim, não tem como ver as coisas da mesma forma após assistir todas as perdas que tivemos.

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