Coisas da vida

Opinião

Ledi Giongo

Ledi Giongo

Secretária Executiva da Cooperativa Dália

Coisas da vida

Dias desses, recebi uma mensagem por e-mail, com alguns excertos de uma Dissertação Mestrado, de um psicólogo da USP, cuja escrita chamou minha atenção. Dizia ele: “Fingi ser gari por 8 anos e vivi como um ser invisível”. Dizia ainda, que ser “invisível” foi uma experiência triste, porque conviveu com a realidade de uma
percepção humana totalmente prejudicada e condicionada à divisãosocial do trabalho, onde se vê somente a função e não a pessoa.

Completamente ignorado pelos colegas da faculdade, que não o reconheceram, relata que, “descobri que um simples bom dia, que nunca recebi como gari, pode significar um sopro de vida, um sinal da própria existência”.

Parece que isso não é nenhuma novidade, pois a tese de que as pessoas valem pelo que têm e não pelo que são é bastante “idosa”, haja vista que, na atual conjuntura, quem não está bem-posicionado sob esse critério, vira uma mera sombra social. Mas, quando o assunto é abordado em uma dissertação de mestrado e a experiência vivida por alguém acostumado aos holofotes da vida, o assunto toma outra dimensão.

De fato, vivemos em um mundo dito “capitalista” (com todos os problemas envolvidos neste vocábulo) e, por extensão, consumista ao extremo. Por isso, a aparência é muito importante, tanto, que até os grandes golpistas se “disfarçam” de executivos e os crimes de colarinho branco viraram rotina. Ninguém desconfia das intenções de alguém bem-vestido e de aparência elegante. Para comprovar, basta que se responda com honestidade: você está diante de um júri popular e com duas opções de defesa, que você não conhece: um advogado de boa aparência, vestindo terno e gravata e outro, sem esse aprumo e com aparência desleixada: quem você escolheria? Nove entre dez, provavelmente escolherão o terno e a gravata, sem avaliar o conteúdo.

Esta, de fato, é a nossa realidade. Dura, seca, sem ressalvas. A primeira impressão é a que fica. O contrário é que surpreende… e por isso expressões como “que simples, nem parece um doutor” “olha só que normal, nem parece que é tão rico…” são tão comumente ouvidas por aí!

De tudo, fica, para quem, como eu, tem “uma doutora” na família, que as pessoas não mudam o caráter e o perfil ao se tornarem doutoras ou “a melhorarem de vida”. O que muda é a compreensão dos fatos e a maneira de encará-los. Mudam alguns conceitos, com certeza, mas essa mudança é evolutiva, ao longo dos tempos, e ocorre à medida que se conhece uma nova realidade ou se abre um leque de possibilidades.

Com muita propriedade, há muitos anos, o escritor/editor americano George Horace Lorimer (1867/1937) lembrou que ‘’É bom ter dinheiro e as coisas que o dinheiro pode comprar, mas é bom, também, verificar de vez em quando e se certificar que você não perdeu as coisas que o dinheiro não pode comprar.” E, noutra situação, sabiamente, lembrou: “A medida real da sua riqueza é quanto você valeria se perdesse todo o seu dinheiro.”

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