Como todos sabem – e esperam com mais ou menos expectativa –, estamos às vésperas de mais um Dia dos Namorados. À nossa volta, surge um mundo de possibilidades de homenagear o amor. Anúncios nos dizem o que fazer, vestir, presentear. Restaurantes lotam, floriculturas esvaziam seus ramos. Só a arte não se esgota na luminescência da mídia, nem os corações de quem ama e/ou espera o amor.
Todo o poeta já cantou o amor. Os clássicos cantaram o amor. Amores desesperados, amores sem amor, dissimulados, sem esperança, cotidianos, amor: a paixão maldita de Édipo e Jocasta, a profanação de Fedra, a impulsividade de Helena e Páris. Sim, os gregos ensinaram muito sobre esse sentimento que avassala, destrói e, claro, nos faz ser gente. Avançando no tempo, ninguém amou mais do que Romeu e Julieta. Ou, talvez, Tristão e Isolda tenham sido a quintessência do caos amoroso. Mas também existe o amor que vira dúvida eterna ou psique, como o bovarismo e o embate da dúvida entre Bentinho e Capitu.
Mas, voltemos ao Dia do Amor, pois esta deveria ser, na minha opinião, a comemoração de 12 de junho. Amores nos afetam. Se namoramos ou não, esse enlace se volta para o sentimento que nos faz navegar em sonhos ou realidades. E, voltando à literatura, vamo-nos ao amor duro do dia a dia, presente, por exemplo, em Vidas secas, com Fabiano e Sinha Vitória, duas pessoas afetadas pela fome e alimentados pela esperança de chegar à terra prometida. Pois esses dois seres broncos se amam profundamente. Não sabem dizer que amam, não sabem pronunciar as palavras certas, não têm flores para oferecer, sequer sabem o que é o jardim das possibilidades. Ainda assim, a ignorância não impede que se olhem com admiração e cuidado.
Olhos d’água, de Conceição Evaristo, está cheio de amor. A mulher da favela, com seus muitos filhos, com suas travessias no trem lotado, com o cansaço de quem volta para um ciclo eterno da miséria, mereceria uma flor em cada dia do ano. Da mesma forma, as tantas mulheres de Amora, de Natalia Polesso, esperam um olhar que celebre a liberdade de escolher a quem amar desbinariamente. Então, esse amor banal tem algo para nos dizer. A falta de holofotes também é amor. O cotidiano é amor.
O dia 12, assim, poderia ser de 1º a 31, como a vida de todo mundo que trabalha o mês todo para poder pagar as contas, chegar em casa, amar filhos, marido ou esposa. Amar é democrático. Embora, em determinados momentos do ano – e a partir do que vemos na mídia – pareça que tudo seja ambiente romântico e compras caras, o amor é irreprimível e chega àqueles que o esperam, mesmo sem saber que o desejam. Amemos, pois. Todos os amores são possíveis. Celebremos o amor real: aquele que faz o nosso coração bater forte e ao ritmo de “bah, estou amando”!