O bairro Conventos carrega em seu nome o início da história de Lajeado, já que, durante o século XIX, o território que compreendia o município era denominado Fazenda de Conventos. Foi na década de 1850 que as primeiras famílias de imigrantes alemães chegaram à região. Muitas vinham dos Vales do Sinos e Caí, chamadas de velhas colônias, que começavam a ficar sem terras para os colonos.
Naquela época, Antonio Fialho de Vargas era dono do atual território de Lajeado. A exemplo de outras empresas imobiliárias, iniciou a venda de lotes para os imigrantes. O atual bairro Conventos, território afastado do porto de Lajeado, foi então demarcado e dividido para este fim. Registros mostram que as terras de Forquetinha, ao lado de Conventos, estavam sendo medidas em 1857, por Ernst Müzell.
Na introdução do livro “Pioneiros de Conventos” (2018), o historiador Lucildo Ahlert explica que Fialho de Vargas vendeu primeiro os lotes mais longínquos para os imigrantes. Assim, cada família tinha necessidade de abrir estradas e vias de acesso à parte central de Lajeado, para que pudessem comercializar seus produtos e ter acesso a bens manufaturados.
Nesse mesmo livro, o pesquisador Waldemar Richter descreve as 68 primeiras famílias que vieram ao bairro e iniciaram a povoação desses terrenos. A obra é baseada em um mapa estatístico feito por Fialho de Vargas em 1861, sobre a população residente da Fazenda de Conventos.
O travessão de Conventos
Hilda Amália Rockenbach, de 93 anos, foi moradora do bairro a vida inteira e cresceu ouvindo relatos sobre o início da povoação da localidade. Ela conta que, para delimitar os lotes, foram traçados grandes travessões no primitivo território de Lajeado. Eram estradas em linha reta que serviam de limite entre os lotes coloniais.
Um deles iniciava na atual Avenida Amazonas, seguia reto pelas ruas João Goulart, Paulo Emílio Thiesen e continuava na Avenida Pedro Theobaldo Breidenbach, hoje, a principal via de Conventos. Outro travessão era a atual Avenida Benjamin Constant.
Um terceiro traçado ficava na rua Arnoldo Alfredo Scherer, também em Conventos. Entre os três travessões, foram divididos os lotes para os colonos, terras que formam os atuais bairros Conventos, Bom Pastor, Imigrante, Igrejinha, Centenário e Olarias (veja o mapa).
Ao final de um desses travessões, nas proximidades da Avenida Pedro Theobaldo Breidenbach, Fialho de Vargas doou uma pequena área para a construção da capela e do cemitério da comunidade. Existe, hoje, no local, uma lápide que marca a primeira mulher a ser enterrada ali, Mariana Michels Schüssler, em 1866.
O túmulo teria sido feito em frente à primeira capela de madeira construída pelos católicos em Conventos, na década de 1860. Esse terreno até hoje abriga o cemitério da Comunidade de São José dos Conventos.
Uma casa centenária
Perto dali, o imigrante alemão Johann Kaspar Richter construiu a casa mais antiga de Lajeado ainda de pé. Em 1860, nas proximidades desse primeiro cemitério de Conventos, Johann Kaspar edificou uma residência em estilo enxaimel, que servia também como salão de baile.
Hoje, Hilda Rockenbach é quem mora no local. Ela é neta de um dos primeiros professores de Lajeado, Adão Aloísio Rockenbach. Ele veio a Conventos em 1877 e lecionou para as crianças da época. Poucos anos depois, em 1885, o professor comprou a casa de Richter e ampliou a construção. Assim, a casa centenária passou servir de moradia para a família Rockenbach e também de escola para a comunidade.
Hilda nasceu em 1930, alguns anos antes do avô Rockenbach falecer. Das memórias que tem, somadas a muitos relatos contados a ela, Hilda carrega grande admiração pelo professor. “Ele ensinava todos, meninos, meninas, católicos ou evangélicos. Para ele, eram todos alunos”, reforça.
São José dos Conventos
Além dos anos dedicados à educação, a trajetória de Adão Aloísio Rockenbach se confunde com o início da comunidade católica de Conventos. Conforme pesquisa de Pedro Raul Mallmann, no princípio, havia apenas uma pequena capela de madeira, que serviu até 1906, quando a comunidade iniciou a construção de um novo templo religioso, já de alvenaria, também ao lado do cemitério. Ainda hoje, o piso do altar permanece lá, como lembrança da antiga capela.
Pouco metros abaixo, Adão Aloísio doou um terreno para a construção de uma escola, já que, até então, as aulas eram ministradas em sua residência. Esse prédio de alvenaria foi concluído por volta de 1916, quando o antigo professor se aposentou.
Do legado do avô Rockenbach, Hilda destaca o espírito comunitário e a liderança pioneira. Em uma época em que a grande maioria dos moradores de Conventos só falava alemão, o professor Rockenbach foi essencial na comunicação com as autoridades portuguesas.
A pequena escola funcionou até a década de 1960, quando começou a ser construída a atual Emef São José, ao lado da Igreja São José (inaugurada em 1958) e do Esporte Clube Estudiantes. Hoje, este é o principal clube de futebol de Conventos, fundado em 1969. Até a década de 2000, o Estudiantes tinha um rival: o clube Juventude, extinto há cerca de 10 anos.
Bairro Bom Pastor
O processo de ocupação do bairro vizinho foi semelhante ao de Conventos. A localidade foi oficialmente nomeada como bairro em 1997, por meio da lei de número 5.922. Conforme o Dicionário de Lajeado, do historiador José Alfredo Schierholt, o nome é uma homenagem ao Pastor Godwin Erdmann Cremer. Ele foi o líder religioso de Conventos por 37 anos. Natural da Alemanha, o pastor Cremer nasceu em 1894 e veio a Conventos em 1921. O bairro também tem uma rua com o nome do pastor, instituída em 1992. Em 2003, essa foi a primeira via asfaltada no bairro.