Tenho predileção por discorrer sobre política e economia. Contudo, ao me aperceber da finitude de tudo (em lapsos de tempo curtos), contrapondo a postura de muitos, de como se eternos fossem, me coloco, por vezes, a divagar. Observo as coisas dos locais em que me encontro, tentando imaginar as pessoas que por ali passaram e do seu papel na construção do cotidiano em que nos encontramos.
Das viagens que fiz, fui, profissionalmente, ao Estado Autônomo da Galícia, na Espanha, onde dois locais marcaram esta senda de sentimento. Um, a Catedral do Peregrino, na Capital Santiago de Compostella, construída na Idade Média. Dentre tantas relíquias, dizem, repousam ali os restos mortais do apóstolo Tiago.
Quedei a olhar os enormes blocos de pedra sobrepostos que formam o monumental templo, imaginando quais os segredos da engenharia e da arquitetura que, há tantos séculos e desprovidos de tecnologia, efetivaram aquela construção. Da mesma forma, caminhando no calçamento em frente à ela, os milhões de pessoas que ali transitaram, riram, choraram, conversaram, desde a Idade Média. Enfim, as transformações da humanidade que por ali passaram.
Outro local da Galícia, Lugo, também nos faz viajar pelo tempo. Parado sobre a muralha e os pontilhões construídos na dominação romana, ao me deslocar por ruelas calçadas com blocos de pedra há muitas centenas de anos ali colocados, cercado de resquícios de outros povos dominadores que ali estiveram e dos bravos espanhóis libertadores, tentei imaginar as transformações (cultura, vestuário, hábitos, tecnologias, etc.) provocadas pelos que ali passaram.
E se as pedras falassem, o que diriam?
Pois, elas falam. Assim como as edificações, a paisagem, a natureza, a expressão das pessoas. Tudo nos fala maravilhas e nos transmite ensinamentos. Basta abrirmos o espírito, a alma, o sentimento para os ouvirmos, os internalizarmos e deixá-los nos guiar. O sopro do vento, por exemplo, nos dirá: “o teu tempo é um grão de areia frente à eternidade pela qual me desloco”.
Há dias recebi um texto fantástico de Glória Maria, repórter da Globo que perdemos fazem poucas semanas. Sob o título “Nada é para levar, tudo é para comer aqui…”, no seu escrito ela revela uma espiritualidade que não sabia nela existir, falando, exatamente, daquelas nuances.
Dele, extraio colocações pontuais, tais como: “Aproveite tudo e aprecie toda beleza que o Criador oferece para você.” “Viva! Porque ninguém viverá por você!” “Pois na vida….Nada é para levar, tudo é para se viver aqui.”
Vivamos, pois, com a idéia finita das nossas vidas terrenas e fiquemos tranquilos. Por certo as pedras continuarão a contar, às gerações futuras, dos que por elas passaram, inclusive nós.