A direção da Languiru apresentou novas etapas do plano de reestruturação na tarde dessa sexta-feira, 17. Além da parceria com a multinacional Lactalis, a cooperativa deve confirmar até a próxima semana a venda dos frigoríficos de aves e suínos para empresa da China. Em reação, os associados defendem a necessidade de assembleia extra para decidir em conjunto.
O encontro teve presença de aproximadamente 200 associados. Um grupo destes se manifestou pelo afastamento da atual diretoria, em especial o presidente Dirceu Bayer. Eles reforçam a necessidade do conselho dar andamento nesse processo, se não for feito, prometem unir forças entre os cooperados.
A reunião acompanhada pela imprensa do lado de fora da sede social dos funcionários da Languiru, em Teutônia, foi uma etapa prévia para a assembleia prevista para o fim do mês. Na ocasião, Dirceu Bayer criticou a divulgação de números sobre a cooperativa. Segundo ele, os valores em aberto com fornecedores, bancos e prestadores de serviços superam R$ 800 milhões e não R$ 1,8 bilhão.
“A Languiru não está quebrada como foi o caso de 2002. Saímos daquele momento muito fortalecidos e crescemos para chegar a um faturamento anual de quase R$ 3 bilhões”, disse aos associados. Bayer voltou a atribuir o atual cenário ao prejuízo acumulado nos últimos dois anos no segmento de aves e suínos. “Foram mais de R$ 400 milhões em perdas nesse período. Não queremos que essa conta cresça ainda mais.”
Entre as medidas já anunciadas reiterou a parceria com a Lactalis no segmento de leite. Conforme detalhou, praticamente toda a produção dos associados será repassada à multinacional. A cooperativa permanecerá com uma pequena parte dessa operação para a produção de derivados.
Segundo o presidente, o acordo foi estabelecido para cinco anos. O acompanhamento técnico será mantido e promete colocar em dia nas próximas semanas o pagamento em atraso aos transportadores.
Venda de frigoríficos para empresa da China
Outra negociação prevista é a venda da operação de aves e suínos. Conforme dito por Bayer aos associados, há uma interlocução com apoio do governo do Estado com investidores da China. Esse movimento deve ser confirmado até terça-feira, 21. “Estamos em conversa com duas empresas, há ainda a possibilidade de permanecermos como sócios com 20% desses negócios”, pontua o presidente da Languiru.
A intenção de sociedade com grupo estrangeiro gerou insatisfação entre os cooperados. Durante as manifestações surgiram questionamentos sobre como ficará a relação com os produtores e eventuais exigências que possam surgir. Muitas das perguntas ficaram sem os devidos esclarecimentos.
Além disso, Bayer destaca a necessidade de arrendar a planta de laticínios. “Não queremos vender ela, é uma forma de garantir renda e assim que houver melhores condições podemos voltar a usar a estrutura.” Sobre as dívidas em bancos, disse ter renegociado a maior parte dos valores. Em alguns casos o ajuste vale por dois meses, com pretensão de estender para quatro anos.
“Queremos decidir os rumos em conjunto”
O produtor rural e associado Vitor Ahlert, de Westfália, expôs a preocupação com os movimentos feitos pela diretoria. Segundo ele, as parcerias propostas e as tratativas deveriam passar por votação. “Para convocar uma assembleia extra precisamos da iniciativa dos conselhos ou 1,3 mil associados assinarem.”
Ahlert considera o cenário preocupante e que requer algumas decisões emergenciais. “A situação foi longe demais. O crédito tomado e os fornecedores atrasados dão muita instabilidade para nós produtores e a cooperativa como um todo.”
A possibilidade de vender parte da cooperativa para um grupo chinês também desagradou o associado Ilvo Salvi, de Estrela. “Não quero ver os chineses assumindo a Languiru. Precisamos renovar a diretoria e dar novos rumos para essa marca que é orgulho da região.”

Bernardo e Henrique Horst, de Imigrante, temem que cooperativa tenha mesmo desfecho da Copavi, que faliu em 1981. Crédito: Felipe Neitzke
Produtor teme reviver falência da Coopave
O cooperativismo perpetua gerações. Henrique Horst, 59, de Imigrante, segue os passos do pai na avicultura e suinocultura. Ele também conta com a sucessão na propriedade por parte do filho Bernardo, 31. Eles terminaram em dezembro de pagar as parcelas do aviário construído há dez anos.
Pai e filho temem que a Languiru tenha o mesmo destino da Coopave em 1981. “Eu acompanhei aquele momento e a aflição de quem era associado quando a cooperativa decretou falência. Não podemos deixar com isso se repita”, reitera Henrique.
Ele também acompanhou o momento difícil da Languiru no início dos anos 2000 e considera a situação atual mais grave e sem perspectivas positivas.
“Foi mais uma reunião sem a devida transparência, muitas perguntas ignoradas e nós associados em risco de ter de pagar essa conta”, desabafa Bernardo.

João Fritsch, de Teutônia, acredita na recuperação da Languiru a partir das parcerias apresentadas. Crédito: Felipe Neitzke
Voto de confiança
Por diversas vezes o presidente da Languiru reforçou o pedido de confiança aos associados para seguir à frente da cooperativa. O produtor rural João Fritsch, de Teutônia, apoia as iniciativas e movimentos da diretoria em busca de novos rumos à marca.
“Os dados apresentados geram otimismo para sair dessa situação. Tenho confiança de que a cooperativa vai superar esse momento e vamos contribuir muito com o desenvolvimento da região por meio do modelo cooperativista”, exalta.