Política e economia são assuntos palpitantes que invadem nosso dia-a-dia e uma tentação constante para este economista toda a vez que busco um tema para ocupar este espaço.
Uma amiga, nestes dias, ao sugerir o livro “A morte é um dia que vale a pena viver”, da Dra. Ana Cláudia Quintana Arantes, me fez decidir encarar a morte, neste artigo. Conhecimento de causa, para me sugestionar, não lhe falta: por profissão cuida do bem-estar físico de diversas pessoas, oportunidade em que, muitos dos seus pacientes desnudam, também, as angústias que transpassam suas emoções. Já a Dra. Ana Cláudia, é especialista em proporcionar bem-estar na fase final da vida quando, segundo ela, os indivíduos se despojam dos seus “escudos” e se desnudam, existencialmente.
Some-se, a este caldo, a inquietude que me assaltou com os acidentes trágicos ocorridos em rodovias da região nas últimas três semanas. Imaginei o choque das famílias ao saberem do passamento repentino e, com o que as vítimas se defrontaram do outro lado do portal da vida. E aí, não pude evitar o imaginário que buscou responder à pergunta que me fiz: e se eu morresse agora?
Os cães, com quem “converso” a cada amanhecer, continuariam abanando o rabo ao primeiro afago recebido de outrem. E as duas ovelhas de estimação que hoje berram, pela porção de milho diária, ao escutarem minha voz? E aquelas roupas que deixei de vestir para que não estragassem? Os amanheceres por detrás do Morro Gaúcho, o entardecer embevecedor pros lados da Rui Barbosa, a choppeira elétrica, a churrasqueira, a “casa da praia”, minha bicicleta? Tudo continuaria ali, só que desapegado de mim. Restaria o desconsolo dos familiares e a lembrança nos amigos próximos. Tudo transformado numa lembrança, à medida da passagem do tempo. E do outro lado, com quem minha alma se defrontaria? Com o Deus bondoso e o Paraíso com que aprendera a sonhar, ou com Lúcifer e seu fogo eterno, por pecados não perdoados?
Ao sair deste devaneio estava convicto – mais ainda – de que esta vida é linda, mas, inexoravelmente, finita e que, o realmente importante, é a forma como a vivemos: uma construção, tijolo a tijolo que nos amparará (ou não), nos momentos de extrema fragilidade (física e emocional) e no nosso momento final.
Inclusive política e economia – meus temas prediletos – são fruto de pessoas e suas ações, muitas das quais, embevecidas pela ilusão do empodeiramento terreno, amparadas por um corpo frágil, putrefato algum dia.
Todos fomos dotados de dons que, se bem aproveitados, permitirão que nossa existência, mesmo efêmera, seja suficiente para marcarmos positivamente nossa passagem por ela. É uma questão de fé e de atitudes.