A saudade, palavra amiga quando se perde um grande amor. Revela-se como um sentimento melancólico devido ao afastamento de uma pessoa, uma circunstância ou um lugar, ou à ausência de experiências prazerosas já vividas. Ela repercute de uma forma muito incisiva na vida das pessoas, principalmente quando ocorre perdas de pessoas queridas. Nesse sentido, tal sentimento parece ficar num limbo vazio que nunca mais será preenchido, já que situações de morte jamais trazem a pessoa de volta, mas a transformam para outra dimensão ou plano espiritual. A saudade fica como um arranhão emocional, cuja dor acompanha a pessoa pelo resto de sua vida, na tentativa de burlar essa experiência desagradável.
Faz sete meses que meu pai faleceu, após sete anos de uma doença degenerativa como o Parkinson. Por todo esse tempo vivido com a enfermidade dele, tenho, muitas vezes, a impressão de que meu pai vai entrar pela porta, deitar na cama ou chamar minha mãe através de um assobio característico. Mas nenhuma dessas hipóteses acontece, porque estamos em dimensões distintas, estreitadas apenas pela sutil sensibilidade de quem sente além da matéria. Nesse interim, fica a saudade, que precisa ser alimentada com esperança, mas também com resignação, principalmente como aquela vontade consciente de ter a pessoa de volta, mas que também compreende os ciclos que se fecham para tantos outros se abrirem. A vida é assim.
Da mesma forma, a dor de um amor perdido também é a dor da saudade, daquele parceiro que se foi por inúmeras razões e que não se manteve ligado através da relação. Talvez seja uma dor mais difícil de enfrentar, porque a saudade vem junto de hipóteses negativas como não ser bom o suficiente para o outro, fracasso, frustração.
Portanto, a saudade tem muito a ver com aquilo que se foi, com algo que não pertence mais ao tempo presente, mas sim ao passado. Mais do que isso: a saudade deixa acesa a luz das memórias, sendo quase uma homenagem perene aos que marcaram nossa vida com suas personalidades. E é um exercício de amadurecimento psíquico e autoconhecimento, através dos quais lapidamos o ego, compreendendo que nem sempre temos o controle do que acontece em nossas vidas. Assim, cabe a cada um tornar a saudade um sentimento transformado em força, paciência, tolerância, resignação e gratidão, colocando, no local da dor, flores de bons sentimentos a emanar para a memória de quem passou no mesmo caminho que nós.