A primeira vez que ouvi o termo “sociedade alternativa” tinha acabado de entrar na faculdade, em 1985, e ganhei do colega um daqueles livrinhos “O que é”, muito comum naquela época em que não existia Google e, como sabíamos muito pouco de tudo, as coisas precisavam ser explicadas – e os livrinhos funcionavam muito bem para isso.
Depois conheci a canção do Raul Seixas e cheguei a sonhar com esse mundo melhor. “Se eu quero e você quer/Tomar banho de chapéu…/Então vá…/Viva a sociedade alternativa”. Lá se vão quase quarenta anos.
Hoje, apesar da expressão ter sido suplantada por conceitos mais disruptivos, como logística reversa, economia criativa, ecossistema de inovação e outros, sinto que a busca por alternativas continua sendo o melhor caminho para nos aproximarmos de uma vivência mais harmoniosa entre humanos, animais e a natureza como um todo. Inclui-se aí a nossa própria natureza.
Chegamos à terceira década do século 21 e, entre desenvolvimento e calamidades, espreitamos a possibilidade de um conflito mundial montado num jogo de xadrez economicamente perverso e desumano; a barbárie eclode entre jovens desequilibrados que encontram nas redes virtuais estímulos e condições para expressar insanidades; condições análogas ao trabalho escravo ganham a mídia, juntamente com os frangalhos de corporações que ousam levar adiante práticas de desvarios em suas contabilidades, empurrando por água abaixo sua reputação e a segurança financeira de quem confia em pessoas e nas marcas que elas representam.
Sem a pretensão de ser uma Pollyanna, que olha somente o lado bom das coisas e, muito menos, fazer uma ode aos cavaleiros do apocalipse, descritos por São João no Livro das Revelações, gostaria apenas de trazer para o tabuleiro a responsabilidade que temos ao escrevermos, nós também, a história que um dia será contada.
Enquanto cidadãos, empreendedores, gestores públicos e privados, líderes e demais agentes sociais temos espaço e ferramentas para fazer a nossa parte. Empresas e instituições modernas já vêm estabelecendo parâmetros que vão nortear o seu futuro e das pessoas à sua volta – tanto para definir o perfil de quem irá compor seus quadros, quanto para afinar relações comerciais.
Dar foco nos aspectos socioambientais em projetos ou programas, por exemplo, vai permitir que seus objetivos institucionais e comerciais ganhem corpo substancial nas relações com seus públicos de interesse.
Organizações têm papel fundamental na formação de uma mentalidade vencedora, mas também de uma condição igualitária e propositiva entre as pessoas. Para fazer esse mundo melhor, não podemos depositar nossas crenças em governos ou ideologias para construírem essa trilha.
Se trabalharmos com ética e perseverança temos chance de encontrar alternativas aos modelos egoístas e deturpados que muitas vezes aceitamos conviver. Melhor tratar do assunto agora, antes que a nossa sociedade se veja em um xeque mate. Porque aí não tem volta.