Minha filha Beatriz vai fazer cinco anos. Se tem uma coisa que ela puxou pelo pai foi não gostar de acordar cedo. Eu acordo e tudo bem. Mas não é porque gosto, é porque preciso. A Bia é igual. Sempre chegamos atrasados na escola porque, pra sair da cama, ela chora, reclama, cria um drama (sim, ela é dramática), não quer colocar a roupa que eu ofereço… no início eu cheguei a pensar que fosse dificuldade na adaptação à escola. Mas depois percebi que é porque não gosta de acordar cedo mesmo. Cada dia ela aparece com um novo drama. O de ontem foi: “pai, por que tu faz isso comigo?”. Respirei fundo.
Mas existe algo mágico que acontece com a Bia toda vez que está agendado na escola algo que ela adora: festa! Se houver São João, aniversário, dia das crianças, passeio, qualquer coisa comemorável, ela acorda antes que eu e, como por magia, salta na cama como se fosse um “pula pula” e se transforma em uma criança que adora acordar alegremente cedo.
Depois de um dia desses, em que tudo deu certo, fico pensando: o que uma dose de motivação pode fazer com uma pessoa? Se faz isso com uma criança, poderia fazer também com as minhas atletas? Como trabalho com jovens atletas em formação, ter a resposta para estas perguntas pode mudar tudo.
Sei que a motivação não é algo somente extrínseco, que vem de fora e torna-se motivo. Isso faz parte e um prêmio até pode ajudar, mas momentaneamente e com prazo de validade definido. Aquilo que move de verdade, na essência, é intrínseco, vem de dentro, tem significado e, desta forma, torna-se duradouro.
No caso do atleta, valorizar o processo, o trabalho duro, perceber-se evoluindo, ser desafiado e superar-se, olhar ao redor e ver nos olhos dos companheiros de time que estão juntos nessa, sentir-se fazendo parte de algo inédito. Essas e muitas outras coisas inerentes ao esporte são o que motivam de verdade e fazem com que a vontade de seguir em frente perdure, mesmo com as adversidades.
A motivação não é uma dose tomada, como algo externo que se ingere, mas sim, um sentimento despertado, é algo interno que acorda. No caso da minha filha, ela ainda perceberá que não é a festa em si, mas sim, os momentos felizes que ela compartilha com as amigas. Amigas estas, como ela mesmo chama (do alto da sua maturidade de cinco anos): “minhas bests”.