Na correria dos dias, alimentos que ficam prontos o mais rápido possível surgem como opções no cardápio. As refeições ficam em segundo plano e, se falta tempo para preparar os pratos do dia, a prática de exercício físico passa longe de ser prioridade.
As consequências dessa rotina para a saúde são perigosas. O atlas 2023 da Federação Mundial da Obesidade prevê que 51% da população mundial, que corresponde a mais de 4 bilhões de pessoas, serão obesas ou terão sobrepeso nos próximos 12 anos. As taxas aumentam de forma rápida, em especial, entre as crianças e em países de baixa renda, segundo o relatório.
O aumento de peso pode ser atribuído a mudanças sociais e culturais que ocorrem há décadas, conforme explica a professora do curso de Nutrição da Univates, Juliana Bruch Bertani. “As alterações no estilo de vida atual, a partir do consumo de uma dieta de alto valor calórico e baixo gasto energético pela inatividade física, são hábitos que contribuem para o aumento da obesidade no mundo”, reforça.
A professora lembra que o excesso de peso não vem sozinho. Com ele, é frequente o desenvolvimento de diabetes mellitus, hipertensão arterial sistêmica, dislipidemia, riscos de doenças cardiovasculares, entre outras complicações.
Atenção na hora de comer
Os alimentos ultraprocessados contribuem para o problema. Na última década, o consumo de alimentos desse tipo aumentou 5,5% no país, conforme Revista de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP), feito pelo Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde (Nupens/USP). Isso porque, além de suprirem a busca por agilidade, também agradam o paladar.
Esses alimentos são formulações industriais prontas para consumo, feitas com ingredientes obtidos a partir de colheitas de alto rendimento, como açúcares e xaropes, amidos refinados, gorduras, isolados proteicos, além de restos de animais de criação intensiva. Em geral, os ultraprocessados contêm pouco ou nenhum alimento inteiro em sua composição, além de serem fartos em açúcar e gorduras e carentes em fibras e micronutrientes.
Segundo o Guia Alimentar para a População Brasileira, os alimentos in natura ou minimamente processados devem ser a base da alimentação.
Além disso, a atenção às refeições é importante, assim como reservar tempo de qualidade para se alimentar com consciência. “A companhia nas refeições favorece o comer com regularidade e atenção, fazendo com que a escolha da refeição seja mais nutritiva, além de prazerosa”, explica Juliana.
Mudanças para a vida
Adotar hábitos saudáveis é importante e uma rotina que concilie a boa alimentação à prática de exercícios físicos é o ideal. Bruna Ferla Horst, 26, é um exemplo. Ela chegou no consultório da nutricionista em novembro do ano passado com 75,1 kg, sendo 29,7 kg de gordura.
A professora estava com 11 kg acima do peso ideal. O incentivo para começar a cuidar do corpo e da saúde surgiu quando ela percebeu que as roupas que antes eram folgadas, já não serviam mais.
A mudança exigiu não apenas uma nova alimentação, mas uma alteração de rotina. Ela passou a acordar às 4h45 para caminhar antes do trabalho. Nas últimas férias também começou a correr e participar de competições. A corrida se tornou mais do que um esporte e, hoje, é praticada todo fim de tarde.
Antes de se consultar com a nutricionista, Bruna fez o corte de alguns alimentos por conta própria. “Em dois meses eu perdi 5 kg, mas chegou o desânimo, porque era cansativo fazer dieta, então eu queria jogar tudo pro ar”, conta.
O acompanhamento nutricional auxiliou no processo. “Percebi que eu não precisava cortar os alimentos da minha rotina, porque precisava ter energia para os exercícios”, comenta. O progresso é gradativo, mas duradouro e, hoje, Bruna está feliz com o resultado.
A moradora de Lajeado diz que nem sempre é fácil manter os novos hábitos, mas é preciso ter disciplina. “Eu sei que não quero voltar onde eu estava, então preciso ter disciplina, manter o foco e pensar para frente”.
Os 12 kg a menos trouxeram saúde para os dias de Bruna e, ao invés de descontar a ansiedade nos alimentos, passou a correr. “Essa minha nova rotina vem acontecendo no meu tempo e com certeza os resultados não vão passar tão rápido também”.
Com as crianças
A consciência alimentar deve começar cedo e as crianças têm um dos primeiros contatos com ingredientes saudáveis na escola. Em Estrela, a Cozinha Central é a responsável pelos almoços e lanches das escolas do município e Projeto Mais Aprender. Desde 2021, o local também desenvolve uma parceria com o morador da Linha Delfina, João Schmidt.
“Iniciamos uma produção local de verduras e hortaliças, onde as crianças são protagonistas no preparo, plantio e colheita, suprindo o abastecimento para a nossa cozinha com alimento de excelente qualidade”, conta a nutricionista Kátia Barbieri Becker Delwing.
Schmidt é quem faz o plantio das verduras e legumes da cozinha central, junto a uma das instituições de ensino, onde também existe um projeto de horta escolar. O preparo da terra é feito por ele e a professora de ciências faz o plantio e a colheita com os alunos.
“Hoje em dia as crianças estão mais conscientes quanto aos malefícios, a gente encontra crianças de 4 anos falando que açúcar faz mal. Porém a rotina de vida das famílias mudou muito, a maioria dos pais trabalha fora de casa”, destaca a nutricionista. Assim, o alimento processado e ultraprocessado acaba entrando nos lares com mais frequência e facilidade.