Confesso que tenho uma relação complicada com o Dia Internacional da Mulher. Gosto da comunhão entre colegas e amigas, dos abraços e mensagens entre nós. Por outro lado, as homenagens superficiais me incomodam demais.
Que fique claro que não tenho problemas com flores e chocolates, que abraço minha sensibilidade, que gosto de elogios. O problema é que o Dia Internacional da Mulher não é, ou não deveria ser, uma data romântica e comercial. Veja bem, só no RS, no ano passado, foram mais de 100 feminicídios. O Dia da Mulher é sobre isso.
E foi conversando com a delegada Márcia Bernini Colembergue que despertei para uma conclusão óbvia: não precisaríamos falar tanto sobre violência contra mulher se os homens não as agredissem. Dã. Se a culpa não é da vítima, porque falamos tão pouco dos agressores?
Aliás, por que os homens agridem? De onde vem essa raiva?
Talvez porque sentir algo contrário a isso seja “coisa de mulherzinha”. Homens que não choraram e não falam sobre sentimentos, são privados do que nos torna humanos. Cuidar da casa, dos filhos, de compromissos que normalmente são descarregados sobre os ombros das mulheres é apenas o sintoma de algo maior.
E o problema não está somente nos caras “durões”. Há pouco tempo viralizou uma cena do Big Brother Brasil em que um dos participantes diz para a companheira que ela logo levaria “uma cotovelada na boca”. Um cara de fala mansa e serena, que, depois de levar uma bronca do apresentador, parecia uma criança e não um homem responsável pelo que faz e fala.
Tem muito cara bonzinho fazendo atrocidades por aí. E a violência física não é a única dor. Quantas vezes por dia ouvimos frases compactuam com uma estrutura machista, quase sempre revestidas de piadas? Quantas vezes por dia precisamos defender nossa ideia três vezes mais para que seja validada? A lista é grande.
Antes de terminar, mais uma obviedade: é claro que não são terríveis todos os homens do planeta Terra. Mas, se precisar nomear aqueles que buscam romper com o machismo, não teria como falar sobre o problema de fato. E se o chapéu serviu, já sabe. Enfim, deu para entender porque um cartãozinho não dá conta de resolver o problema que denuncia o Dia da Mulher, né?
Boa leitura!