O legado que Hugo Peretti deixou para o Vale do Taquari permanece vivo mesmo após duas décadas da sua morte. O conhecido fotógrafo faleceu em 16 de maio de 2003, aos 85 anos, e deixou para a região registros históricos do povo e da cultura.
Neste ano, o antigo Estúdio Peretti completaria 90 anos. Para honrar esse momento, o historiador Airto Gomes, de Encantado, escreveu a biografia de Hugo Peretti. Com pouco mais de 350 fotos, o livro “A Memória em Fotografia” conta a trajetória pessoal e mostra o desenvolvimento da cidade por meio das lentes do fotógrafo.
As páginas são repletas de imagens históricas. Gomes retirou as fotografias de negativos em vidro e fitas analógicas, que ainda estavam guardadas no antigo Estúdio Peretti.
No livro, além da biografia, o historiador também colocou depoimentos de conhecidos de Peretti. “Transcrevi até um soneto que o próprio Hugo escreveu sobre ele mesmo”. O livro está pronto, mas ainda não foi publicado. Está em avaliação pela Lei de Incentivo à Cultura (LIC).
Conforme o autor, o projeto nasceu há mais de dois anos. O neto de Hugo, Marcelo Peretti, foi quem propôs a ideia, era ele quem seguia com o antigo estúdio da família. Também fotógrafo e muito querido pela comunidade, Marcelo faleceu em junho do ano passado, vítima de infarto.
Viúva de Marcelo, Lizeli Bergamaschi conta como o marido sempre se preocupou em preservar a história do avô. “Todo mundo em Encantado tem uma foto tirada pelo Hugo ou pelo Marcelo. Eles sempre tinham um sorriso no rosto na hora de conversar com as pessoas, em especial, meu marido”, lembra.
Além da esposa, Marcelo também deixou o pequeno Augusto, de 3 anos. “Quando meu filho for mais velho, vai poder ler e conhecer a história do pai dele, da família dele. Não acho que tenha uma forma melhor de preservar esse legado do que com esse livro”.
Também neto de Hugo Peretti, o médico André Peretti chegou a se aventurar no mundo da fotografia por um tempo. “Quase todo mundo da família trabalhou com o vô, mas foi o Marcelo quem realmente continuou”. Do avô, André lembra de como vivia cercado por amigos, contando histórias e momentos. “É um orgulho saber que essa trajetória vai ser eternizada em um livro”.
História preservada
Hoje, no antigo estúdio da família funciona a sucursal do Grupo A Hora em Encantado. O local é histórico, já que também abrigou, por volta da década de 1930, a casa comercial dos pais de Hugo Peretti. O prédio era outro, mas a localização junto à rua Júlio de Castilhos é a mesma há quase 100 anos.
No andar de cima, muitos registros ainda permanecem guardados em uma antiga sala, anos atrás utilizada para revelar os filmes. Entre os equipamentos e caixas de fotos, o legado quase centenário de Hugo e Marcelo Peretti permanece intacto e preservado.
Além disso, no ano do centenário de Encantado, em 2015, um acervo com mais de 7 mil fotos de Peretti foi entregue ao município. As fotografias contam a história da cidade e das pessoas que viveram em Encantado entre 1933 e 1953. Os registros estão disponíveis para consulta na Casa de Cultura Dr. Pedro José Lahude.
“A fotografia é minha paixão”
Nascido em 1918, Hugo Peretti começou a se aventurar no mundo da fotografia em 1933, aos 15 anos. De uma das famílias mais tradicionais de Encantado, seus pais administravam uma casa comercial. Na década de 1930, o pai de Hugo comprou um material fotográfico e passou a revelar fotos.
Naquela época, o jovem Hugo estudava em Lajeado e, ao retornar para a cidade natal, se deparou com o pequeno estúdio do pai. Ele se encantou pela forma como as fotos surgiam no quarto escuro. Décadas depois, em 2002, pouco antes de falecer, Peretti deu entrevista ao Jornal O Informativo e resumiu sua trajetória. “São quase 70 anos que faço a mesma coisa. E como gosto. A fotografia é minha paixão”.