Escritores da região abrem caminhos para diversidade

Comportamento

Escritores da região abrem caminhos para diversidade

Movimento que resiste no Vale, as publicações independentes ultrapassam desafios e ganham espaço nas livrarias locais

Escritores da região abrem caminhos para diversidade
Proprietária da Libélula, Meire Brod é uma das únicas editoras independentes da região (Foto: Bibiana Faleiro)

Um antigo baú repleto de livros didáticos foi um dos primeiros contatos de Jandiro Adriano Koch com o mundo da literatura. As bibliotecas das escolas por onde passou também despertavam a atenção da criança que hoje é um dos mais expressivos nomes do cenário literário da região.

No ano passado, foram dois prêmios Açorianos pelo mesmo livro, “O crush de Álvares de Azevedo”, publicado em 2020, pela Editora Libretos. Agora, trabalha no lançamento da obra “O gaúcho era gay? Mas bah!”, um longo apanhado, com pesquisas em arquivos, sobre as dissidências sexuais e a forma como foram narradas ao longo da história do Rio Grande do Sul, entre 1737 e 1939.

Natural de Estrela, Jandiro já publicou sete livros. “Meus temas fogem daquilo que o público leitor majoritário gostaria de ler. Amenidades, autoajuda, senso comum, temas já explorados e romantizados não me convencem a gastar meu tempo”, pontua.

Para ele, muitas produções feitas no Vale começam a ganhar um espaço que não tinham anos atrás. “Ao mesmo tempo, não há um mercado considerável para esses produtos”. Entre as dificuldades, cita a ausência de boas editoras no interior do estado. “A exceção, na nossa região, é a Libélula Editorial, comandada pela Meire Brod, que tem mostrado resultados promissores e responsabilidade com seus clientes”, avalia.

Autores independentes

A Libélula surgiu como um braço da agência de comunicação integrada Dobro, em funcionamento desde 2002. Com ênfase em projetos editoriais, já na própria agência, Meire se aventurava pela escrita de livros empresariais. O primeiro deles foi sobre a história da Certel.

“Escrever, pra mim, sempre foi um ideal. Tinha aquilo como meta de vida, me tornar escritora. E quando percebi que tinha essa possibilidade de unir a comunicação com a literatura, passei por uma mudança de carreira”.

Os novos caminhos começaram a ser trilhados em 2017, quando Meire tirou os planos da editora do papel.

Ela procurou uma nova publicação que pudesse marcar o início da empresa e, com as ferramentas e profissionais da área gráfica, textual e de diagramação, a Libélula tomou forma.
Hoje, são 15 obras publicadas com o selo da editora, entre poemas, romances e livros infantis, e a Libélula se consolida como uma das únicas editoras independentes do Vale do Taquari.

“A parte da editora tem me surpreendido. É raro uma semana que não tenha alguém me procurando para produzir um livro. Principalmente pessoas da região. Vejo como algo muito positivo”. Ela percebe a vontade das pessoas lerem e se autopublicarem e acredita que a divulgação pelas redes sociais incentiva o movimento.

Por outro lado, observa a dificuldade na distribuição e comercialização das obras, que competem com os best sellers nas prateleiras das livrarias. Mesmo assim, no boca a boca, a venda ocorre em grande escala. Um livro infantil lançado pela editora, por exemplo, recebeu uma nova tiragem devido à procura pela produção.

Outra iniciativa que ela coloca em prática nos próximos meses é um site de e-commerce da editora, para facilitar a aquisição dos livros.

Meire destaca que um dos fatores que desanima os escritores é o alto custo de impressão do material. Ela também acredita faltar na cidade um palco para os autores mostrarem seus trabalhos.

Enquanto isso, se dedica à clubes do livro para desempenhar esse papel. Entre eles, o Macabéa, um grupo de mulheres escritoras que leem autoras femininas, e o Cuca Interior, com um público diversificado, para falar sobre literatura.

Um Vale diversificado

A produção literária do Vale é vasta e aborda diferentes temas. Essa é a visão do presidente da Academia Literária do Vale do Taquari (Alivat), Marcos Bastiani. Para ele, a semelhança entre os escritores da região pode estar nas origens étnicas ou de formação cultural.

“Mas não percebo influência significativa do ponto de vista literário, o que é muito bom, pois revela diversidade de abordagens e prova que nem todo mundo toca na mesma “banda’”, afirma.

Conforme Bastiani, a Alivat foi criada em 2005, com o objetivo de congregar pessoas com interesses na leitura e escrita, trocar experiências e vivências na área literária. Desde então, percebe o aumento na quantidade e na qualidade de escritores da região.

Os livros, sejam romances, crônicas, contos ou poesias, têm se transformado em uma forma de elaborar e dividir diferentes ânsias, gostos e descobrimentos. Hoje, das 40 cadeiras disponíveis da academia, 38 estão ocupadas.

“A Alivat tende à pluralidade. Porém, como toda e qualquer entidade, necessita de esforços para sua existência, não só de seus integrantes, mas de todos que entendem a importância de grupos ou de pessoas que possam sair de si mesmos e contribuir de alguma forma, dentro de suas limitações, para manter bandeiras ao vento”, reitera.

Alternativas às publicações

Mas nem todos os escritores do Vale seguem os padrões. Jovem artista, Vinicius Quintaninha tem o pseudônimo em homenagem a Mário Quintana e se aventura pelos poeminhas em suas publicações.
Com as primeiras obras lançadas por uma editora portuguesa, o novo livro está disponível de forma gratuita para download nas redes sociais. Sem se preocupar com o financeiro, seu principal objetivo é colecionar leitores.

“Eu publiquei ele naquele esquema, pague se quiser, se gostar, e o quanto quiser. Mas o que quero é ser lido. Hoje, mais do que nunca, o escritor quer ser lido”. Na carreira, ele coleciona as obras: “Tristeza que dá inveja”, “No mínimo rir, no máximo chorar”, e “Quintando”.

 

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