A cada nova crise econômica tentamos compreender o que aconteceu. Muitas explicações articulam os fatos e nos fazem entender o que ocorreu e concordar, na maioria das vezes e em boa medida, com os resultados e com as ações tomadas.
Assim se deu em 1930. Depois em 2008 e, entre tantos outros exemplos, os anos a partir de 2020. No entanto, antes da crise econômica propriamente dita, não existem fatores que fazem a maioria das pessoas pensar que tais situações possam se desencadear.
Na década de 1920, a população americana vivia o auge de uma década de pujança, consumo, investimentos e crescimento. Em seguida, ocorre a
Depressão de 1930. O mesmo no período que antecedeu a crise de 2008, que, por meio de estímulos econômicos, muitos investimentos e novos consumidores foram inseridos no mercado imobiliário. Naquele momento, a fala de um empresário americano retrata as decisões que foram tomadas.
Dizia ele: “para as regras é melhor não ter regra”. Isto indicava uma crença inequívoca de que tudo daria certo e que o ciclo virtuoso não acabaria. Mas acabou.
Vivemos períodos difíceis até a retomada quase dez anos depois. Novamente vivíamos, até dias atrás, a crença inequívoca da pujança das muitas startups e suas inovações. Um romantismo de que esse seria o ciclo mais virtuoso, que bastava ter uma boa ideia que os recursos estariam disponíveis.
Mais que isso, os empreendedores desses negócios nascentes e de maior risco, preocupados em entregar seus produtos, pouco dedicaram-se a cuidar daquilo que poderia acontecer no sistema financeiro ou nos bancos que sempre os financiaram, com vantagens e regras menos rígidas dos demais indicados como sistêmicos.
Semana passada um banco quebrou em dois dias, outro na sequência e o sistema financeiro, que parecia cumprir o papel de financiador de novos negócios, deu sinais claros que não é assim que o sistema se comporta.
Quando os investimentos são mais atrativos naqueles ativos digamos “tradicionais”, devido ao aumento das taxas de juros determinadas em todos países, esses imediatamente migram e trocam as startups, com boas ideias e muito trabalho, por algo que lhes rende mais. Isso é ruim?
Depende “do lado da mesa que estou”. Digo isso porque qualquer investidor irá colocar seus recursos nos ativos que irão lhe render mais. Investidores avaliam o custo de oportunidade em uma startup, que pode levar anos para haver retorno, ou rendimentos no sistema financeiro de curto prazo, que neste momento tem taxas muito atrativas.
No entanto, se o negócio nascente depende desses recursos que antes estavam disponíveis, esse é um momento inapropriado. Essa curta reflexão (e que por óbvio deixa de lado muitos outros aspectos), nos faz perceber que antes das crises, a tendência é termos uma crença inabalável e romântica de que tudo está ótimo e que vai dar certo.
Após as crises econômicas, nas quais muitos negócios acabam e outros tantos sofrem para se recompor, percebemos que haviam muitos sinais que indicavam que os caminhos são tortuosos, que temos que ter propósito sim. Termos uma visão de futuro e que os riscos fazem parte. Mas que a racionalidade deve estar sempre presente.
Ou seja, sempre haverão ótimos empreendedores, com ideias magníficas que podem se tornar startups rentáveis. No entanto, sempre haverão investidores a tomar uma decisão baseados no custo de oportunidade. A racionalidade econômica de ambos é fundamental, tanto para minimizar os impactos que qualquer crise pode gerar em nossos negócios, quanto para alavancar novos e bons investimentos.