Medo ou prazer?

Opinião

Marcos Frank

Marcos Frank

Médico neurocirurgião

Colunista

Medo ou prazer?

Existem duas formas básicas de controlar a sociedade, ou pela dor ou pelo prazer. Se olharmos o mundo atual iremos encontrar países onde o consumismo é estimulado e países onde o comportamento individual é controlado e a liberdade pode ser perdida por qualquer deslize.

Muitos livros foram escritos sobre o assunto, mas dois se destacam e sua leitura permanece atual:
Admirável Mundo Novo é um romance escrito por Aldous Huxley e publicado em 1932. A história se passa em Londres no ano 2540. Neste livro, a sociedade é controlada por um estado cientifico e totalitário. O amor, a família e as relações particulares são proibidas e vistas como indecentes. Os seres humanos são criados em laboratório, em quantidades necessárias, e condicionados desde a fecundação de acordo com a sua posição (Casta) na sociedade.

O sexo é estimulado desde a infância com brinquedos eróticos, e o lema era “todos são de todos”, era proibido ficar sozinho e quanto mais parceiros tinham mais bem vistos eram.

Quando sentiam tristeza usavam uma droga chamada Soma que servia para a fuga da realidade e que não provocava efeitos colaterais. Graças à ciência avançada não existiam pestes, doenças e as pessoas não envelheciam. A morte era vista como algo bonito pois como não existiam sentimentos, também não existia tristeza relacionada à morte.

Já o livro “1984”, escrito por George Orwell e publicado em 1949, é um dos livros mais famosos de todos os tempos. Trata-se de uma distopia que também se passa em Londres, no ano de 1984, retratando um regime totalitário no qual a população é vigiada constantemente. Na ficção criada por Orwell, existem inúmeros televisores monitorando a população, nenhum cidadão tem mais direito à privacidade.

O protagonista Winston Smith trabalha no Ministério da Verdade, é um dos funcionários responsáveis pela propaganda e reescrita do passado. Vindo da classe média-baixa, a sua função é reescrever os jornais e documentos antigos de modo a apoiar o partido no poder. O que não pode ser reescrito é destruído, essa é a maneira que o Estado encontra para manter-se no poder. Winston é membro do Partido Externo e detesta seu trabalho e o governo.

O governo é regido pelo Grande Irmão, um ditador e líder do Partido. Apesar de nunca ter sido visto pessoalmente, o Grande Irmão tudo vê e controla. No Estado já não existem leis e todos devem obedecer.

Nesses livros os autores expõem de forma genial seus pensamentos. Orwell temia aqueles que proibiam os livros. O que Huxley temia era que não haveria razão para proibir um livro, pois não haveria ninguém que quisesse ler um.

Orwell tinha medo aqueles que nos privariam de informações. Huxley temia aqueles que nos dariam tanta informação que seríamos reduzidos à passividade e ao egoísmo.

Orwell sabia que a verdade poderia ser escondida de nós. Huxley desconfiava que a verdade pudesse ser afogada em um mar de irrelevância.

Orwell tremia em pensar que nos tornaríamos uma cultura escrava. Huxley temia que nos tornássemos uma cultura trivial, preocupada com orgias e drogas.

Como Huxley observou em Admirável Mundo Novo Revisitado, os libertários civis e racionalistas que estão sempre alertas para se opor à tirania “falharam em levar em conta o apetite quase infinito do homem por distrações”. A sociedade crista ocidental que o diga.

“Em 1984”, acrescentou Huxley, “as pessoas são controladas infligindo dor. Em Admirável mundo novo, elas são controladas infligindo prazer.”

Resumindo, Orwell temia que aquilo que odiamos nos arruinasse. Huxley temia aquilo que amamos nos arruinasse.

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