Até quando?

Opinião

Elisabete Barreto Müller

Elisabete Barreto Müller

Professora universitária e delegada aposentada

Até quando?

Como todos sabemos, 8 de março é o Dia Internacional da Mulher. Apesar da divergência histórica sobre como surgiu a ideia da data, ela foi instituída pela ONU na década de setenta. Além de celebrar as muitas conquistas das mulheres, o dia foi pensado devido à necessidade da equidade de gênero.

Assim, as comemorações e manifestações ao redor do mundo estendem-se para todo o mês de março. Ao mesmo tempo em que flores são distribuídas às mulheres nessa época, costumo dizer que nem tudo são flores… A data e o próprio mês simbolizam muito mais um tempo de luta do que de festa.

E isso é tão verdadeiro que, como se fosse uma afronta à emancipação feminina, o mês de março está sendo um show de horrores, onde verificamos notícias sobre violência, misoginia, objetificação dos corpos femininos e uma tentativa de volta ao passado opressor às mulheres, tempo em que viviam sem direitos e sem voz.

Nesse contexto, um tal movimento chamado Red Pill (apropriação distorcida do filme Matrix) apareceu no noticiário a partir das declarações de um de seus seguidores. Trata-se de um grupo de homens que inferioriza as mulheres, despreza suas conquistas, quer vê-las submissas. Uma atriz, diante das absurdas falas machistas, reproduziu-as em tom de humor na mídia e, em resposta, foi ameaçada. Além desse episódio, há outros movimentos discriminatórios nas redes, criados com o intuito de rebaixar as mulheres.

Também tivemos um crime de importunação sexual, ao vivo, em rede nacional, no programa Big Brother, algo muito comentado em todo o país.
O Fórum Brasileiro de Segurança publicou neste mês um relatório de pesquisa, mostrando que 18,6 milhões de mulheres sofreram algum tipo de agressão em 2022. Isso quer dizer que 50.962 sofreram violência diariamente, o equivalente a um estádio lotado todos os dias.

É lamentável que, em pleno século 21, quando deveríamos estar avançando cada vez mais na equidade de gênero, no respeito aos direitos humanos, temos que ainda combater a violência contra a mulher em todas as suas formas e lutar contra o preconceito em todos os lugares.

A frase da escritora Audre Lorde me veio à mente para retratar um pouco do meu sentimento cada vez que me deparo com essas barbaridades: “Não serei livre enquanto alguma mulher for prisioneira, mesmo que as correntes dela sejam diferentes das minhas”. Como nem tudo são flores, em março e nos demais meses, sempre que alguém me pergunta “até quando vais falar em violência contra a mulher?’, respondo: enquanto for preciso.

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