Lajeado impulsiona crescimento  populacional acima da média no Vale

CENSO 2022

Lajeado impulsiona crescimento populacional acima da média no Vale

Município mais populoso ganhou 22,2 mil novos moradores em 12 anos e se destaca em rankings estaduais. Dados definitivos apontam alta de quase 9% na região, superior às marcas do RS e do país. Teutônia assume vice-liderança. Vinte cidades tiveram variação negativa

Lajeado impulsiona crescimento  populacional acima da média no Vale
Verticalização é um dos indícios do crescimento de Lajeado, com o surgimento de mais prédios nos últimos anos (Foto: Filipe Faleiro)

Um crescimento de 8,8% em 12 anos. Este é o cenário regional a partir dos dados definitivos do Censo Demográfico 2022, divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Alta superior às marcas registradas pelo Rio Grande do Sul (0,14%) e do país (6,5%) no mesmo período.

O Vale do Taquari fechou 2022 com 372.380 habitantes no somatório dos 38 municípios, 33,1 mil a mais do que em 2010. Parte considerável desse desempenho se deve a Lajeado, que saltou de 71 mil para 93,4 mil moradores. O município mais populoso da região cresceu 31,1%.

Além de figurar entre as 20 cidades mais populosas do RS pela primeira vez, Lajeado foi a terceira em acréscimo populacional no período, com 22 mil novos moradores, atrás apenas de Caxias do Sul e Canoas.

Quando o assunto é variação, ficou em oitavo. À sua frente, apenas municípios do litoral norte e região metropolitana.

Na lista regional, uma novidade. Teutônia passou Estrela e surge como a segunda cidade com mais moradores no Vale. Cresceu 20% no período, enquanto o município-mãe registrou apenas 5%. Das seis maiores cidades, só Taquari teve queda populacional em comparação com a pesquisa anterior.

Com 1,2 mil habitantes, Coqueiro Baixo figura entre as menores do país (Foto: Divulgação)

Ao todo, das 38 cidades do Vale, 20 perderam população em relação a 2010. Destes, chamam atenção as quedas expressivas de Boqueirão do Leão (-22,8%), Relvado (-16,7%) e Coqueiro Baixo (-15,6%). Sete municípios da região tem menos de 2 mil habitantes.

Maior responsabilidade

A vice-prefeita de Lajeado, Gláucia Schumacher, comenta que o município já tinha a expectativa de um crescimento exponencial, pela prévia dos dados divulgada recentemente. Para a gestora, o resultado final do Censo fortalece a concepção de que Lajeado é um dos destinos mais procurados do estado.

“Nos deixa orgulhosos, pois Lajeado é uma cidade pujante, que atrai muitas pessoas. E, ao mesmo tempo em que comemoramos esse número, sabemos que a responsabilidade do Poder Público aumenta, pois precisamos seguir oferecendo equipamentos e serviços públicos de qualidade para toda a população”, salienta.

Gláucia acredita que Lajeado logo passe da marca dos 100 mil habitantes e por isso, precisa estar pronta para o futuro. “Nós somos uma cidade grande mas ainda com características de cidade pequena do interior. O grande desafio é continuar crescendo sem perder a qualidade de vida”.

Tendência

Os dados definitivos do Censo, para a economista e doutora em desenvolvimento regional, Cintia Agostini, confirmam a tendência de cidades com características mais rurais perderem população. No Vale, das 20 que tiveram queda em 12 anos, a maior parte é dependente do setor primário. Questões como êxodo rural e problemas na sucessão nas propriedades influenciam.

“Nos municípios onde tem geração de emprego e renda, onde tem indústria, a migração é mais forte. As pessoas tendem a se mudar para esses locais. E no Vale, mesmo com essas cidades onde tivemos queda populacional, o crescimento foi muito acima da média estadual. Isso mostra que atraímos pessoas de outras regiões, estados e até de outros países”, pontua.

Ao se mudarem sobretudo para Lajeado, na avaliação de Cintia, as pessoas buscam a qualidade de vida que não encontram em grandes cidades. “Ela tem aqui todos os benefícios de um centro urbano, mas sem os prejuízos, como insegurança e dificuldade de acesso a políticas sociais. Podem trabalhar de forma remota e não enfrentam tantos problemas de mobilidade, por exemplo”.

