Qual foi a inspiração para escolher a área da saúde como carreira profissional?
Recebi um convite de uma amiga quando trabalhava na antiga Calçados Reifer. Haviam vagas no hospital e naquela época não precisava de curso para auxiliar as irmãs no atendimento. Me inscrevi e fui chamada para cuidar de pacientes. Até então tinha muito medo de pessoas mortas, mas certo dia ao ver um dos internados se recuperar isso mudou minha percepção.
Foi também no início da década de 1990 quando apliquei a primeira vacina. O paciente era cego e a reação positiva dele me estimulou a buscar formação na área. Saí do hospital para casar e morar em Teutônia. Estudei na Univates e voltei para Bom Retiro do Sul. Após experiência de estágio e como CC, em 1999 fui aprovada no concurso e admitida na Sala de Vacinas onde trabalho até hoje.
Como é a rotina na unidade de vacinação em Bom Retiro do Sul desde a pandemia?
Muitas coisas mudaram. Foi preciso reestruturar o espaço, pois não poderia ter aglomeração e ao mesmo tempo a pressão sobre o sistema de saúde era enorme. Passamos a ir duas ou três vezes por semana para buscar doses contra covid na coordenadoria regional e vacinar o maior número de pessoas em menos tempo. Passado esse momento crítico, priorizamos vacinas de rotina no turno da manhã e à tarde segue a imunização contra covid. Vamos ter também suporte em outro bairro. O meu filho Paulo Bello Júnior também cursou Técnico em Enfermagem e após aprovação em processo seletivo vai integrar a equipe.
Você foi uma das seis primeiras pessoas da cidade a receber a dose contra covid em janeiro de 2021. Quais são as lembranças daquele momento?
Estava de férias e voltei para ajudar no cronograma assim que as doses foram liberadas. Não sabia nada sobre a doença e por estar no grupo de risco e prioritário fui uma das primeiras a ser vacinada. Não era algo do qual sentia orgulho, mas sabia que precisava ser forte para enfrentar aquele momento e fazer o máximo para ajudar a salvar vidas. A partir daquele momento trabalhamos de forma intensa, após o expediente, levava os relatórios para preencher em casa. Apesar das perdas, estamos em um momento melhor e precisamos pensar para frente.
O que representa cada vacina aplicada?
É uma satisfação vacinar e proteger as pessoas. Ao mesmo tempo fico triste ao ver muitos deixarem de lado o esquema vacinal dos filhos e criarem falsas narrativas sobre a imunização. Com isso, em muitos países, doenças até então erradicadas voltaram a fazer vítimas. Precisamos retomar campanhas para conscientizar a população sobre a vacina salva.
Qual o sentimento ao ser homenageada pela cidade?
Fiquei muito feliz pela escola de samba Inhandava ter lembrado de mim e outras 39 pessoas do município, além da moção encaminhada pelo governo municipal. Contudo, o motivo dessa homenagem não é o que gostaria que fosse. Preferia ser lembrada por vacinar todas as crianças do município.