Durante a produção da reportagem deste fim de semana, conversamos muito, eu e as amigas do trabalho, sobre a vida escolar. Lembramos dos colegas que não conseguiam ficar quietos, daqueles que odiavam a hora de dormir na creche, dos que tinham a maior dificuldade do mundo para resolver um cálculo simples. E nos identificamos com eles.
Volta e meia nos dávamos conta que a conversa era mais sobre nós do que sobre os outros. “Ai, gente, coitada da professora”. Em uma turma de 30 crianças ou adolescentes, prestar atenção nas particularidades de cada é tarefa de super-heroína. Como faz para que todos estejam na mesma página sendo que cada um tem o seu ritmo?
Por outro lado, quais sentimentos atravessam aquele que percebe que não tem o mesmo aprendizado que o resto da turma? Da infância e da vida escolar levamos memórias que não se apagam com facilidade. Lembramos dessas vivências até depois de adultos, nos almoços com colegas do trabalho.
E crianças podem ser cruéis. A autoestima da criança que é eleita a menos inteligente da turma é afetada de forma violenta. Acreditar que é incapaz de aprender tanto quanto os colegas é cruel e certamente tem consequências na vida adulta. Investigar os motivos dessas dificuldades é o primeiro passo para encontrar as soluções.
Nessa busca, o diagnóstico de TDAH pode ser um alívio. Pelo menos foi isso o que me disse uma das entrevistadas desta semana. Além do mais, o tratamento normalmente não se estende pela vida toda. Mas, como já diria o psiquiatra Rafael Moreno, o uso de medicamentos está para o TDAH como os óculos estão para a miopia.
Desmistificar o assunto e conversar sobre é uma forma de romper preconceitos. Prestar atenção nas crianças – e não deixar a tarefa toda nos ombros das professoras – é um passo importante para criar adultos saudáveis e cientes de suas competências. Desejo que a reportagem deste fim de semana contribua para o debate.