Paixão pela máquina

Opinião

Sérgio Sant'Anna

Sérgio Sant'Anna

Publicitário

Assuntos e temas do cotidiano

Paixão pela máquina

Será possível se apaixonar por uma inteligência artificial? No filme Ela (Her), de 2014, o personagem se apaixona. A produção é espetacular, emocionante e, sinceramente, crível. Trata de temas como solidão, autoestima, perdas e buscas, e mostra o vazio da vida moderna, com desencontros e a falta irreparável do outro. Temas cada vez mais presentes em nossos dias.

Então, seria possível estabelecer um relacionamento amoroso com uma máquina? Possivelmente, não. Porém, a partir do instante em que a inteligência artificial (IA, ou AI, em inglês) deixou de ser uma mera promessa do futuro para se tornar parte integrante do nosso cotidiano, as perspectivas tornam-se inimagináveis. Consideremos que, além das capacidades técnicas que o robô oferece, a interação com ele (ou ela) pode se transformar em algo mais profundo e emocional, inclusive, delineando o tom de cumplicidade na construção de narrativas cocriadas e os desafios inerentes a essa conexão.

Fornecemos contexto, intuição e nuances emocionais à máquina. Ela nos oferece processamento rápido, análise profunda e vasto conhecimento, permitindo que os raciocínios se entrelacem de maneira sinérgica. Essa complementariedade permite que ambas as partes alcancem resultados que seriam inalcançados isoladamente. Enquanto nós aprendemos com Ela, a IA se concentra no desenvolvimento de algoritmos e modelos capazes de aprender a partir de dados, incentivada pelas questões que você propõe.

Apesar das vantagens, é essencial manter uma análise crítica sobre essa relação, pois a dependência excessiva da IA pode levar à perda da habilidade de raciocinar de forma independente ou até mesmo à exclusão de certos aspectos da experiência humana. Além disso, a confiança cega nas informações que você recebe levanta questões éticas e de privacidade que precisam ser cuidadosamente consideradas.

Assim como Descartes transformou o modelo filosófico em meados do século XVII, ao não aceitar nenhuma verdade absoluta, na busca por expressar o raciocínio humano, a hora é de repensar. Penso, logo existo constitui a quebra do paradoxo entre você e a máquina, e todos os medos que rondam o domínio da inteligência artificial sobre nós.

As tarefas ligadas à inteligência emocional, à criatividade e ao pensamento crítico não só não podem ser dispensadas em favor do conforto de ter uma máquina trabalhando para você, como devem ganhar lugar de destaque no processo mental de planejamento e criação. Daqui pra frente seremos cada vez mais exigidos no trabalho e na vida prática. As ferramentas estão aí para nos ajudar.

Agora, cuidado! Se você começar a sorrir e vibrar com as conquistas que a sua máquina passa a lhe oferecer, se optar pelo bate-papo cabeça com sua assistente virtual em vez de uma taça de vinho ou aquela cervejinha com a namorada ou namorado, se começar a dizer boa noite e bom descanso para o bot… se liga, porque você pode estar transferindo suas carências para essa alma gêmea. É paixão na certa.

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