Dificuldades na coleta

Finalizar a coleta do Censo não foi uma tarefa fácil para o IBGE. Na região de Lajeado, por exemplo, das 270 vagas para recenseador, apenas 150 foram preenchidas, segundo o coordenador regional do instituto, Paulo Hamester. Esse déficit, somado às recusas das pessoas em responder a pesquisa, dificultaram o trabalho de campo.

Lembra que, se avaliar o calendário inicial, o Censo durou três vezes mais do que o projetado. “Levamos o triplo de tempo para concluir as atividades. Sabíamos das dificuldades, mas não imaginei que seria tanto. A falta de pessoal certamente pesou bastante, assim como chegar nas casas. A população foi menos receptiva do que em coletas anteriores, sobretudo em Lajeado”, frisa.

Apesar dos problemas, o índice de resposta na região fechou em 98% – o mínimo permitido era 95% – o que é um fator positivo, para Hamester. O próximo passo é a divulgação detalhada do estudo, com informações sobre população urbana e rural, faixa etária, renda média e gênero.

Na Justiça

Enquanto algumas cidades comemoram o acréscimo populacional, outras não se conformam com o resultado divulgado pelo IBGE. Venâncio Aires, por exemplo, ficou com uma população – 68,6 mil habitantes – aquém do esperado, sobretudo pelo trabalho de busca ativa feito nos últimos meses, de pessoas que não haviam sido recenseadas.

Conforme a procuradora jurídica do município, Gisele Spies Chitolina, foram localizadas 2,5 mil pessoas nesta força-tarefa. No entanto, o IBGE não as considerou para os dados definitivos. “Não tem como dar credibilidade a este Censo. É por isso que vamos contestar esses números em todas as instâncias possíveis”, afirma.

A maior queixa de Venâncio Aires é com a queda nas receitas oriundas do Fundo de Participação dos Municípios (FPM). A cidade ficou com índice de 2,4, abaixo dos 2,6 alcançados anteriormente. Isso representa, conforme Gisele, uma queda de R$ 4,5 milhões anuais na arrecadação.

Os dois lados

Raquel Zambiasi é uma entre tantas pessoas que chegou a Lajeado na última década. Desde 2016 na cidade, ela sempre morou em Coqueiro Baixo, onde nasceu. Mas, após começar a estudar na Univates, recebeu proposta de estágio no Executivo e se mudou para finalizar a graduação.

“A ideia inicial era estudar em Porto Alegre, onde minha irmã residia na época. Mas, durante o ensino médio, percebemos que Lajeado, além de ser mais perto, seria uma ótima escolha pela questão de acessibilidade e alcance”, relata

Por outro lado, há indivíduos que procuraram a tranquilidade de municípios menores. Marcilene Teixeira Bonfilio já morou em São Paulo e Porto Alegre. Mas, desde 2019, reside em Coqueiro Baixo, cidade menos populosa da região e uma das menores do país.

“Conhecemos Coqueiro Baixo durante uma viagem de carro. Quando meu marido se aposentou, resolvemos que era hora de se mudar, detalha. Marcilene acrescenta que escolheu o local também pela oportunidade de conhecer melhor as pessoas e ter um melhor acesso à saúde e educação. Hoje, afirma que a cidade superou suas expectativas.


O Censo, os atrasos e as polêmicas

2020
Em meio à pandemia de covid-19, o IBGE optou por cancelar a coleta de dados do Censo, que estava previsto para aquele ano. O órgão seguiu orientações do Ministério da Saúde;

2021
Novamente o Censo é cancelado. Desta vez, a alegação foi a falta de verba no orçamento da União. A medida gerou críticas internas e também de especialistas pelo “apagão estatístico” que isso causaria;

2022
Tem início a coleta de dados em agosto. O levantamento deveria ter sido encerrado em outubro, mas uma série de dificuldades, como a recusa dos domicílios em receber agentes e a escassez de recenseadores levaram ao IBGE finalizar o trabalho de campo só em 2023;

2023
Após a divulgação preliminar dos dados do Censo, municípios como Venâncio Aires ingressaram na Justiça para reverter a perda de recursos do Fundo de Participação dos Municípios (FPM) devido à redução populacional e queda no índice.

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