Todos fomos vítimas

Opinião

Felipe Staub Cano

Felipe Staub Cano

Delegado da DPPA de Lajeado

Todos fomos vítimas

Você acorda pela manhã e leva seu filho de poucos anos de vida para a escolinha infantil, despede-se dele com um beijo na testa e segue a sua vida normalmente. Em dado momento, você recebe uma ligação dizendo que alguém invadiu a escolinha e matou crianças brutalmente com o uso de um machado.

Todos nós que temos filhos, certamente, nos colocamos nessa situação nos últimos dias, sentindo o estômago revirar, um frio percorrer a espinha e um sentimento de desespero tomar conta do corpo. A dor daqueles que, de fato, vivenciaram essa experiência nem de longe se compara ao sentimento de quem apenas imaginou a situação. Mas invariavelmente todos fomos vítimas, todos sofremos junto e todos experimentamos um pouco da sensação de viver um pesadelo acordado.

Tendo o mundo se tornado um grande quintal, no qual todos estamos conectados, invariavelmente passamos a vivenciar situações que até então não faziam parte do nosso cotidiano. Aquilo que víamos apenas pelos noticiários passa a acontecer na esquina de casa. E assim o é com os ataques às escolas vistos em nosso país nos últimos tempos. Ainda que uma situação bastante incipiente, é uma nova realidade para a qual devemos atentar.

Da mesma forma que passamos a ter uma nova postura com relação a incêndios e sua prevenção após a tragédia da Boate Kiss, penso que os ataques em escolas são um marco para a compreensão de uma nova realidade e para a adoção de posturas de prevenção e atuação no caso da eventualidade da ocorrência. As instituições de ensino, muito além da preocupação com a segurança física de suas instalações, hão de desenvolver protocolos de prevenção e atuação, passar a trabalhar com informações de inteligência visando identificar possíveis ameaças, dentre tantas outras medidas para dar conta dessa nova realidade.

E mais, para além de medidas objetivas de enfrentamento, todos nós pais estamos sofrendo e precisamos voltar a nos sentir seguros em mandar nossos filhos à escola. Para isso, o acolhimento dos pais, a sua oitiva e o seu chamamento para dentro da instituição de ensino, para trabalhar junto estratégias de atuação, vão nos ajudar a trazer a sensação de segurança que perdemos.

Quando passamos por uma experiência traumática, passamos por um período de certo temor e sensação de vulnerabilidade, sentimentos próprios desse tipo de evento, mas que precisam ser compreendidos e trabalhados, para que tenhamos condições de seguir uma vida saudável. Ações como a ocorrida em Blumenau na última semana, muito além dos danos físicos, têm o objetivo de causar pânico e terror nas pessoas.

Acredito que temos um significativo desafio pela frente, o qual começa por compreender que, em nada na vida, há o risco zero, mas que posturas sérias podem, sim, reduzir a possibilidade da ocorrência e podem nos fazer sentir seguros. Assim como quando colocamos o cinto de segurança e dirigimos dentro dos limites de velocidade na esperança de que o infortúnio não nos atinja. Como diria lema escoteiro: “sempre alerta”.

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