Um crescimento de 8,8% em 12 anos. Este é o cenário regional a partir dos dados definitivos do Censo Demográfico 2022, divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Alta superior às marcas registradas pelo Rio Grande do Sul (0,14%) e do país (6,5%) no mesmo período.
O Vale do Taquari fechou 2022 com 372.380 habitantes no somatório dos 38 municípios, 33,1 mil a mais do que em 2010. Parte considerável desse desempenho se deve a Lajeado, que saltou de 71 mil para 93,4 mil moradores. O município mais populoso da região cresceu 31,1%.
Além de figurar entre as 20 cidades mais populosas do RS pela primeira vez, Lajeado foi a terceira em acréscimo populacional no período, com 22 mil novos moradores, atrás apenas de Caxias do Sul e Canoas.
Quando o assunto é variação, ficou em oitavo. À sua frente, apenas municípios do litoral norte e região metropolitana.
Na lista regional, uma novidade. Teutônia passou Estrela e surge como a segunda cidade com mais moradores no Vale. Cresceu 20% no período, enquanto o município-mãe registrou apenas 5%. Das seis maiores cidades, só Taquari teve queda populacional em comparação com a pesquisa anterior.
Ao todo, das 38 cidades do Vale, 20 perderam população em relação a 2010. Destes, chamam atenção as quedas expressivas de Boqueirão do Leão (-22,8%), Relvado (-16,7%) e Coqueiro Baixo (-15,6%). Sete municípios da região tem menos de 2 mil habitantes.
Maior responsabilidade
A vice-prefeita de Lajeado, Gláucia Schumacher, comenta que o município já tinha a expectativa de um crescimento exponencial, pela prévia dos dados divulgada recentemente. Para a gestora, o resultado final do Censo fortalece a concepção de que Lajeado é um dos destinos mais procurados do estado.
“Nos deixa orgulhosos, pois Lajeado é uma cidade pujante, que atrai muitas pessoas. E, ao mesmo tempo em que comemoramos esse número, sabemos que a responsabilidade do Poder Público aumenta, pois precisamos seguir oferecendo equipamentos e serviços públicos de qualidade para toda a população”, salienta.
Gláucia acredita que Lajeado logo passe da marca dos 100 mil habitantes e por isso, precisa estar pronta para o futuro. “Nós somos uma cidade grande mas ainda com características de cidade pequena do interior. O grande desafio é continuar crescendo sem perder a qualidade de vida”.
Tendência
Os dados definitivos do Censo, para a economista e doutora em desenvolvimento regional, Cintia Agostini, confirmam a tendência de cidades com características mais rurais perderem população. No Vale, das 20 que tiveram queda em 12 anos, a maior parte é dependente do setor primário. Questões como êxodo rural e problemas na sucessão nas propriedades influenciam.
“Nos municípios onde tem geração de emprego e renda, onde tem indústria, a migração é mais forte. As pessoas tendem a se mudar para esses locais. E no Vale, mesmo com essas cidades onde tivemos queda populacional, o crescimento foi muito acima da média estadual. Isso mostra que atraímos pessoas de outras regiões, estados e até de outros países”, pontua.
Ao se mudarem sobretudo para Lajeado, na avaliação de Cintia, as pessoas buscam a qualidade de vida que não encontram em grandes cidades. “Ela tem aqui todos os benefícios de um centro urbano, mas sem os prejuízos, como insegurança e dificuldade de acesso a políticas sociais. Podem trabalhar de forma remota e não enfrentam tantos problemas de mobilidade, por exemplo”.
Dificuldades na coleta
Finalizar a coleta do Censo não foi uma tarefa fácil para o IBGE. Na região de Lajeado, por exemplo, das 270 vagas para recenseador, apenas 150 foram preenchidas, segundo o coordenador regional do instituto, Paulo Hamester. Esse déficit, somado às recusas das pessoas em responder a pesquisa, dificultaram o trabalho de campo.
Lembra que, se avaliar o calendário inicial, o Censo durou três vezes mais do que o projetado. “Levamos o triplo de tempo para concluir as atividades. Sabíamos das dificuldades, mas não imaginei que seria tanto. A falta de pessoal certamente pesou bastante, assim como chegar nas casas. A população foi menos receptiva do que em coletas anteriores, sobretudo em Lajeado”, frisa.
Apesar dos problemas, o índice de resposta na região fechou em 98% – o mínimo permitido era 95% – o que é um fator positivo, para Hamester. O próximo passo é a divulgação detalhada do estudo, com informações sobre população urbana e rural, faixa etária, renda média e gênero.
Na Justiça
Enquanto algumas cidades comemoram o acréscimo populacional, outras não se conformam com o resultado divulgado pelo IBGE. Venâncio Aires, por exemplo, ficou com uma população – 68,6 mil habitantes – aquém do esperado, sobretudo pelo trabalho de busca ativa feito nos últimos meses, de pessoas que não haviam sido recenseadas.
Conforme a procuradora jurídica do município, Gisele Spies Chitolina, foram localizadas 2,5 mil pessoas nesta força-tarefa. No entanto, o IBGE não as considerou para os dados definitivos. “Não tem como dar credibilidade a este Censo. É por isso que vamos contestar esses números em todas as instâncias possíveis”, afirma.
A maior queixa de Venâncio Aires é com a queda nas receitas oriundas do Fundo de Participação dos Municípios (FPM). A cidade ficou com índice de 2,4, abaixo dos 2,6 alcançados anteriormente. Isso representa, conforme Gisele, uma queda de R$ 4,5 milhões anuais na arrecadação.
Os dois lados
Raquel Zambiasi é uma entre tantas pessoas que chegou a Lajeado na última década. Desde 2016 na cidade, ela sempre morou em Coqueiro Baixo, onde nasceu. Mas, após começar a estudar na Univates, recebeu proposta de estágio no Executivo e se mudou para finalizar a graduação.
“A ideia inicial era estudar em Porto Alegre, onde minha irmã residia na época. Mas, durante o ensino médio, percebemos que Lajeado, além de ser mais perto, seria uma ótima escolha pela questão de acessibilidade e alcance”, relata
Por outro lado, há indivíduos que procuraram a tranquilidade de municípios menores. Marcilene Teixeira Bonfilio já morou em São Paulo e Porto Alegre. Mas, desde 2019, reside em Coqueiro Baixo, cidade menos populosa da região e uma das menores do país.
“Conhecemos Coqueiro Baixo durante uma viagem de carro. Quando meu marido se aposentou, resolvemos que era hora de se mudar, detalha. Marcilene acrescenta que escolheu o local também pela oportunidade de conhecer melhor as pessoas e ter um melhor acesso à saúde e educação. Hoje, afirma que a cidade superou suas expectativas.
O Censo, os atrasos e as polêmicas
2020
Em meio à pandemia de covid-19, o IBGE optou por cancelar a coleta de dados do Censo, que estava previsto para aquele ano. O órgão seguiu orientações do Ministério da Saúde;
2021
Novamente o Censo é cancelado. Desta vez, a alegação foi a falta de verba no orçamento da União. A medida gerou críticas internas e também de especialistas pelo “apagão estatístico” que isso causaria;
2022
Tem início a coleta de dados em agosto. O levantamento deveria ter sido encerrado em outubro, mas uma série de dificuldades, como a recusa dos domicílios em receber agentes e a escassez de recenseadores levaram ao IBGE finalizar o trabalho de campo só em 2023;
2023
Após a divulgação preliminar dos dados do Censo, municípios como Venâncio Aires ingressaram na Justiça para reverter a perda de recursos do Fundo de Participação dos Municípios (FPM) devido à redução populacional e queda no índice.