Pouco menos de vinte anos depois da Máfia do Apito, fato que mudou os rumos do futebol brasileiro em 2005, outro escândalo toma proporções inimagináveis e cai como uma bomba no esporte nacional. A investigação do Ministério Público de Goiás denominada de Operação Penalidade Máxima trouxe na última semana informações sobre o envolvimento de atletas das Séries A e B do Campeonato Brasileiro em um esquema de manipulação em jogos ocorridos no ano passado.
Atletas de clubes tradicionais da elite do futebol foram denunciados e alguns já afastados do campo. O temor é que centenas ou milhares de jogadores ainda possam ser desmascarados e o futebol brasileiro paralisado.
Prática comum
Para atletas que vivem o dia a dia do futebol, a fraude não é novidade. Conforme um jogador aposentado que reside na região e prefere não ser identificado, era comum ver colegas de time serem aliciados por apostadores nos últimos anos em que atuou. “A maioria não dava conversa, eu nunca cheguei a conversar com ninguém, mas isso acontece em todas as categorias de todos os escalões do futebol”, diz.
Atletas com salários milionários da elite aceitaram receber dinheiro em troca de manipulações. No interior, em divisões inferiores, a prática acaba sendo mais fácil. “A grande maioria dos atletas ganha salários ínfimos, não tem estrutura, então se recebem uma proposta dessas, acabam aceitando.”
Outro atleta que prefere não ser identificado por ainda atuar, passou por vários estados do Brasil e viu diversas práticas. “Nunca fui procurado pois quem me conhece sabe que eu não daria essa brecha. É comum até vários atletas do mesmo time aceitarem um pouco de dinheiro em troca de situações simples como escanteios”, diz. Os dois jogadores afirmam que nunca aceitaram dinheiro por manipulação e que não vivenciaram nenhuma situação em clubes da região.
“Atletas precisam ter a dimensão da gravidade”
Ex-atleta e gerente de futebol do Lajeadense entre 2018 e 2021, Thiago Matos é atual diretor financeiro do Sindicato dos Atletas Profissionais do Estado do Rio Grande do Sul (Siapergs), órgão responsável por defender e lutar pelos direitos dos atletas no RS. Para ele, são lamentáveis as denúncias envolvendo atletas profissionais. E elas devem estar só no início. “Era previsível que chegaríamos neste momento, investigações que transparecem na elite do futebol, mas que se tornaram recorrentes em divisões inferiores, principalmente nos campeonatos estaduais.”
Matos enfatiza que o sindicato tem contribuído com as investigações até antes das denúncias virem a público. “Num curto período de tempo fomos chamados diversas vezes pelo setor de investigação da polícia em Porto Alegre. Sempre deixamos claro que espírito e ética esportiva são princípios inegociáveis.
Os manipuladores precisam ser punidos. Os atletas precisam ter a dimensão da gravidade desta prática e compreender os riscos profissionais e esportivos da situação.” Matos lembra que qualquer denúncia sobre aliciamento por parte dos atletas pode ser feita no site www.siapergs.com.br
Lajeadense alerta elenco
As recentes denúncias e a Operação Penalidade Máxima alertaram o Lajeadense. Nessa semana, a direção do Alviazul conversou com o elenco e deixou clara a posição do clube frente a possibilidade de esquemas. Os atletas foram avisados que a tolerância é zero e que não devem dar seguimento a nenhuma conversa suspeita.
Consequências da operação
Nessa sexta-feira, 12, o Superior Tribunal de Justiça Desportiva informou que jogadores condenados no esquema de apostas poderão sofrer punições duras na esfera esportiva. O STJD projeta suspensão de até dois anos, multa de R$ 100 mil e até o banimentos de competições.
O STJD informou também que está investigando e apurando todos os casos deflagrados na Operação Penalidade Máxima, em contato próximo com o Ministério Público de Goiás e a CBF. O tribunal deve começar a tomar decisões na próxima semana sobre os jogadores denunciados pelo MP. Alguns poderão sofrer suspensão provisória de 30 dias.
A CBF, por outro lado, não alega nenhuma hipótese de paralisação de qualquer competição ou anulação de partidas, pois não há indícios de participação dos clubes e das casas de apostas no esquema.
Em sua segunda fase, a Operação Penalidade Máxima denunciou 14 jogadores à Justiça nessa semana. Outros atletas foram apenas citados em documento do MP, sem acusação formal. Alguns atletas já foram afastados dos seus clubes nos últimos dias.