O São Cristóvão já foi um dos locais mais pobres de Lajeado. A história do bairro começou com a instalação da antiga indústria de papel Pirahy, vinda do Rio de Janeiro, no início da década de 1950.
Naquele tempo, nem mesmo a BR-386 existia. Os grandes pavilhões da fábrica davam a impressão de progresso e começaram a atrair moradores e investimentos, nas imediações da atual Avenida Piraí.
O bairro iniciou com essas primeiras famílias operárias, muitas vindas do interior, que se instalaram ao redor da empresa, a maioria em casebres de madeira, com pouco menos de 25 metros quadrados. Ainda na década de 1950, a Companhia Souza Cruz comprou as instalações da fábrica. Da antiga indústria de papel, ficou o nome do bairro, naquele tempo, chamado de Piraí.
A zona rural de Lajeado
Nas décadas de 1950 e 1960, os moradores do Piraí caminhavam por entre as ruas enlameadas e sem calçamento, tendo como vista os potreiros e as plantações que dominavam a paisagem do bairro. Os vizinhos eram todos conhecidos, um espírito comunitário transformava o antigo São Cristóvão em um pedaço do interior, às margens da cidade.
A diversão era garantida pelos jogos de futebol no potreiro e pelos bailes. Um dos salões mais antigos era o Prediger, que funcionava nas imediações de onde hoje é a Tubétio. Mais tarde, com a construção das escolas, muitas reuniões dançantes ocorreram na Escola Otília Corrêa de Lima.
Abram alas para a 386
A principal rodovia que corta o Vale do Taquari começou a ser construída em 1960, no governo de Leonel Moura Brizola. As obras, no entanto, só chegaram em Lajeado no ano de 1962. Antigos moradores do bairro ainda recordam das explosões que abriram a nova estrada.
Wanda de Boer, 76, acompanhou as obras do quintal de casa, literalmente. A família dela se mudou para o São Cristóvão em 1957, quando Wanda tinha apenas 10 anos. “Foi meu tio quem escolheu a casa, ele queria ter certeza de que não pegaria enchente, então decidiu pelo bairro Piraí”, conta Wanda.
A casa não ficava somente a quilômetros do rio, como também no terreno que mais tarde seria transformado na BR-386. “Naquela época, só existia calçamento até onde hoje é o Desco. A estrada era de chão batido, nem água encanada tínhamos em casa, só um poço”, recorda.
Da infância no bairro, Wanda lembra da vez em que viu a fabricação de bolinhas de Natal. Na época, existia uma fábrica de cartonagem e enfeites natalinos próximo do que é hoje o Atacado Contini. “Lembro de ver eles soprando o vidro e mergulhando em um líquido prata, algumas bolinhas eram pintadas à mão”.
Era dia 31 de dezembro de 1962 quando uma tempestade irrompeu por Lajeado. “As obras da BR começaram antes de todos os moradores saírem da parte lindeira da rodovia. Naquele dia, uma nuvem de poeira voou pelo bairro Piraí. Dentro de casa, ficou quase dez centímetros de puro pó”. No ano seguinte, a família de Wanda se mudou para o Centro da cidade.
A antiga casa foi derrubada e o terreno foi transformado no trevo da BR-386. “Nos anos 1970, ainda era possível ver um coqueiro no meio do canteiro. Ele costumava ficar no pátio da nossa casa, fui eu quem plantei”.
Naquele dia, uma nuvem de poeira voou pelo bairro Piraí”
Wanda De Boer,
ex-moradora do São Cristóvão
Uma escola comunitária
A história do Colégio Gustavo Adolfo (GA) se confunde com as origens do São Cristóvão. No ano de 1962, a Comunidade Evangélica adquiriu uma área de terras para a construção de um Centro Social. Na época, as indústrias empregavam muitas mães, que não tinham com quem deixar os filhos.
Assim, surgiu a ideia de fundar um local para não só cuidar e ensinar essas crianças, como também prestar assistência médica à população. O Gustavo Adolfo foi uma das primeiras instituições de jardim de infância de todo o estado, inaugurado em 1967.
Os recursos para a construção da escola vieram de uma fundação da Suécia, intitulada Gustavo Adolfo. Em homenagem a isso, o educandário recebeu esse nome. O GA ficou muitos anos como escola primária, até que, na década de 1990, passou a oferecer Ensino Fundamental e Médio.
