O árbitro é o senhor  da partida

Opinião

Jeniffer Harth

Jeniffer Harth

Psicóloga, empresária e pós-graduada em Ciência Política

O árbitro é o senhor da partida

Não é raro ouvir por aí que uma das coisas que mais chama a atenção no rugby é o respeito ao árbitro, especialmente quando comparado ao futebol. É lei: todos os jogadores devem respeitar a autoridade do árbitro e não contestar suas decisões. E mais que uma lei, o árbitro de rugby tem poderes que o permite impor o respeito em campo.

Eu pretendo responder uma pergunta frequente: por que isso é tão forte no rugby? O respeito ao árbitro é um aspecto cultural, obviamente enraizado em regras praticadas no esporte. Vou exemplificar algumas delas. O cartão amarelo, como todos sabem, é uma advertência ao jogador. No futebol normalmente os atletas xingam ou gesticulam para o árbitro, seguindo o jogo como se nada fosse. Já no rugby, o cartão amarelo resulta na penalização imediata do jogador, devendo ficar de fora da partida durante 10 minutos. Um atleta a menos em campo é uma desvantagem considerável, ainda mais dependendo de quem for o adversário. Em caso de xingamentos ofensivos e desrespeitosos ao árbitro, o cartão amarelo pode acabar em cartão vermelho, o atleta é expulso e fica de fora da próxima partida. Só aqui nesse ponto já fica bem claro que não existe meio termo, nem tolerância a atitudes desportivas.

O árbitro também tem o poder de reverter uma penalidade. Se o atleta da equipe em vantagem, não satisfeito, adota uma postura de enfrentamento ou ofensas, o árbitro pode reverter a situação a favor do adversário. Se for a torcida a desrespeitar uma decisão, gerando confusão, o árbitro ainda pode paralisar ou até finalizar a partida. Percebe como o árbitro tem o poder de fazer valer a ordem dentro e fora de campo?

Outra possibilidade é o árbitro agravar uma penalidade diante de uma situação de desrespeito. Ao marcar um penal, a equipe infratora deve recuar 10 metros, se porventura algum atleta insultar o árbitro, ele poderá impor o recuo de mais 10 metros à equipe do atleta infrator. Lembre-se que o rugby é um esporte de disputa de território, portanto essa penalidade pode ser decisiva contra a equipe, que será obrigada a recuar e dar espaço para o oponente avançar.

A autoridade do árbitro também fica explícita pelo fato de que somente os capitães podem abordá-lo, e ainda assim podem não ser ouvidos. Até mesmo a insistência desses atletas pode ser entendida como um desrespeito e resultar em cartão amarelo. Em contrapartida, os árbitros buscam pela transparência, geralmente explicando suas decisões. Inclusive em partidas internacionais os árbitros usam microfone para que suas explicações fiquem audíveis a todos os atletas e ao público.

Não é difícil perceber, portanto, que o respeito ao árbitro é inquestionável. Além de se esperar que o atleta o tenha como um valor de vida a ser praticado dentro de campo, as regras do esporte inibem situações incompatíveis com seus valores, sempre imputando à equipe infratora, uma desvantagem. Logo, jogar de acordo com essa premissa é também uma questão de estratégia e inteligência emocional. Na comunidade rugbista o respeito é um mandamento, e o árbitro é o senhor da partida.

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