“A advocacia é uma profissão bonita, mas exige vocação, apreço pelos estudos e seriedade”. A frase é de Nei Antonio Di Domenico, 77, fundador do escritório DB Advogados. “O profissional que não tiver seriedade no trato com o cliente, quebra a cara”, acrescenta o guaporense que, antes de fixar residência em Encantado, morou na cidade de Campo Erê, em Santa Catarina. Casado com Inês, pai de três filhas e avô de quatro netos, Nei lidera o escritório ao lado da colega Caroline Bozzetto, da secretária Rosangela Bratti Dalmoro, que lhe acompanha há 34 anos, e da estagiária Gabriela. “Abri o escritório em 1997 e até hoje estou peleando”, brinca. Cerca de três mil processos já passaram por suas mãos.
Nei nasceu em Linha Quarta, interior de Guaporé, e viveu uma infância humilde. Até os 15 anos trabalhou na roça, mas sempre com o sonho de sair de casa para estudar. As dificuldades financeiras da família, porém, tornavam esse desejo mais distante. Com a ajuda do padre Aldo Bortoncello, conhecido do pai, conseguiu uma bolsa para ingressar na antiga Escola Normal Rural Estrela da Manhã, em Estrela. O educandário formava professores para turmas do ensino primário. “Nunca vou esquecer o dia em que saí de casa pela primeira vez. Fui a cavalo até Guaporé. Chovia. Chorei o tempo todo. Embarquei no ônibus e fui para Estrela”, lembra Nei, que demorou para se adaptar à nova realidade. “Estranhei muito quando vi aquele dormitório coletivo, com uns 200 estudantes. Não dormi nada a primeira noite”.
Já formado, em 1964, ele retornou a terra natal para dar aula em pequenas escolas rurais. Em 1967, logo após concluir o curso de técnico em contabilidade, mudou-se para a cidade de Campo Erê (SC) para trabalhar em um escritório de contabilidade. “Só tinha uma rua, terra vermelha, casinhas de madeira espalhadas, não tinha dois mil habitantes. O dono do escritório me ofereceu 30% do faturamento e aceitei”, conta.
No início da década de 1970, ele e outros dois amigos enfrentavam 300 quilômetros de estrada de chão batido, de fusca amarelo, para cursar Ciências Econômicas na faculdade de Cruz Alta. As aulas eram às sextas e sábados. Logo que recebeu o diploma de economista, Nei emendou a graduação em Direito, na mesma instituição. Ao mesmo tempo, em 1978, veio para Encantado e continuou os estudos em Cruz Alta, até se formar em 1981. Durante um tempo, advogou para a empresa Covasa, depois trabalhou com o colega Décio Fachini até iniciar os atendimentos com escritório próprio.
A vida comunitária, de apoio às entidades, sempre esteve presente, desde os tempos de Campo Erê, onde foi professor e diretor de escola e até candidato a prefeito na época da sublegenda. “Cheguei a fazer sermão no lugar do padre”, revela. Em Encantado, Nei presidiu a ACI-E, o Clube Comercial e a OAB. Hoje também integra o conselho do Prodel.
No escritório, a rotina do advogado inicia às 8h e não tem hora para terminar. “Tenho orgulho da minha trajetória, mas estou começando a preparar minha saída, devagar. Vou ficar nessa mesa até que tiver lucidez e saúde para trabalhar. Quero chegar em um momento que posso me liberar mais, passar um fim de semana prolongado, viajar”, projeta.
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