Quem acompanhou de perto essa transformação foi a ex-diretora Herta Essig Welzel, de 77 anos. A história de Herta com a instituição começou ainda nos anos 1960. “Meu primo, Alípio Scheuermann, era o diretor quando o Gustavo Adolfo foi inaugurado, em 1967. Na época, ele me chamou para dar aulas, mas acabei me mudando com o meu marido para outra cidade”, conta.
Herta se formou no magistério aos 19 anos. Em 1974, ela e o marido foram morar no São Cristóvão, construíram a casa que Herta ainda vive, na rua Miguel Tostes, a mesma da escola. “Aqui era tudo roça, com umas 4 ou 5 casas ao nosso redor. Na nossa terra ficava uma plantação de mandioca”.
As ruas eram todas de barro vermelho. Em dias de chuva, ela saía descalça de casa para levar os filhos à escola. “Era pura lama. Os ônibus atolavam, lembro dos professores empurrando os veículos”.
Professora no GA por quase vinte anos, Herta destaca o espírito comunitário que sustentou a escola por todos esses anos. “O GA surgiu nesse contexto. A comunidade olhou e pensou ‘Não queremos um bairro pobre’”.
O bairro da luz vermelha
O antigo Piraí era conhecido por ser mais do que um simples bairro operário. Por muitos anos, foi ali, na parte mais afastada, que funcionava a chamada “zona de meretrício” de Lajeado. Conforme o São Cristóvão foi se desenvolvendo, as “casas de luz vermelha” foram cada vez sendo mais empurradas para perto do Rio Forqueta.
Nos anos 1970, os primeiros alunos da Univates passavam em frente ao antigo estabelecimento antes de chegar no prédio um da universidade. Da janela dos ônibus, avistavam os carros estacionados e tentavam adivinhar os frequentadores.
A origem do nome São Cristóvão
Entre os locais mais emblemáticos na história do bairro, está um antigo salão de madeira, que abrigou a Paróquia São Cristóvão nos anos 1960. Essa estrutura já ficava onde hoje é a igreja.
Naquele tempo, além de sediar missas e bailes, o velho salão também servia de sala de aula para o antigo Grupo Escolar Piraí (hoje, a Emef Manuel Bandeira). A Paróquia São Cristóvão foi fundada em 1963, tendo como primeiro pároco o Frei Lucas Corbellini.
A origem do nome atual do bairro tem relação com a paróquia, conforme conta o livro “Assim nascemos”, escrito pelo Frei Dorvalino Fassini. Nos anos 1960, residiam no bairro muitos motoristas, inclusive algumas empresas de transporte. Como São Cristóvão é o santo dos motoristas, foi escolhido para ser padroeiro da nova paróquia e dar nome ao bairro. A instalação oficial da nova igreja e a posse do pároco ocorreu em 1964, com uma procissão de 126 veículos.
Primeiros anos do bairro
1952 – É instalada a empresa de papel Pirahy, apoiada pela Souza Cruz, que tinha interesse no papel para os maços de cigarro. A nova indústria começou a atrair moradores para o bairro;
1960 – Ocorre a primeira missa na Paróquia São Cristóvão e é comprado o primeiro ônibus da Ereno Dörr;
1962 – Tem início a construção da BR-386 em Lajeado, separando o bairro do centro da cidade;
1963 – É criada a Paróquia São Cristóvão. A festa de inauguração ocorre no ano seguinte;
1966 – É criada a Paróquia São Cristóvão. A festa de inauguração ocorre no ano seguinte;
1967 – O Colégio Gustavo Adolfo é inaugurado, na época, como um centro social que, além de escola primária, prestava assistência médica;
1971 – Criação da Apae, que funcionava em um chalé de madeira. Mais tarde foi erguido o prédio existente ainda hoje na Rua Washington Luiz;
1976 – Inauguração da Escola Érico Veríssimo, na época, no modelo de Escola Polivalente, que oferecia cursos técnicos para alunos da 5ª a 8ª série;
1978 – É inaugurado o Senai, chamado na época de Centro de Gemologia, voltado à área de profissionalização de joias e pedras preciosas.