Na condição de pai e de profissional da segurança pública, após os ataques a escolas ocorridos em nosso país, senti a necessidade de contribuir para ambientes escolares mais seguros. Aqueles que me seguem nas redes sociais sabem que estou em uma jornada por diversas escolas da região conversando e ajudando a traçar estratégias de segurança naqueles locais.
E nessas andanças, tenho a oportunidade de conversar com pais, alunos e professores, descobrindo novas realidades dos meios escolares, bastante distintas daquelas de quando eu frequentava os bancos do Monsenhor Scalabrini em Encantado na década de oitenta.
E algo que é perceptível a qualquer um é o maciço acesso de crianças e adolescentes a celulares, consequentemente, Internet e redes sociais. Até aí tudo dentro da normalidade do mundo contemporâneo. Mas o que realmente me chama a atenção são inúmeros relatos de pais que não têm noção alguma do que seus filhos fazem na Internet. A quantidade de alunos, muitas vezes crianças, que declaram, com grande naturalidade, que seus pais sequer sabem a senha de acesso ao seu celular é espantosa.
Compreendo e sei do desafio que é criar filhos dentro de um ambiente seguro e de mutua confiança no qual eles possam cultivar sua esfera de privacidade, mas também sei do meu papel de pai e não posso me furtar a ter uma mínima noção daquilo que meus filhos fazem na rede. Antes do mundo virtual existir, meus pais sabiam por onde eu andava e com quem e, algumas vezes, me alertavam e até proibiam de andar com “os maus elementos”.
Mas hoje “os maus elementos” já não estão só nas ruas, estão dentro do celular, nas redes sociais, na “deep web”, e não estão apenas interessados em matar aula ou tocar a campainha do vizinho e sair correndo, mas estão difundindo pornografia, aliciando crianças e orquestrando ataques terroristas.
Muitos pais cobram ações das escolas na segurança de seus filhos, eu vi e vejo isso. Querem guardas armados, muros, grades, câmeras e todo o aparato possível para se sentirem um pouco mais seguros. Esse tipo de anseio é natural, compreensível e legítimo. Mas também temos de pensar e reconhecer qual é o nosso papel como pais para que nossos filhos possam, de fato, terem mais segurança! E como esse meio virtual é o que dita a tônica dessa geração, temos de pensar em como podemos preservar nossos filhos.
Os pais sempre têm preocupações com seus filhos, tenham eles a idade que tenham. Os meus até hoje se preocupam comigo quando saio em operações policiais. Mas penso que enquanto os filhos ainda estão sob o nosso teto, não podem ser simples hospedes com sua privacidade inabalada. Temos sim de saber por onde eles andam, o que estão fazendo e com quem, seja no mundão aí fora ou no virtual.
Sempre acreditei em verdade e confiança com meus filhos e jamais vou quebrar esse pacto com eles. Por isso eles têm de saber que eu terei acesso a muitas das coisas que eles fazem, pelo próprio bem deles, ao mesmo tempo em que vamos construindo uma cumplicidade e a esfera de privacidade deles. É desafiador criar filhos!