Sociedade em xeque

Opinião

Sérgio Sant'Anna

Sérgio Sant'Anna

Publicitário

Assuntos e temas do cotidiano

Sociedade em xeque

A primeira vez que ouvi o termo “sociedade alternativa” tinha acabado de entrar na faculdade, em 1985, e ga­nhei do colega um daqueles livrinhos “O que é”, muito comum naquela época em que não existia Google e, como sabíamos muito pouco de tudo, as coisas precisavam ser explicadas – e os livrinhos funcionavam muito bem para isso.

Depois conheci a canção do Raul Seixas e cheguei a sonhar com esse mundo melhor. “Se eu quero e você quer/Tomar banho de chapéu…/Então vá…/Viva a sociedade alternativa”. Lá se vão quase quarenta anos.

Hoje, apesar da expressão ter sido suplantada por conceitos mais disruptivos, como logística reversa, economia criativa, ecossistema de inovação e outros, sinto que a busca por alterna­tivas continua sendo o melhor caminho para nos aproximarmos de uma vivência mais harmoniosa entre humanos, animais e a natureza como um todo. Inclui-se aí a nossa própria natureza.

Chegamos à terceira década do século 21 e, entre desenvolvi­mento e calamidades, espreitamos a possibilidade de um con­flito mundial montado num jogo de xadrez economicamente perverso e desumano; a bar­bárie eclode entre jovens de­sequilibrados que encontram nas redes virtuais estímulos e condições para expressar insanidades; condições aná­logas ao trabalho escravo ganham a mídia, juntamente com os frangalhos de cor­porações que ousam levar adiante práticas de desvarios em suas contabilidades, em­purrando por água abaixo sua reputação e a segurança financeira de quem confia em pessoas e nas marcas que elas representam.

Sem a pretensão de ser uma Pollyanna, que olha so­mente o lado bom das coisas e, muito menos, fazer uma ode aos cavaleiros do apoca­lipse, descritos por São João no Livro das Revelações, gos­taria apenas de trazer para o tabuleiro a responsabilidade que temos ao escrevermos, nós também, a história que um dia será contada.

Enquanto cidadãos, empreendedores, gestores públicos e privados, líderes e demais agentes sociais temos espaço e ferramentas para fazer a nossa parte. Empresas e instituições modernas já vêm estabelecendo parâmetros que vão nortear o seu futuro e das pessoas à sua volta – tanto para definir o perfil de quem irá compor seus quadros, quanto para afinar relações comerciais.

Dar foco nos aspectos socioambientais em projetos ou pro­gramas, por exemplo, vai permitir que seus objetivos institu­cionais e comerciais ganhem corpo substancial nas relações com seus públicos de interesse.

Organizações têm papel fundamental na formação de uma mentalidade vencedora, mas também de uma condição iguali­tária e propositiva entre as pessoas. Para fazer esse mundo me­lhor, não podemos depositar nossas crenças em governos ou ideologias para construírem essa trilha.

Se trabalharmos com ética e perseverança temos chance de encontrar alternativas aos modelos egoístas e deturpados que muitas vezes aceitamos conviver. Melhor tratar do assunto agora, antes que a nossa so­ciedade se veja em um xeque mate. Porque aí não tem volta.

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