Lembro bem quando tive a primeira aula sobre mitologia grega na faculdade de Psicologia: tantos personagens, significados, simbologias. Tudo aquilo despertava tanto interesse, que acabei por me identificar com um. Chamou-me muito a atenção a história de Sísifo, cujo mito fala sobre um personagem considerado o mais inteligente e esperto dos mortais.
Entretanto, ele desafiou e enganou os deuses e, por isso, recebeu um castigo terrível: rolar uma grande pedra montanha acima por toda a eternidade. Esse mito traz também a perspectiva de que o ser humano vive sua existência em busca de sua essência, do seu sentido, e encontra um mundo desconexo, ininteligível, guiado por entidades sufocantes como os dogmas e ideologias políticas. Rolar uma pedra sem nunca conseguir colocá-la no topo da montanha me parece muito mais real do que mitológico, porque é o que acontece no mundo atual em que vivemos, com tantos altos e baixos e inconstantes desafios. Nem sempre ter a certeza é a grande questão.
Como punição a Sísifo, Zeus, deus supremo da mitologia grega, o obrigou a rolar uma pedra enorme montanha acima. Mas sempre que ele se aproximava do topo, a pedra rolava para baixo novamente, e ele ficava eternamente preso nesse ciclo. Tal ciclo pode ser compreendido também como o looping emocional de pensamentos do ponto de vista psicológico. São tantos estímulos no mundo contemporâneo que as pessoas acabam por confundir-se nos seus reais objetivos e desejos mais profundos, sem saber se estão validando aquilo que diz respeito a sua verdadeira essência.
No mundo atual, com tantas possibilidades, rolar a pedra morro acima de forma compulsória parece não apenas um castigo, mas a oportunidade de ir além, não importando o resultado em si, mas a trajetória que se faz. É a busca do ser humano, da sua existência para sua essência. Aquilo que faz sentido do que é obrigatório e fugaz. A Síndrome Emocional do Sísifo Moderno está presente em pessoas que preferem o resumo ao livro; que ficam na superfície ou na borda da vida.
Portanto, esse mito relaciona diretamente o caráter vão da nossa existência aos paradoxos fundamentais da condição humana: a contradição entre o desejo obstinado de conhecimento e de vida e o mundo inexplicável e finito. Nem sempre teremos todas as respostas para o que nos acontece, mas teremos a possibilidade de recomeçar quantas vezes forem necessárias como seres humanos que somos, falíveis e em constante evolução.