Terceiro maior PIB do Vale e a segunda cidade mais populosa da região, Teutônia chega aos 42 anos em condições diferentes das últimas décadas e enfrenta novos desafios. Município que se emancipou em 1981, ainda preserva as tradições da antiga colônia germânica, mas se ergue ao futuro como referência na modernização do agro e com boas perspectivas de desenvolvimento.
Em nível regional, a cidade ocupa a parte de cima das listas sobre indicadores econômicos e demográficos. Nos três levantamentos mais recentes sobre Produto Interno Bruto dos municípios, Teutônia seguiu como a terceira melhor colocada. Conforme estudo divulgado em dezembro de 2022, com base em dados de 2020, a cidade gerou R$ 1,7 bilhão em riquezas.
O presidente da Câmara de Indústria, Comércio e Serviços (CIC-Teutônia), Renato Scheffler, atribui as virtudes do município às características herdadas dos primeiros imigrantes germânicos. Quando os antepassados chegaram à região, encontraram condições muito difíceis e precisaram se unir para construir um ambiente de sobrevivência.
“Não foi pelo individualismo que as coisas melhoraram. Pelo contrário, as pessoas tiveram que trabalhar em conjunto, construir a casa de um hoje, a de outro amanhã, o centro comunitário, a igreja, a escola”, exemplifica. Para Scheffler, essa característica é a base para uma visão empreendedora de trabalhar de forma coletiva em prol do desenvolvimento.
Diversificação
A força do setor primário se evidencia na geração de receita aos cofres públicos. A produção agropecuária é responsável por mais de 40% do retorno de ICMS ao município. Em meio às turbulências no segmento da proteína animal, muitas propriedades já apostam em outras culturas mais rentáveis e abrem novas perspectivas para manutenção das atividades rurais. Apesar do protagonismo do agro, o dinamismo de Teutônia encontra respaldo na diversificação.
Setores calçadista, moveleiro, metalúrgico, de limpeza e higienização, comércio e prestação de serviços compõem uma gama de atividades que se organizam de forma cada vez mais promissora e competitiva.
Entre os desafios para manter o ritmo de desenvolvimento, o presidente da CIC aponta a duas prioridades. A primeira diz respeito à qualificação de mão de obra para suprir as necessidades das empresas com potencial de expansão. Embora haja um processo já em andamento por meio das instituições locais, o crescimento dos negócios demanda mais trabalhadores habilitados.
Outro gargalo está na mobilidade urbana. À medida que a cidade se desenvolve, aumentam as dificuldades no trânsito interno e no escoamento da produção. Conforme Scheffler, há articulações para solucionar os entraves, e volta a ganhar força um antigo debate sobre a construção de um rodo-anel, de modo a deslocar os veículos pesados das vias urbanas.
Novos imigrantes
Em termos demográficos, os dados preliminares do novo Censo indicam que a cidade se aproxima dos 32,9 mil habitantes, de modo a superar a cidade-mãe, Estrela (32,3 mil pessoas). Ao longo da última década, Teutônia desponta entre os três municípios do Vale com o maior crescimento proporcional (20%), atrás apenas de Lajeado e Santa Clara do Sul.
Se por um lado o boom populacional é indicativo do momento favorável, de oportunidades que atraem novos moradores, também significa maior exigência para os serviços públicos. De acordo com o prefeito Celso Forneck, é preocupação central do governo garantir atendimento às necessidades básicas, tanto da comunidade local, como dos novos moradores.
Por ser uma das principais economias do Vale, muitos imigrantes buscam em Teutônia melhores condições de vida, entende o chefe do Executivo. “Temos que olhar para eles sem deixar para trás todo o histórico de quem construiu o nosso município”, defende. Para ele, as prioridades para dar suporte a esse crescimento perpassam as áreas da saúde, educação, mobilidade e assistência social.
Serviços básicos
Na saúde, o prefeito avalia que há dificuldades em nível estadual quanto à superlotação dos postos e estruturas hospitalares. Como forma de ampliar a capacidade de atendimento, o município anunciou ontem a contratação de mais um médico para atuar aos sábados à tarde, no Centro Avançado de Saúde, no Bairro Canabarro, a partir de junho.
Nesse setor ainda há o esforço para reduzir filas por procedimentos. “Como o Estado não consegue atender as demandas de exames e cirurgias, está em estudo o investimento de recursos livres do município nesses procedimentos”, antecipa. Demanda crescente também está na rede pública de ensino. Conforme Forneck, o município trabalha na ampliação constante do número de vagas nas escolas de Educação Infantil e Ensino Fundamental.
Outra frente para dar conta do acolhimento aos novos moradores consiste no monitoramento por parte da Assistência Social. A estratégia é identificar as famílias que chegam ao município com poucas condições de vida digna e precisam de suporte do poder público. Nesse sentido há programas para um “acolhimento humanizado”.
Infraestrutura e saneamento
Para qualificar a mobilidade urbana, uma das apostas da administração municipal é o projeto em tramitação na câmara de vereadores que solicita autorização para financiamento de R$ 15 milhões, junto à Caixa Econômica Federal. O objetivo é usar o montante para recuperação de ruas da área urbana e em estradas do interior.
Em parceria com a Associação da Água, está em formulação um projeto para atingir as metas propostas pelo Marco Regulatório do Saneamento Básico até 2033. Conforme promessa de campanha, o prefeito garante que o governo e a entidade estão comprometidos em fazer avançar o projeto, especialmente no que diz respeito ao tratamento de esgotos.
Berço cooperativista
A pujança de Teutônia está ligada às condições de seu surgimento, no início da década de 1980. Conforme o presidente da Sicredi Ouro Branco, Neori Abel, no ano da emancipação, as cooperativas Certel e Languiru já estavam bastante consolidadas, com mais de duas décadas de atuação. Isso proporcionou boas condições para o desenvolvimento rápido da cidade.
“Teutônia já nasce sob o modelo cooperativista. E quando surge o município, em 1981, nasce uma terceira cooperativa, a Sicredi”, relembra. Na visão de Abel, as três organizações formaram “um tripé muito interessante”, ao articular os ramos de infraestrutura, da produção e do crédito. “Isso impulsiona o crescimento de uma forma muito intensa, que inclusive dá condições para o surgimento do ‘município-filho’: Westfália”, complementa.
Ao longo das décadas, outras organizações se multiplicaram baseadas no modelo associativista e cooperativista, nos mais variados segmentos. Conforme o presidente da Sicredi Ouro Branco, trata-se de uma característica genuína da comunidade local. “Temos um terreno muito fértil para o avanço desse modelo, pois ele é moderno e inclusivo, e vai continuar sendo um pilar para o desenvolvimento econômico e social”, enfatiza.
Para o presidente da Certel, Erineo Hennemann, Teutônia tem no cooperativismo uma de suas principais bases de sustentabilidade. “É um local que se diferencia por sua gente educada e trabalhadora, que busca diariamente alcançar seus objetivos e uma melhor qualidade de vida”, comenta. De acordo com Hennemann, a cidade tem na Certel uma importante parceira para o seu crescimento. “Investimentos em infraestrutura energética serão sempre prioridade para a cooperativa, para que uma energia de qualidade e cada vez mais confiável possa ser oferecida aos seus associados”, expressa.