Vidas ceifadas e o aprendizado necessário

Opinião

Filipe Faleiro

Filipe Faleiro

Jornalista

Vidas ceifadas e o aprendizado necessário

Caminhar nas áreas atingidas, conversar sobre as angústias e relatar o sofrimento pelo qual passam as pessoas atingidas pela maior catástrofe natural da história do Rio Grande do Sul. No jornalismo, contar histórias é o pilar da profissão. Em cima disso, uma qualidade importante é jamais perder a capacidade de se emocionar, entender a dor, compartilhar sentimentos e se colocar no lugar do outro.

No parque do Imigrante, em Lajeado, a cada helicóptero que chegava com pessoas resgatadas, se via famílias em choque. Imagina só, por quantas horas essas pessoas esperaram? Elas vivenciaram situações críticas. Um pesadelo sem fim. Passaram frio, fome e muito medo.Esse trauma permanece na alma para sempre. Jamais poderemos apagar essas memórias. Precisamos, a partir de agora, ser muito mais vigilantes, para nunca mais perdermos vidas assim.

A natureza implacável cobra um preço alto. Talvez tenhamos subestimado a força dessa enchente. Talvez tenhamos ficados “moles” demais com as facilidades que a existência contemporânea nos proporciona. Quem sabe? De fato, há muitas pontas soltas. O saldo triste da enchente obriga um melhor preparo de todos.

Os sistemas de alerta

No Grupo A Hora, começamos o plantão da enchente ao meio-dia de segunda-feira. Naquele momento, a previsão era de uma cheia média, com perspectiva do rio chegar a 25 metros no Porto de Estrela.

As imagens vindas da parte norte do RS, de cidades com rios que fazem parte da bacia hidrográfica do Taquari, mostravam que o cenário seria muito complicado. Muitas das famílias que estão nos abrigos afirmam que desconheciam o risco de enchente.

Essa informação é relevante. Como pode, centenas de famílias não terem sido avisadas do risco em potencial? Claro que as rádios estavam dedicadas neste trabalho. Agora, houve passagem de carros de som pelas ruas? Houve um trabalho mais efetivo de avisos?

Medição do nível da água

Não foi uma simples cheia. A força da correnteza arrancou o que tinha pela frente. Trouxe, mais uma vez, o apagão de dados com relação ao comportamento das águas. Em Muçum, às 19h de segunda-feira, já não havia atualização sobre como estava o nível do rio.

Em Encantado, o instrumento eletrônico também sumiu. Restou a análise manual por um tempo. Quando superou os 25 metros no porto de Estrela ainda às 23h da segunda-feira, ficou claro que não se tratava de uma enchente como as outras.

A necessária previsibilidade foi falha. Isso, por si só, não seria suficiente para mitigar estragos nas estruturas. Mas, talvez, vidas poderiam ter sido salvas caso houvesse uma comunicação mais e controle mais assertivo.

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