Caso Languiru: a ponta do iceberg

Opinião

Ardêmio Heineck

Ardêmio Heineck

Empresário e consultor

Assuntos e temas do cotidiano

Caso Languiru: a ponta do iceberg

Fomos surpreendidos pela grave situação financeira da Cooperativa Languiru que a levou à perda do controle de suas operações de produção de proteína animal (frango, suíno, leite e gado de corte) para grupos estrangeiros, sob pena de insolvência iminente. Acompanhei quando Dirceu Bayer assumiu a cooperativa quebrada, ampliou suas atividades e a levou a faturamento/ano acima de R$ 2 bi.

Difícil opinar sobre a qualidade da gestão da cooperativa pelas informações de que se dispõem. Talvez o problema deveria ter sido desnudado antes, dando tempo a que outras alternativas fossem apreciadas. Mas, será que o presidente não tentou “segurar a barra” e sanear a Languiru por si só quando, na realidade, as soluções não estavam ao seu alcance? Explico.

Ela é a primeira vítima de crise setorial gravíssima para a qual os governos estadual e federal, nossa região, municípios, entidades empresariais e classistas voltaram as costas, teimando em não a reconhecer, quiçá agir para apaziguá-la. As agroindústrias sediadas exclusivamente em território gaúcho, há anos vêm perdendo competitividade em relação às de outros estados, devido à uma série de dificuldades.

Suas principais matérias primas (milho e soja) vêm do centro-oeste do país, unicamente por rodovia, num custo logístico insuportável. A solução seria a ferrovia. Há anos o setor clama por isto, mas nada foi feito, até agora, neste sentido. Acresça-se que, pós pandemia, aquelas matérias primas subiram 100 a 120% e o frete, 80%.

Já a carga tributária daqui é superior à dos estados concorrentes, induzindo as empresas gaúchas a um irreversível processo de desagroindustrialização e nossa economia, à perda de riquezas agregadas. Para piorar, o governo, insensível à situação, com a Edição do Decreto nº 56.117/2021 retira incentivos fiscais, existentes, justamente, para compensar o elevado custo logístico e tributário daqui. São dezenas de milhões de reais a menos no fluxo de caixa de cada dessas empresas.

Por fim, a crise mundial de preços e de demanda, que derivados de frango e de suíno enfrentam há tempo, em parte provocada por compradores internacionais para se estocar a preços médios menores. Necessária a criação de linhas de crédito oficiais, a juros subsidiados, para que nossas industrias possam estocar a produção, enfrentando esta especulação.

A Languiru é apenas a ponta do iceberg. Se nada for feito, a curto prazo, as cadeias produtivas do leite, suíno e frango quebram. E, com elas, dezenas de milhares de famílias de produtores, milhares de fornecedores e de transportadores de insumos e de produtos, todo um comércio caudatário de centenas de municípios. A economia regional e gaúcha vai implodir, pois o agro é o carro-chefe.

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