Na quinta-feira passada, em meio a pior enchente dos últimos anos na região, a Coordenadoria Estadual de Proteção e Defesa Civil do Rio Grande do Sul completou 50 anos de fundação. No Vale do Taquari, porém, não houve celebração. As minguadas equipes estavam exaustas e poucos lembraram a importante data. Muitos servidores não dormiram entre quarta e sexta-feira. Em Estrela, um dos responsáveis sofreu com a hipoglicemia. Diante deste quadro, é essencial debater, aprimorar e melhor acompanhar o sistema no âmbito municipal.
A enchente da semana passada nos expôs ao caos. E comprovou que nossos sistemas de alerta e monitoramento avançaram, sim, mas ainda estão aquém da expectativa e da necessidade do cidadão. Acima de tudo, os mecanismos não são infalíveis. Foi a maior enchente em 64 anos. E mesmo com todos os recentes avanços, e mesmo com toda a tecnologia e a nossa expertise regional, as seis décadas foram insuficientes para nos protegermos de forma mais adequada contra as cheias do Rio Taquari. E essa insegurança também passa pelo desprezo à Defesa Civil.
Até poucos anos atrás, o serviço da Defesa Civil era praticamente um trabalho voluntário no âmbito municipal. Ainda hoje, muitos prefeitos optam pela nomeação de correligionários em detrimento aos profissionais técnicos ou especializados na área – em alguns casos, vice-prefeitos ou secretários incorporam o cargo. O mesmo costuma ocorrer no Setor de Trânsito. Nos últimos pleitos, a maioria dos candidatos não fez questão alguma de debater sobre o tema, mesmo quando provocados. Ora por desconhecimento, ora por desprezo, mesmo.
Não é essa a causa da tragédia. Foi um evento atípico, eu sei. Mas em nada ajuda descuidar do sistema. Com equipe reduzidíssima, e muitas vezes sem pessoas técnicas ou especializadas no comando, o sistema sofreu para receber, decifrar e retransmitir informações. Com equipe reduzidíssima, e muitas vezes sem pessoas especializadas no comando, o sistema não teve capacidade para cumprir à risca e a pleno os planos de contingência. À míngua, a Defesa Civil municipal fez o que pode diante das escolhas de quem a controla. Que sirva de lição!”
O texto acima está entre aspas por um motivo muito simples. Apesar da foto atual, o artigo foi publicado em julho de 2020, logo após a enchente que atingiu a cota de 27,39 metros em Lajeado. E eu achei pertinente republicá-lo. Aliás, eu poderia resgatar textos de outras enchentes, inundações e enxurradas registradas no Vale do Taquari. Não com o objetivo de apontar culpados, é claro. Mas, sim, com o intuito de atestar, mais uma vez, que muitos agentes – não todos – ainda não entenderam a importância de investir mais e melhor na Defesa Civil – municipal e regional – e nas ferramentas necessárias ao monitoramento.
Boas notícias!
idade da JBS também anuncia a permanência da estrutura e a retomada em breve das atividades no município de Roca Sales. Ontem, o diretor da empresa de calçados, Roberto Argenta, participou do programa Frente e Verso e afirmou que, apesar do prejuízo próximo a R$ 40 milhões, os serviços reiniciam em aproximadamente 60 dias. Já o frigorífico deve reiniciar a produção de forma gradual e a partir da próxima semana. E um dado importante. Só nestes dois empreendimentos, podemos calcular mais de três mil empregos diretos e indiretos. – Só uma curiosidade. Na manhã de domingo, Marcelo Caumo (PP) não recepcionou o presidente em exercício no desembarque em Lajeado, no campo da Univates. E eu explico. O gestor lajeadense foi inicialmente barrado por falta de comunicação. Após diálogos, ele garantiu acesso, mas não conseguiu liberação à vice-prefeita. Decidiu ir embora. Por fim, o necessário aperto de mão entre Caumo e Alckmin só ocorreu durante a coletiva de imprensa, à tarde. E ficou tudo em paz.
– Na enchente de julho de 2020, muitos lembram, o saudoso colega Adriano Mazzarino (in memorian) foi literalmente censurado no Facebook após gravar um vídeo/protesto em cima da ponte do Rio Taquari, entre Lajeado e Estrela. Na ocasião, ele cobrava de forma veemente a presença do então Ministro da Cidadania do governo de Jair Bolsonaro, Ônix Lorenzoni.
– Além de manter viva a ousadia e a coragem do saudoso jornalista Adriano Mazzarino, a lembrança acima tem um propósito bem específico: refrescar a memória de quem insiste em politizar a maior catástrofe da história do Vale do Taquari, e botar uma pá de cal neste assunto.
– Em tempo. O anúncio de R$ 741 milhões para todas as mais de 80 cidades gaúchas atingidas pelo ciclone é um alento e tanto. Mas é pouco ao Vale do Taquari. O nosso prejuízo é de bilhões. Aguardemos!
– Menos mal que uma parte do Palácio Piratini se instalou em Encantado. A presença do vice-governador Gabriel Souza na região será muito importante para acelerar a vinda dos recursos.
Um “presidente” no Vale
Não era o presidente titular, todos sabem. E o peso de Geraldo Alckmin (PSB) é muito menor do que o peso de Lula (PT). Mas, e isso é uma opinião compartilhada entre determinados agentes públicos e privados do Vale do Taquari, talvez tenha sido bem melhor assim. Mesmo distante da região, Lula foi hostilizado por muitos internautas em comentários diversos nas redes sociais. Por óbvio, tais críticas – e eu não quero entrar no mérito das críticas – seriam potencializadas e muito caso o presidente petista visitasse pessoalmente a região. Haveria, inclusive, a chance real de protestos e constrangimentos contra o chefe da nação. E isso certamente atrapalharia a necessária visita do governo federal às áreas mais atingidas. Ao fim de tudo, foi melhor receber o vice.
Desta vez, não saiu barato!
Em 11 de julho de 2020, a manchete principal desta coluna foi uma alusão à sorte. “Saiu Barato” era o título principal do artigo. E eu também preciso republicar parte do texto divulgado após a enchente registrada em meio à pandemia da covid-19. “Ao fim de tudo, saiu barato. Baratíssimo. O cenário em que muitas pessoas lutaram pela vida em meio à cheia é a prova da nossa falta de juízo. Inadmissível que tantas pessoas tenham passado por esse risco iminente de morte em pleno século 21. Com toda a tecnologia disponível Brasil e mundo afora, e com tantas formas manuais de medir e antecipar a velocidade e o tamanho das cheias, o nosso vale sofreu um verdadeiro “7×1” do Rio Taquari. E saiu barato!”. Desta vez, saiu caro demais. E já contabilizamos 45 mortos.