A cada semana, as reportagens do caderno nos permitem conhecer coisas novas, ou relembrar assuntos até então esquecidos. Elas nos aproximam de pessoas que, não fosse pelo ofício de reportar, talvez não fôssemos conhecer. E, ainda, nos instiga a vontade de participar “na vida real”, e não apenas como observador, de muitas dessas histórias.
Nesse meio tempo, há também algumas conclusões. Talvez um tanto particulares mas que, a medida em que o tempo passa, fazem cada vez mais sentido. Ao conhecer tanta diversidade e tantas lutas, percebo que muito do que nos estimula a aprender algo novo ou participar de um projeto social, por exemplo, tem a ver com as nossas próprias experiências e com aquilo que nos toca de perto. Caso contrário, aquilo permanece distante.
Nesta edição temos um bom exemplo. Nas páginas 6 e 7, contamos a história de Marindia e Leonardo, mãe e filho que aprenderam a Língua Brasileira de Sinais (Libras) juntos. O filho é surdo e os estudos serviram tanto para a comunicação na própria família, como para conectá-lo ao mundo. Já a mãe escuta perfeitamente bem mas é tocada pela história do filho e, hoje, ajuda também outras pessoas.
Outra reportagem essa semana também me fez pensar sobre isso. Quem já conhece o AFS, uma organização não-governamental que auxilia jovens a fazer um intercâmbio, provavelmente já viajou por meio da instituição, ou recebeu estrangeiros em sua casa. Hoje, as voluntárias do serviço são pessoas que foram impactadas pelo programa, seja em seu próprio intercâmbio ou na viagem de um filho.
Curioso né? Temos a tendência de trazer com a gente apenas aquilo que nos toca de alguma forma. Por já termos sido beneficiados ou por querermos ajudar alguém muito próximo. Mas é muito mais difícil a gente se doar para o desconhecido, mesmo sabendo de todo o bem que poderíamos fazer.
Já imaginou a felicidade do Leonardo se todos nós conseguíssemos nos comunicar com ele em Libras? Ou das oportunidades que estaríamos dando a tantos intercambistas que precisam de uma casa temporária ou têm o sonho de conhecer para além das fronteiras do Brasil?
Não é fácil trocar nossas prioridades para ajudar alguém, eu sei. Mas quando a gente começa, o sentimento não é mais de obrigação, e sim de gratidão. De pouco em pouco, aquilo vai fazendo diferença e a nossa vida passa a ter muito mais sentimento. A gente só precisa ter coragem e empatia para começar.