Políticos são constantemente provocados a dar sua opinião sobre os mais variados assuntos, alguns agradáveis, outros espinhosos. Por vezes, suas frases entram à história como uma antevisão do futuro. Outras como hipocrisia. É celebre, por exemplo, a frase de Churchill ainda no começo dos anos 30 sobre a ascensão do nazismo: “a Alemanha está ficando forte demais: teremos de acabar com ela.”
Na história recente do Brasil, após o fim do governo militar, João Figueiredo (o último general presidente e aquele que promoveu a abertura) disse antes de se retirar para junto de seus cavalos: “Um povo que não sabe nem escovar os dentes não está preparado para votar.”
E não é que logo na primeira eleição direta que tivemos, elegemos Fernando Collor. Tão logo eleito o caçador de marajás prometia: “o meu primeiro ato como presidente será mandar para a cadeia um bocado de corruptos.” Ao fim terminou como bem se sabe.
Lula, o candidato derrotado por Collor foi perguntado em 1993 sobre seus sentimentos por Collor: “não é que eu tenho pena. Como ser humano eu acho que uma pessoa que teve uma oportunidade, como aquele cidadão teve de fazer alguma coisa de bem para o Brasil, um homem que tinha respaldo da grande maioria do povo brasileiro, ou seja. E ao invés de construir um governo, construir uma quadrilha como ele construiu, me dá pena, porque deve haver qualquer sintoma de debilidade no funcionamento do cérebro do Collor.”
Em 12 de dezembro de 1994 o STF absolveu o Collor.
Como o mundo dá estranhas voltas, em maio de 2017 era a vez de Lula enfrentar a Justiça representada por seu agora desafeto Sergio Moro: “Eu quero que eles mostrem R$ 1 numa conta minha fora desse país ou indevida. Não precisa falar que me deu 100 milhão, 500 milhão, 800 milhão… Prove um. Não estou pedindo dois. Um desvio de conduta quando eu era presidente ou depois da presidência”.
Condenado em três instâncias, Lula teve seus processos anulados pelo STF em 2021, concorreu e venceu a eleição, mas ainda não esqueceu de Moro: “De vez em quando ia um procurador, de sábado ou de semana, para visitar, ver se estava tudo bem. Entravam três ou quatro procuradores, e perguntavam ‘tá tudo bem?’ e [eu respondia] ‘não tá tudo bem, só vai estar bem quando eu f… esse Moro’”.
Para azar dos brasileiros o amor ainda não venceu o ódio. Moro continua habitando a mente de Lula sem pagar aluguel, como diria Sri Sri Ravi Shankar.