Evento tradicional sobre negócios e conjuntura econômica, o “Tá na Mesa”, ocorre hoje com uma programação voltada ao setor de proteína animal, em especial sobre a cadeia de aves e suínos. Entre os convidados está o presidente Executivo da Dália Alimentos, e integrante do Sindicato das Indústrias de Produtos Suínos do RS, Carlos Alberto Freitas; também o presidente da Associação Gaúcha de Avicultura, José Eduardo dos Santos; e do secretário Estadual de Agricultura, Giovani Feltes.
“O setor de proteínas no mundo vive um momento difícil frente ao aumento nos custos de produção. Porém, no Brasil e, em especial, no nosso estado, o impacto é maior. Aqui, pela perda de renda da população, as agroindústrias não podem repassar esse custo ao consumidor”, avalia o presidente Executivo da Dália, Carlos Alberto Freitas.
Na atividade da cooperativa de Encantado, o segmento com resultados mais desafiadores neste momento é o de aves, diz. O motivo se deve ao pouco valor agregado pelo produto. “Nos suínos, com uma marca forte, reconhecida, é possível avançar nos embutidos. Na Dália, os resultados desse setor são melhores do que nas aves.”
O “Tá na Mesa” é uma realização da Federação de Entidades Empresariais do RS (Federasul), pensado com o propósito de ser um local para debate de ideias, ações, tendências e projetos ligados ao desenvolvimento econômico, político e social.
Fatores do desequilíbrio
A instabilidade provocada pela pandemia, em especial a partir de 2021, resultou em alguns fatos com impacto sobre a cadeia produtiva gaúcha. Confira alguns:
- Perda de poder aquisitivo: a inflação no país, somada ao aumento das taxas de desemprego limitaram a capacidade dos consumidores em absorver preços mais altos pelos alimentos;
- Logística e tributação desfavoráveis: a localização do RS distante dos grandes centros consumidores, aliado a deficiência nos modais de transporte, resultam em perda de competitividade às agroindústrias;
- Custos de produção: os aumentos derivam tanto da alimentação animal, quanto dos insumos agrícolas, energia elétrica e combustíveis;
- Políticas de estoques: a ausência de um plano para garantir parte da produção de milho e soja para atender o mercado interno faz com que as indústrias precisem lidar com a volatilidade dos preços no mercado internacional;
ENTREVISTA – Carlos Alberto Freitas • presidente Executivo da Dália Alimentos
“Custo à indústria segue em alta”
A Hora – O preço do milho e do farelo de soja no mercado mundial começa a reduzir e parece se estabilizar. Isso representa melhores condições às agroindústrias gaúchas?
Carlos Alberto Freitas – Sim. Há uma redução. Mas a população e as autoridades precisam entender. As agroindústrias não compram milho diariamente. Fazem estoque de até três meses. Esse milho mais barato só vai chegar às fábricas de ração em julho ou agosto. O custo à indústria segue em alta.
Na suinocultura, por exemplo, o animal que vai receber esse alimento mais em conta só vai para abate no fim do ano. Quer dizer que só em janeiro a indústria terá um faturamento diante de custos menores. Nas aves, esse ciclo é mais rápido.
– Neste sentido, o governo federal indica a recriação do estoque de milho pela Conab (Companhia Nacional de Abastecimento). Qual sua avaliação sobre essa política?
Freitas – O estoque regulador é extremamente importante, pois impede as explosões de venda e de preço. Se existisse hoje, as agroindústrias poderiam ter estoques menores e comprar com mais frequência. Como não existe, precisam estocar pelo preço que estiver no mercado internacional para não correr o risco de ficar sem. Assim, acontece que o milho cai de preço, mas as empresas estão com estoques caros, tudo isso devido à falta dessa política.