Para início de conversa, é preciso evitar a generalização. Há, sim, bons exemplos de planos de prevenção e contingência em certos redutos políticos do Vale do Taquari. Entretanto, e isso é fácil de comprovar, os agentes públicos responsáveis pela execução ou criação de políticas públicas não costumam priorizar a pauta sobre os riscos das enchentes. Tampouco os milhares de eleitores. É só verificar os requerimentos e discursos dos parlamentares, os planos de governo apresentados em 2020 – e disponíveis no site do TSE –, ou mesmo os raros investimentos em capacitação e modernização das equipes e serviços das Defesas Civis.
É fato. Uma considerável fatia das administrações e dos par- lamentos gaúchos e brasileiros sempre trabalhou de forma reativa com relação às cheias e enxurradas. O termo “evacuação” não costuma fazer parte do nosso vocabulário. É um verdadeiro tabu. Mas veja bem. Em anos anteriores, quando os prejuízos eram apenas estruturais e econômicos na região, a frágil pró-atividade coletiva passou ilesa pelo crivo do eleitor, do MP e da Justiça. Desta vez, com dezenas de mortos confirmados, e mesmo diante de uma sequência de fatos naturais e inéditos, a ausência de um plano proativo e robusto de prevenção pode ter um peso muito maior.
Dito isso, a construção coletiva de um plano proativo de prevenção às enchentes e catástrofes naturais precisa ser a prioridade número um da região. Muito além dos bilhões em prejuízos, não podemos jamais aceitar as mortes.
Fiscalização X Burocracia
Presidente do Tribunal de Contas do Estado (TCE), Alexandre Postal proferiu algumas palavras instigantes durante encontro com prefeitos da Associação dos Municípios do Vale do Rio Caí (Amvarc), realizado ontem, em São Sebastião do Caí. “O TCE não vai punir os prefeitos que fi zerem o que é necessário para reconstruir as cidades”, afirmou. É uma frase subjetiva. Afinal, o que é “necessário” para uns, pode não ser “adequado” às contas públicas. E com tantos milhões ou bilhões a chegar para o Vale do Taquari, não podemos pecar pelo excesso de subjetividade – já tivemos maus exemplos na pandemia. E muito menos travar nas “burrocracias”, é claro. O segredo, como quase tudo nesta vida, é a dose certa e um olhar sempre aguçado para o bom senso.
Nota técnica gera mal-estar
A nota técnica assinada por nove pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs) – após a tragédia – não é uma sentença final sobre as causas, consequências e eventuais culpados pela catástrofe gerada pela elevação do Rio Taquari. Mas é uma provocação e tanto. Em suma, os especialistas do Instituto de Pesquisas Hidráulicas da Ufrgs afirmam categoricamente que era possível prever, com 24 horas de antecedência, as dimensões da histórica enchente. Certos ou não, o fato é que a nota gerou mal-estar entre alguns agentes públicos das cidades mais atingidas.
Fake News em meio ao caos
Lamentavelmente, certas pessoas não respeitam o luto e até mesmo durante a pior tragédia da nossa história é preciso se atentar para as famigeradas fake news. Em âmbito regional, já foram ventilados falsos alertas de novas enchentes e falsos desencontros no momento de entregar e organizar donativos aos mais necessitados. Mas o fato mais pitoresco envolveu o prefeito de Encantado, Jonas Calvi (PSDB). O tucano foi vítima de uma falsa denúncia. Conforme mensagens compartilhadas nas redes sociais, ele estaria recebendo valores para ocultar nomes e números de mortos na cidade. Um completo absurdo. O gestor já realizou um Boletim de Ocorrência (BO). Mas o ideal mesmo é expor o nome – ou os nomes – de quem está por detrás desse triste movimento.
Tiro Curto
– Governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB) volta hoje à região para comandar uma reunião no gabinete de crise montado na prefeitura municipal de Encantado. Além dele, também participam o vice-governador, Gabriel Souza (MDB), e diversos secretários estaduais, municipais, prefeitos e representantes da BM, PC e Corpo de Bombeiros. O encontro inicia às 11h.
– Em Arroio do Meio, um vereador da base do governo alerta para uma repentina inflação no aluguel de algumas residências ainda desocupadas no município.
– Lajeado apresentou ao vice-governador um projeto de construção de casas pré-moldadas para as famílias atingidas pela catástrofe. Entre os diferenciais, a agilidade e velocidade na construção.
– O Pro_Move Lajeado realiza encontro no dia 26 de setembro para deba- ter, entre outras pautas, a “construção de oportunidades e análise dos desafios do ecossistema no cenário pós-catástrofe”. o evento inicia às 18h30min, na sede do Vibee Unimed.
– A Acil de Lajeado também realiza mapeamento dos prejuízos entre os associados. O mesmo é feito por outras associações comerciais e câmaras de dirigentes lojistas das cidades vizinhas impactadas.
– Aliás, muitos empresários já bateram e outros tantos ainda vão bater na porta de alguns agentes políticos que estão – ou não – lotados em cargos públicos. Eles querem explicações sobre determinadas cotas de inundação defi nidas pelas legislações municipais.
– Por meio de decreto, o governo de Encantado anuncia uma série de medidas para mitigar os efeitos das próximas enchentes. Entre essas, a criação de um Plano Municipal de Operação que prevê, entre outras ações, melhorias nos sistemas de alerta à população, “com utilização de diferentes alternativas de comunicação (telefone, celular, sirenes, alto-falantes e outros)”.
– Além disso, o prefeito encantadense suspendeu, por 180 dias, a análise e aprovação de projetos construtivos em áreas abaixo da cota 53. São medidas que antecedem a atualização do Plano Diretor.