“Temos que trazer os filhos para as propriedades”

O MEU NEGÓCIO

“Temos que trazer os filhos para as propriedades”

Presidente do STR, Lauro Baum percorre uma trajetória de liderança no meio rural. Entre os desafios da área, destaca a sucessão familiar

“Temos que trazer os filhos para as propriedades”
Desde criança, Lauro Baum participava das atividades rurais na propriedade da família, em Forquetinha. Crédito: Deivid Tirp
Lajeado

Do exemplo da família, surgiu o interesse de Lauro Baum pelo agronegócio. Além de manter a residência centenária em que os avós e os pais trabalharam, em Forquetinha, faz quase 10 anos que atua como presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Lajeado (STR). No campo, ele acredita na potência das pequenas e grandes propriedades e defende a sucessão familiar.

Em entrevista ao Programa O Meu Negócio, da Rádio A Hora 102.9, Baum conta que nasceu em Forquetinha quando a localidade ainda pertencia a Lajeado, e passou a infância na casa que, hoje, abriga a terceira geração da família. Os avós maternos já produziam de 20 a 30 mil garrafas de vinho por ano no porão da residência.

Do outro lado, os avós paternos também eram agricultores e trabalhavam com milho, farinha e arroz. Desde criança, Baum participava das atividades rurais, também com a criação de animais.

A infância também foi em Forquetinha. Ele conta que fez o Ensino Fundamental na antiga Escola Adolfo Hüffner. Depois, frequentou a José Bonifácio, hoje, Colégio Sinodal de Conventos.

“Comecei a estudar aos 6 anos no primeiro ano. Lembro quando minha mãe falou que eu tinha que ir pra escola, aquilo foi um choque. Eu não sabia falar praticamente nada em português e a professora não sabia nenhuma palavra em alemão”, recorda. Mesmo assim, recebeu reconhecimento como melhor da turma nos dois primeiros anos da escola.

Baum também frequentou a faculdade de administração e, em 1º de janeiro de 2007, entrou na diretoria do STR como tesoureiro. Em 2015, assumiu a presidência do sindicato, cargo que ocupa hoje em seu segundo mandato.


ENTREVISTA Lauro Baum • presidente do STR Lajeado

“Nosso negócio é um laboratório de emprego”

Rogério Wink – O que faz com que ainda seja viável a pequena propriedade?

Lauro Baum – Eu vejo que a pequena, média, grande propriedade, elas têm uma coisa em comum: a gestão. A pequena não é viável, será? E sabe como fazer a gestão de uma média ou grande, se não sabe gerir a pequena? Só que aí tem que cuidar o que vai produzir nessa pequena propriedade. Não adianta querer produzir soja em dois, três hectares, aí tem que partir pro fumo. Uma propriedade bem organizada hoje com 300, 400 litros de leite ainda se torna viável. A tecnologia está aí e pode fazer com que duas pessoas produzam 500 litros de leite por dia.

Wink – As novas gerações, como elas aprendem a ser gestoras de uma pequena propriedade?

Baum – Temos que trazer os filhos para as propriedades. Só que hoje se tem oportunidade fora, o pessoal da cidade está chamando. Antes alguns filhos sobravam, não tinha lugar para todos nas propriedades, alguns automaticamente eram obrigados a procurar algo fora. Hoje temos uma certa diminuição de filhos nas famílias e isso faz com que a mão de obra no interior também diminua muito.

Wink – O que faz com que o jovem tenha vontade de permanecer no meio rural?

Baum – O ser humano gosta de socializar, então se tu tem hoje um filho e tem uma estrutura, ele só precisaria dar andamento à propriedade, mas ainda assim ele não fica. Talvez um desses problemas seja a socialização que ele não encontra mais no meio rural. Não é o valor, mas a socialização é o que define onde ele vai trabalhar.

Wink – Você é um líder e o STR sempre teve tradição de exercício de liderança. Onde você aprendeu isso?

Baum – Eu acho que ninguém nasce, bate no peito e vai dizer que é um líder. Claro, tem algumas pessoas mais apropriadas para isso. Eu sempre penso: cuida do que tu faz hoje, isso é o reflexo do que vão falar de ti amanhã.

Wink – Mudou muito o papel do sindicato há 20 anos para nossa realidade atual?

Baum – Qualquer associação, seja num time de futebol, um clube pra jogar cartas, tu tem que enxergar algum benefício, se não, ninguém vai se associar lá. Os sindicatos surgiram pela falta de direitos que os agricultores tinham. Então a mulher não recebia o auxílio à maternidade, aposentadoria não existia. Por causa desse desleixo com essa classe surgiram os movimentos para reivindicar pelo menos o justo.

Wink – Como surgiu a ideia de criar um supermercado?

Baum – Se optou na época por uma outra alternativa de renda. A maior parte dos sindicatos que eu conheço trabalham com fomento, ou seja, adubo, essas coisas que estão ligadas com a propriedade. Mas como tinha essa proximidade com a Associação Rural, hoje Arla Cooperativa, tu abrir o mesmo segmento não ia ficar bem e se optou pelo supermercado porque não deixa de ser um produto de primeira necessidade.

Wink – Como montaram esse time de pessoas do STR?

Baum – A maioria dos funcionários se criou no próprio supermercado. Temos gerentes de filiais hoje que começaram como ponta de caixa. Nosso negócio é um laboratório de emprego. Hoje conseguimos diminuir a rotatividade do negócio porque nós criamos o funcionário lá dentro e o acompanhamos.

Wink – A nossa região é muito forte em proteína animal, sistema integrado, como você enxerga essa potencialidade? Qual a radiografia da região?

Baum – Temos que admitir que desde os anos 70 começou-se a adquirir a integração de forma tímida. Era o pessoal fazendo a ração nas suas propriedades e, hoje, temos um modelo americano de aviário que controla a temperatura, a luminosidade, tudo automatizado. Isso fez com que diminuísse a mão de obra, mas o custo também aumentou. S

ão sistemas que vieram e o objetivo era proporcionar alimento mais barato à população, o que se confirmou. Também conseguimos produzir em escala. Mas eu vejo hoje que se não mexer no sistema, a nossa integração está sendo ameaçada, porque aumentou muito os custos de produção.

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