O Vale do Taquari sofre com a segunda maior enchente já registrada na história. Desta vez, o nosso principal rio foi implacável e literalmente devastou cidades, bairros e localidades rurais. São dezenas de mortos, centenas de desaparecidos – ou incomunicáveis –, milhares de pessoas impactadas de forma direta ou indireta, e milhões (talvez bilhões) em prejuízos financeiros com a destruição de casas, estradas, pontes, lavouras, comércios e indústrias. A catástrofe devastou cenários e assolou a próspera região que, até então, celebrava com merecido orgulho o sucesso do Trem dos Vales, do Cristo Protetor, e, claro, do constante avanço econômico e social de uma região alimentada pela bravura dos trabalhadores e a ousadia das empresas. E de quem é a culpa?
A culpa é das réguas disponibilizadas pelo Serviço Geológico do Brasil (CPRM) para medir o leito do rio, e que travaram no início da manhã de terça-feira? A culpa é dos governos e os escassos investimentos na estruturação das Defesas Civis municipais? A culpa é dos moradores mais resistentes aos conselhos das autoridades? A culpa é de quem definiu as cotas responsáveis pela limitação – ou não – de edificações naquelas cidades atingidas? A culpa é de quem faz “vista grossa” aos aterros e desmatamentos realizados em áreas de preservação ou matas ciliares? A culpa é do El Niño, da umidade, e das já anunciadas temporadas de intensas chuvas no Rio Grande do Sul? Ou a culpa é da geografia do Vale do Taquari e suas montanhas e rios sinuosos?
Sim, caro leitor, a nossa natureza humana costuma buscar de forma incessante por um ou mais culpados a cada tragédia ou fato de maior gravidade. Um sentimento ainda mais natural diante das dezenas de corpos já encontrados em casas e escombros, ou em meio às vegetações ribeirinhas do nosso Vale do Taquari. Afinal, é difícil aceitar tantas perdas sem que existam um ou mais responsáveis. É compreensível, reforço. Mas não é simples. Estamos diante da maior tragédia natural da história do Rio Grande do Sul, e ainda não entendemos bem as causas e consequências. É possível, então, apontar para algum culpado? Ou é mais prudente aceitar que a catástrofe é resultado de uma sucessão de fatos difíceis de serem previstos ou mitigados pela raça humana?
Eu não tenho a resposta. É difícil apontar culpados pela maior tragédia da nossa história. É um julgamento que pode caminhar muito próximo à injustiça, e eu não me permito ser injusto neste momento de tanta dor e trauma. Mas, e após algumas boas prosas com especialistas da área, eu gostaria de compartilhar algumas sugestões de terceiros. Entre essas, o investimento significativo e coletivo em um sistema de monitoramento mais robusto – com alertas sonoros de emergência altos suficientes para chegar às regiões de maior risco –, a preocupação mais técnica na hora de escolher servidores e orçamentos às Defesas Civis, o maior respeito às regras e leis da natureza, e, por fim, uma política pública efetiva para garantir moradias dignas e fora das áreas alagáveis a todos.