Democracia em tempos de cólera

Opinião

Marcos Frank

Marcos Frank

Médico neurocirurgião

Colunista

Democracia em tempos de cólera

Logo depois de ter um papel primordial no final da segunda guerra mundial e ajudar a eliminar o fantasma do nazismo, Winston Churchill afirmou: “Ninguém pretende que a democracia seja perfeita ou sem defeito. Tem-se dito que a democracia é a pior forma de governo, salvo todas as demais formas que têm sido experimentadas de tempos em tempos.”

Esse pensamento ajudou a estabelecer as sociais democracias na Europa Ocidental. Mas Inglaterra, França e Estados Unidos não ganharam a guerra sozinhos e sabiam que teriam de lidar com o totalitarismo da União Soviética, e era para ela o recado de Churchill. O líder soviético Josef Stalin, no entanto, tinha uma visão bem diferente da democracia: “Quem vota não decide nada. Quem conta o voto decide tudo.” A frase é cínica, mas foi muito ouvida na ultima eleição brasileira.

A influência e a força soviéticas criaram uma cortina de ferro separando a Europa e suas ideias mudaram a história da China, fazendo com que Mao Tse Tung assumisse o poder em 1949: “Comunismo não é amor, comunismo é um martelo com o qual se golpeia o inimigo”, lembraria o líder chinês.

Mas o tempo passa e levou consigo o muro de Berlim, a União Soviética e o velho Mao. Muitos acharam que levaria embora até o comunismo depois de Gorbachev e sua radical guinada nos rumos da velha URSS: “Estamos no rumo da democracia e na minha visão nós andamos a metade do caminho, na melhor das hipóteses. Precisamos seguir até o fim do caminho.” Mal sabia ele que o futuro traria Putin para a Rússia.

No lado chinês, haveria um gradual afastamento da União Soviética e uma aproximação com o ocidente, especialmente com os americanos. Deng Xiaoping era pragmático, mas tinha ideias bem claras sobre o sistema representativo americano (ou democracias ocidentais): “Os Estados Unidos se gabam de seu sistema político, mas o presidente americano diz uma coisa durante a eleição, outra coisa quando assume o cargo, outra coisa no meio do mandato e outra coisa quando sai.”

O Brasil não passava ileso por todos esses processos. E ao período de eleições livres dos anos 50 se seguiria o fechamento de instituições pelo regime militar. A frase de Castelo Branco não deixava dúvidas sobre os novos tempos: “Forças Armadas não fazem democracia, mas garantem-na.” Mais de duas décadas depois o fim do regime militar ocorreu no mandato de João Figueiredo: “Eu não quero citar nomes, mas há muitos fantasiados de democratas aí que participaram do regime mais ignominioso que eu já vi, o Estado Novo de Vargas, e que hoje posam de democratas, pedem democracia plena (…).”Juro que farei deste país uma democracia.”

Vieram Sarney e Collor para finalmente FHC estabilizar o país com o Plano Real. “Em política, você não tem que contar com quem é a favor e quem é contra. Você tem que transformar quem é contra a favor. Tem que argumentar.” FHC era bom de gogó, mas nos legou a desgraça da reeleição. Mesmo assim entregou um país estável a Lula, que se enrolou em seu governo na forma de convencimento de quem era contra seu governo com o famigerado mensalão.

Vieram Dilma e Bolsonaro que fez até juramento: “Faço de vocês minhas testemunhas de que esse governo será um defensor da Constituição, da democracia e da liberdade. Isso é uma promessa, não de um partido, não é a palavra vã de um homem, é um juramento a Deus.”

Apesar dos percalços, a promessa de passar adiante o governo se concretizou, pois Bolsonaro perdeu a eleição para Lula que se elegeu prometendo: “A partir de 1º de janeiro de 2023, vou governar para 215 milhões de brasileiros e brasileiras, e não apenas para aqueles que votaram em mim. Não existem dois Brasis, somos um único país, um único povo, uma grande nação”.
Ainda há tempo de cumprir a promessa…

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